segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O SUBLIME PEREGRINO DÉCIMA OITAVA PARTE


 CONSIDERAÇÕES SOBRE JESUS E A FAMILIA HUMANA 
        
           PERGUNTA:- Alguns escritores afirmam que Jesus, embora fosse de admirável composição moral, também não conseguiu furtar-se ao amor do sexo no mundo aonde viera habitar. Que dizeis?
        RAMATÍS:- Se Jesus houvesse casado e constituído um lar, a humanidade só teria lucrado com isso, pois ele então deixaria mais uma lição imorredoura da verdadeira compostura de um chefe de família. E mesmo que também houvesse alimentado um amor menos platônico, nem por isso menosprezaria a sua vida devotada exclusivamente aos outros. Muitas criaturas solteiras e castas vivem tão repletas de inveja, egoísmo, ciúmes e concentradas exclusivamente em si mesmas, que se tornam inúteis e até indesejáveis ao próximo.
Que desdouro seria para Jesus, se ele se tivesse devotado ao amor que une o homem e a mulher, quando deu toda sua vida em holocausto à redenção espiritual da humanidade? Sem dúvida, a sua rara beleza acendeu violentas paixões nos corações de muitas jovens casadoiras ou mulheres à cata de sensações novas, o que exigiu dele enérgica auto vigilância para não sucumbir às tentações da carne e nem constituir o lar terreno do homem comum.
Aliás, diversas vezes Jesus foi caluniado em suas abençoadas peregrinações, cujos detratores o acusavam de fascinar as viúvas ricas para herdar-lhes os bens materiais e atrair as jovens incautas para fins inconfessáveis. Sob o domínio despótico de Roma, algumas hebréias falseavam os seus deveres conjugais, pois preferiam a fartura do conquistador à pobreza honesta de seus conterrâneos. E os espíritos das trevas, que vigiavam Jesus em todos os seus passos armaram-lhe ciladas as mais sedutoras até entre as patrícias romanas. Mas embora ele tenha evitado formar um lar, jamais condenou ou menosprezou o agrupamento da família, porquanto sempre advertiu quanto à legalidade e ao fundamento da Lei do Senhor, que assim recomendava: “Crescei e multiplicai-vos!”
O sangue humano como vínculo transitório da família terrena, tanto algema aas lamas que se odeiam como une aas que se amam no processo cármico de redenção espiritual. Por isso, Jesus aconselhou o homem a libertar-se da escravidão da carne e estender o seu amor fraterno a todos os seres, além das obrigações inadiáveis no seio do lar. Tendo superado as seduções da vida material, e sentindo-se um realizado no recesso da humanidade terrena, chegoua advertir o seguinte: “aqueles que quisessem segui-lo em busca do reino de Deus, teriam de renunciar aos desejos da vida humana; e, se preciso fosse, até abandonar pai e mãe!” E por isso, acentuou textualmente: “Quem ama o pai e a mãe mais do que a mim, não é digno de mim!”
Jesus recomendava amor e espírito de justiça, induzindo à libertação da família no mundo material acima do egocentrismo de casta, em favor de toda a humanidade. Ele procurou demonstrar, que apesar do vínculo sangüíneo e egoísta da parentela humana, o homem não deve limitar o seu afeto somente às criaturas viventes no ambiente de sua família ou simpatia. Muitas vezes, detrás da figura antipática do vizinho ou de algum estranho desagradável, pode se encontrar justamente um espírito nosso amigo de vidas passadas. No entanto, entre os nossos mais íntimos familiares, às vezes estão encarnados espíritos algozes, que nos torturaram outrora e a Lei Cármica os reuniu para a necessária liberação dos laços de culpa ou do perdão recíproco. (Nota do médium:- Em nosso bairro da Água Verde, em Curitiba, conhecemos uma senhora que implicava odiosamente com um menino da vizinhança, e não lhe dava razão, mesmo quando seu filho agia com flagrante injustiça e desonestidade nas arruaças de infância. Á se previa uma tragédia entre os adultos, quando, freqüentando o nosso trabalho mediúnico, essa mesma senhora, após sentidos queixumes de verberações contra o referido menino detestado, ouviu do guia a severa advertência: “O seu amor materno egoísta está lhe fazendo praticar aas maiores injustiças, pois na existência passada o seu atual filho oi um homem leviano, rico e despudorado, que levou a irmã ao prostíbulo e ao desespero. No entanto, surgiu outro homem digno, bom e piedoso, que não só a retirou do lodo, como ainda lhe deu a segurança desejada do casamento e da paz de espírito. Esse outro homem, a quem minha irmã deve a sua salvação e redenção no passado, é justamente o atual filho do vizinho, tão odiado por si e ali situado por efeito da Lei do seu Carma.
O imenso amor de Jesus pela humanidade é que o afastou do compromisso de constituir um lar. Não foi somente sua elevada qualidade espiritual, o motivo dele conservar-se ligado a todos os homens e desprendido de um afeto exclusivo à família humana; mas sim, a piedade, a ternura e a compreensão do sofrimento de todas as criaturas. Em verdade ele não condenou os direitos da família consangüínea, mas advertiu quanto aos perigos do afeto egocêntrico, que se gera no meio do lar, embotando o sentimento do amor as demais criaturas. Por isso ao recomendar a terapêutica do “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, ele mesmo já havia demonstrado esse amor incondicional, que abrange a Família-humanidade!
Isso era um cunho intrínseco de sua alma, pois aos doze anos de idade já respondia dentro do conceito da família universal. Interrompido no seio de uma reunião, por alguém que lhe diz: “Eis que estão lá fora a tua mãe e teus irmãos que te querem falar”, o menino Jesus surpreende a todos, quando assim responde: - “Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos?“ Em seguida, ergue-se e movendo a mão, num gesto acariciante, que abrange amigos, estranhos, mulheres, velhos, crianças e jovens, conclui a sua própria indagação: - “Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe!”

