DÉCIMA PARTE
A NATUREZA DO CORPO DE JESUS
PERGUNTA:- Havendo duas teorias quanto à natureza do corpo de Jesus, a carnal e a fluídica, podeis dizer-nos algo a esse respeito?
RAMATÍS:- Embora respeitando o sentimento elevado de alguns espíritas que, apoiados na teoria de Roustaing, consideram fluídico o corpo de Jesus, na verdade o nascimento do Mestre obedeceu às leis comuns da genética humana. Seu organismo era realmente físico. Evidentemente, tratava-se de um organismo isento de qualquer distorção patogênica própria ou hereditária, pois descendia da mais pura linhagem biológica das gerações passadas. Constituía magnífica expressão anátomo-fisiológica e o seu sistema nervoso era uma rede hipersensível entre o comando cerebral e os seus órgãos de relação.
PERGUNTA:- Mas não seria razoável que Jesus tivesse um corpo fluídico, considerando-se a sua elevada hierarquia espiritual?
RAMATÍS:- Não contestamos que o seu grau angélico faça jus e possa compor um corpo fluídico ou diáfano, idêntico aos já existentes em mundos superiores de outras constelações; porém o cabal desempenho da missão de Jesus no ambiente do vosso planeta exigia-lhe um corpo igual ao de todos os seus habitantes. Teria de ser um organismo tão compacto e vigoroso quanto o reclamavam os imperativos do meio onde deveria viver.
Aliás, em face da revelação científica agora aceita, de que a matéria é energia condensada não se justificam essas preocupações quanto à natureza fluídica ou material do corpo de Jesus. Ante a sua alta espiritualidade, e isto é o que mais importa, o seu corpo nada significa por ter sido mais ou menos denso, ou seja, composto de energia condensada em maior ou menor dose. Essa contingência de “mais” ou “menos” densidade material não seria favorável nem prejudicial a Jesus, pois o seu sacrifício máximo não decorreu das dores físicas que ele teria de suportar no ato de sua crucificação. O seu holocausto mais acerbo consistiu na sua luta de abaixamento vibratório, no sentido de ajustar-se à matéria densa do mundo inferior, em atrito com as vibrações morais do seu padrão angélico. Semelhante descida foi um calvário de angústias que se prolongaram durante mais de um milênio de vosso calendário. Infelizmente, as limitações de vossa sensibilidade moral ainda não voz permitem avaliar a renúncia espiritual de Jesus, decidindo a abandonar o seu paraíso celestial, para descer aos charcos de um mundo animalizado.
PERGUNTA:- A atribuição de um corpo fluídico a Jesus é porque um corpo físico parece-nos uma vestimenta muito grosseira, tratando-se de uma entidade espiritual de sua categoria?
RAMATÍS:- Há que considerar a natureza do mundo em que Jesus viera atuar. Sabeis que um condor dos Andes, que voa de mil metros de altura, precisa de asas grandes e robustas, que não podem assemelhar-se às da delicada borboleta, que só voa de flor em flor. As asas de cada um de tais seres correspondem ao meio em que os mesmos têm de agir. É também o caso do mergulhador, pois embora dispondo de um corpo perfeito, não pode dispensar o escafandro para descer ao fundo dos mares. Que aconteceria a um fidalgo do vosso ambiente civilizado, indo ao pólo enregelado onde moram os esquimós e lá se apresentasse com uma indumentária de camisa de seda e um terno de linho?
Essa preocupação quanto ao corpo de Jesus resulta de uma análise que se atém a superfícies. Buda foi um inspirado sublime e os milhões de budistas jamais discutiram a natureza física do seu elevado mento. Certamente, a Índia estaria abalada espiritualmente, dividida sob divergência religiosa, se uma parte dos crentes afirmasse que a santidade de Buda exigia um corpo esguio e elegante, enquanto outros achassem natural o corpo obeso e nutrido do grande iluminado.
PERGUNTA:- Quanto à origem dessa concepção a respeito do corpo de Jesus ser fluídico, não terá sido produto de uma intervenção malévola do Espaço, quanto à obra de Roustaing, no sentido de tisnar a beleza dos quatro Evangelhos, ou trata-se de uma concepção do escritor, buscando, com isso, enaltecer a pessoa de Jesus?
RAMATÍS:- Essa concepção é ainda um reflexo dos efeitos seculares adstritos aos dogmas, milagres, mitos e tabus copiados da vida de diversos precursores de Jesus. E então, os exegetas do passado atribuíram a Jesus também uma existência mitológica. São de igual teor a ressurreição e a ascensão do Mestre aos céus em corpo e alma.
A Bíblia, apesar da valiosa revelação que encerra do poder e da glória de Deus, registra acontecimentos do mesmo caráter. Algumas concepções capazes de espantar um ginasiano do século atual, ainda continuam a nutrir polêmicas religiosas entre os homens. Aqui, devotos singelos aceitam são os únicos filhos de Adão e Eva. Caim mata Abel e foge para uma região ignorada; porém, a prole humana de raças diferentes, surge em todos os recantos da Terra, como se brotasse do próprio solo. A humanidade terrena ainda continua responsável pelo Pecado Original, devido à imprudência de Adão e Eva, no Éden, em que um caso particular, de comerem um “fruto proibido“, passou a complicar a vida de todas as gerações futuras.
Mesmo entre os espíritas essa disposição para o dogmatismo religioso ainda não foi eliminada completamente, porque a libertação religiosa pregada por Kardec data apenas de um século e meio. Muitas almas, ingressando no Espiritismo, ainda sentem dificuldade para se ajustarem completamente aos novos ditames espirituais da nova doutrina, pois a influência de quinze séculos de submissão dogmática á teologia sacerdotal de todos os povos, não pode ser dissipada em algumas dezenas de anos. Allan Kardec, o cérebro libertador da escravidão religiosa ainda não foi integralmente compreendido em sua ousadia espiritual, quando enfrentou os dogmas seculares que ainda hipnotizam muitas almas temerosas da Verdade!
PERGUNTA:- Mas conhecemos espíritas cultos e sinceros, muito estimados pelo seu labor incessante em favor da doutrina, que ainda defendem, com intransigência, a tese do Jesus fluídico. Acaso essa convicção os prejudica espiritualmente?
RAMATÍS:- Não há mérito nem demérito em admitir ou recusar tal concepção, pois ante o tribunal da Justiça divina, “a cada um será dado conforme suas obras”, e não segunda a sua crença. A crença sem obras de benefício ao próximo ou renovação íntima espiritual é como a árvore estéril; desvaloriza-se porque não dá frutos! No entanto, muitas criaturas que não admitem os atributos messiânicos de Jesus e o consideram apenas um homem incomum, vivem de maneira tão dignificante a sua existência terrena, que podem ser consideradas à conta dos seus verdadeiros discípulos.
No espaço não existem agrupamentos partidários de um Jesus físico ou fluídico, mas apenas consciências felizes ou infelizes, consoante o seu padrão moral. Se Jesus exigisse um corpo fluídico, semelhante privilégio implicaria na condenação do mecanismo da procriação, mediante a qual Deus proporciona o benefício da vida humana no vosso orbe.
Alei divina da preservação da espécie é um fenômeno tão sublime e digno de respeito como os demais fenômenos ou maravilhas do Universo. O seu aspecto deprimente em face do conceito humano é produto exclusivamente da mentalidade animalesca do próprio homem, que subverte a ordem natural de uma técnica criadora em atos condenáveis de lubricidade.
PERGUNTA:- Reza a tradição evangélica que o corpo de Jesus desapareceu do túmulo, e, conforme a lenda, ascendeu ao Céu depois de ressurgido! Porventura essa ascensão do Mestre Jesus em corpo e alma ao Céu depois de ressurgido! Porventura essa ascensão do Mestre Jesus em corpo e alma ao Céu não é suficiente para provar a tese do corpo fluídico?
RAMATÍS:- Jesus-Espírito, encerrada a sua tarefa sacrificial ante a humanidade, guardou o seu corpo no túmulo, assim como o artista genial, após terminar a execução primorosa de sua obra, recolhe o seu instrumento na “caixa”. Seria o caso de Mozart, Bach ou Chopin, que não mais existem como figuras humanas; no entanto, suas melodias admiráveis ainda falam ao sentimento dos que as escutam com devoção. Que importa, pois, o corpo físico ou “fluídico” de tais gênios da música, se o que está vivo e impressiona é exclusivamente o “espírito” das suas composições? Que importa, também, o acontecido com o corpo de Jesus, quando, afinal, a sua Divina Melodia Evangélica de “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, é o cântico miraculoso que permanece e transforma muitos Herodes em Vicentes de Paula e Saulos em Paulos?
Ante as filigranas musicais de uma sinfonia deslumbrante de emoções superiores, seria bastante irrisório nos ocuparmos em discutir a “qualidade” da madeira do violino ou do piano utilizados pelos concertistas. Em face da Mensagem ou Sinfonia de Amor Cósmico executada pelo sublime Artista Divino, Jesus, também é importuno e até ridículo nos preocuparmos com a natureza do seu corpo!
Depois do sacrifício na cruz, o corpo de Jesus foi transferido, altas horas da noite, por Pedro e José de Arimatéia, para um jazigo de propriedade deste último, devotadíssimo ao Mestre. E assim, evitavam que os sacerdotes instigassem os fanáticos a depredarem o túmulo do Messias, para desprestigiá-lo como Líder Espiritual.
PERGUNTA:- Muitos espiritualistas aceitam a tese do “corpo fluídico”, por considerarem este tipo de organismo mais compatível como grau espiritual do Mestre. E conforme preceitua a Lei, “a cada um será dado segundo as suas obras”, acham que Jesus, sendo um espírito angélico, deve ser merecedor de um corpo mais refinado, ou seja, menos “pesado”.