PERGUNTA:- Mas, Jesus aconselhando o home a abandonar a família e devotar-se a amar os outros ou seja, a humanidade, essa atitude não será uma decorrência, justamente, do fato de ele não ter amado fisicamente e de não haver constituído um lar?
RAMATÍS:- Jesus não constituiu a clássica família humana sem amou fisicamente, porque já era um Espírito liberto do recalques do sexo. Ele não abjurou nem repudiou a parentela humana; apenas evitou os laços de sangue capazes de lhe oprimirem ou limitarem as expansões do seu amor tributado à humanidade inteira.
Assim, as criaturas que o seguissem sob o impulso generoso desse amor incondicional a todos os seres, evidentemente seriam hostilizadas pelos seus próprios familiares, incapacitados para compreenderem tal efusão despida de interesses egoístas. Ante o Mestre Jesus, o casamento não deveria impedir a floração dos sentimentos naturais de cada cônjuge, quanto ao seu proverbial espírito de justiça, tolerância, amor e devotamento ao próximo. O simples fato de duas criaturas unirem seus destinos na formação de um novo lar, não deve ser impedimento destinado a reduzir o amor espiritual ou substituí-lo pelo sentimentalismo egocêntrico do amor consangüíneo. Quando, no futuro, as virtudes superiores da alma dominarem os interesses e o egoísmo humanos, então existirá uma só família, a da humanidade terrena. Os homens terão abandonado o amor egoísta e o consangüíneo, produto da família transitória , para se devotarem definitivamente ao amor de amplitude universal, que consiste em “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
Independente da recomendação de Jesus, quando aconselho o “abandono” de pai e mãe, irmão e irmã, para o seguirem, a verdade é que os membros de cada família humana também não permanecem em definitivo no conjunto doméstico, pois à medida que se desfolha o calendário terrícola, processam-se as separações obrigatórias entre os componentes do mesmo lar.
As crianças, já em tenra idade, precisam ausentar-se para freqüentar a escola; e isso as separa da família durante muitas horas; depois de jovens permanecem longo tempo fora de casa, a fim de obterem o sustento ou conseguirem o diploma acadêmico. Em breve surge o namoro, o noivado, e então se ligam a outras criaturas estranhas ao conjunto da sua família, para segurem novos destinos e conseqüente “abandono” natural entre os dos mesmos laços consangüíneos. Doutra freira, a irascibilidade, avareza, hostilidade, o ciúme, ódio ou egoísmo, chegam a separar os membros da mesma família e a afastá-los em caminhos ou destinos opostos. Filhos, pais, sogros, genros, irmãos e demais parentes, por vezes se incompatibilizam e cortam relações devido a interesses materiais adstritos a heranças, provando a fragilidade do amor de sangue. Paradoxalmente, a família mais unida é justamente aquela cujos membros são tolerantes e amorosos para com todos os seres, pois a bondade e a paciência constituem um traço de união e boa convivência em todos os ambientes. Por conseguinte, os parentes separados por discórdias domésticas mais se uniriam se atendessem ao apelo de Jesus, pois, abandonando o amor exclusivamente ao sangue da família, também desapareceria o amor próprio na fusão de um sentimento universalista.
Jesus não recomendou ao homem o abandono impiedoso de seus familiares, fazendo-os sofrer dificuldades pela sobrevivência cotidiana; porém, advertiu “que não seria digno dele o que amasse mais o pai, a mãe, o irmão e a irmã, do que ao próximo”. Deste modo, o homem precisa renunciar à sua personalidade, ao sentimentalismo, ao amor próprio, à opinião patética da família de sangue, e mesmo opor-se a ela, quando os seus membros o repudiem por esposar idéias e sentimentos crísticos. Foi no campo das idéias e dos sentimentos universalistas que Jesus concentrou sua advertência, ao dizer, “quem amar a mim mais do que à família, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna”, ou seja, amando toda a humanidade, a criatura livra-se das purgações próprias dos contínuos renascimentos das vidas físicas. Então passa a viver apenas nos mundos espirituais superiores, entre as almas afetivas e libertas do conjunto egoísta da família carnal, onde o verdadeiro amor estiola oprimido pelas afeições transitórias do mundo reduzido do lar. Quem ama o próximo como a si mesmo, ama o Cristo; e assim desaparece o amor egoísta de casta, raça e de simpatia ancestral da matéria. Em troca surge o “amor espiritual”, que beneficia todos os membros da mesma parentela, e se exerce acima de quaisquer interesses da vida humana isolada, pois diz respeito à vida integral do Espírito Eterno!