RAMATÍS:- Sem dúvida, isso é uma reverência louvável; porém, a utilização de um corpo físico era um imperativo fundamental para que Jesus desempenhasse satisfatoriamente a sua missão no ambiente moral e social do vosso mundo, sem discrepar das injunções humanas. Assim como não é possível erguermos pedras com alavancas de papelão, dispusesse somente de um corpo fluídico. Aliás, ele mesmo afirmou que “não viera destruir a Lei, porém cumpri-la”.
Além da atribuição de Legislador Evangélico, Jesus estava incumbido de outras tarefas determinadas pela Ciência Cósmica, algo conhecido dos Devas, no Oriente. Assim como o Espiritismo é a síntese iniciática mais acessível à mente do homem comum, o Evangelho estruturado por Jesus constitui também a súmula mais compreensível da Ciência Cósmica, para a mente do homem terrícola. Quando os adeptos do Espiritismo penetram cada vez mais no seu âmago, surpreendem-se com as revelações que descobrem identificadas com todas as ciências ocultas e os ensinos iniciáticos. Na intimidade do Evangelho, as singelas máximas pregadas por Jesus identificam-se com todas as leis que regem o próprio Cosmo. (Nota do Médium:- Esse assunto Ramatís o explana satisfatoriamente em sua obra “O Evangelho à Luz do Cosmo”, a sair futuramente)
O Messias, além de Legislador Espiritual, foi o mais avançado cientista encarnado na Terra. Rompendo a fronteira cósmica para a salvação do Homem, proporcionou-lhe a aquisição de luz planetária, no sentido da libertação definitiva da vossa humanidade. Essa é a razão por que o Velho e Novo Testamento afirmam: “O Messias é o Salvador dos Homens”.
PERGUNTA:- Alguns espíritas admitem que o nascimento de Jesus deva ter sido diferente do processo comum da genética humana ou sobrenatural, baseados na seguinte passagem consignada no Evangelho de São Mateus (cap. 11, vers. 11), quando ele declara: “Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher não apareceu alguém maior que João, e, no entanto, apontar seu precursor como o maior dos nascidos de mulher, isso induz-nos à dúvida quanto à natureza do seu corpo.
RAMATÍS:- Embora tenha dito que, entre os nascidos de mulher, não apareceu alguém maior do que João Batista, Jesus também era um “nascido de mulher”, pois se a lenda o assegurou “concebido por obra e graça do Espírito Santo”, Maria, sua mãe, era mulher e teve de gerá-lo. A dúvida, portanto, não é quanto a Jesus ter “nascido de mulher”, pois isso realmente se verificou, mas apenas quanto à sua origem paterna. O Mestre Galileu considerou-se abaixo de João Batista e o exaltou, dizendo que “entre os nascidos de mulher, não aparecera outro maior”, por que além de considerá-lo um líder superior, jamais se vangloriou em sua humildade espiritual. Em conseqüência, Jesus somente explicou que “entre os nascidos de mulher”, João Batista era o maior, porque assim ele considerava o seu precursor, embora também fosse um outro nascido de mulher! A humildade é uma característica das almas iluminadas por virtudes superiores, e, Jesus, espírito excelso e humilde, preferiu situar-se abaixo de João Batista e considerar-se apenas um discípulo movido pelo mesmo ideal.
Sem dúvida, a posteridade reconhece que Jesus era superior a João Batista, seu precursor; mas essa conclusão proveio de um conceito alheio e não julgamento em causa própria pelo Mestre Cristão! A sua categoria espiritual jamais o faria vangloriar-se sobre alguém, ou mesmo dar a entender que o seu nascimento diferia dos demais homens. Isso seria humilhar propositadamente o gênero humano e desmentir a natureza sublime do anjo, o qual, na sua ternura e piedade, ante o pecador, para não diminuí-lo, chega a ocultar a sua própria luz!
PERGUNTA:- Diz o Evangelho (S. Lucas, cap. 24, vers. 39-43) que Jesus, logo após sua morte, apareceu a dois discípulos na estrada de Emaús e falou com eles, surgindo, também, entre os apóstolos, quando Tomé lhe tocou as chagas das mãos para eliminar sua dúvida. Semelhantes aparições do Mestre foram fenômenos de materialização ou apenas vidência desses discípulos?
RAMATÍS:- Jesus não viera destruir a Lei; por conseqüência, todos os acontecimentos ocorridos em sua vida são frutos de condições lógicas e naturais. Quando ele apareceu aos discípulos, na estrada de Emaús, ou na reunião dos apóstolos, em que Tomé exigiu-lhe a prova do “toque físico”, isso foi possível graças à presença de médiuns poderosos entre eles, os quais lhe proporcionaram o ectoplasma necessário para a sua materialização. Em ambos os casos, Jesus materializou-se, porque “todos o viram e lhe falaram”. E se assim não fora, só os videntes o teriam identificado e então a dúvida permaneceria entre os apóstolos destituídos da faculdade mediúnica da vidência. Idêntico fato ocorreu no Monte Tabor, quando Elias e Moisés se materializaram em torno do Mestre Jesus, graças à presença desses discípulos e anciãos essênicos, que podiam doas ectoplasma da melhor qualidade para o êxito do fenômeno.