CONSIDERAÇÕES SOBRE JESUS E A FAMILIA HUMANA

         PERGUNTA:- Alguns escritores afirmam que Jesus, embora fosse de admirável composição moral, também não conseguiu furtar-se ao amor do sexo no mundo aonde viera habitar. Que dizeis?
        RAMATÍS:- Se Jesus houvesse casado e constituído um lar, a humanidade só teria lucrado com isso, pois ele então deixaria mais uma lição imorredoura da verdadeira compostura de um chefe de família. E mesmo que também houvesse alimentado um amor menos platônico, nem por isso menosprezaria a sua vida devotada exclusivamente aos outros. Muitas criaturas solteiras e castas vivem tão repletas de inveja, egoísmo, ciúmes e concentradas exclusivamente em si mesmas, que se tornam inúteis e até indesejáveis ao próximo.
Que desdouro seria para Jesus, se ele se tivesse devotado ao amor que une o homem e a mulher, quando deu toda sua vida em holocausto à redenção espiritual da humanidade? Sem dúvida, a sua rara beleza acendeu violentas paixões nos corações de muitas jovens casadoiras ou mulheres à cata de sensações novas, o que exigiu dele enérgica auto vigilância para não sucumbir às tentações da carne e nem constituir o lar terreno do homem comum.
Aliás, diversas vezes Jesus foi caluniado em suas abençoadas peregrinações, cujos detratores o acusavam de fascinar as viúvas ricas para herdar-lhes os bens materiais e atrair as jovens incautas para fins inconfessáveis. Sob o domínio despótico de Roma, algumas hebréias falseavam os seus deveres conjugais, pois preferiam a fartura do conquistador à pobreza honesta de seus conterrâneos. E os espíritos das trevas, que vigiavam Jesus em todos os seus passos armaram-lhe ciladas as mais sedutoras até entre as patrícias romanas. Mas embora ele tenha evitado formar um lar, jamais condenou ou menosprezou o agrupamento da família, porquanto sempre advertiu quanto à legalidade e ao fundamento da Lei do Senhor, que assim recomendava: “Crescei e multiplicai-vos!”
O sangue humano como vínculo transitório da família terrena, tanto algema aas lamas que se odeiam como une aas que se amam no processo cármico de redenção espiritual. Por isso, Jesus aconselhou o homem a libertar-se da escravidão da carne e estender o seu amor fraterno a todos os seres, além das obrigações inadiáveis no seio do lar. Tendo superado as seduções da vida material, e sentindo-se um realizado no recesso da humanidade terrena, chegoua advertir o seguinte: “aqueles que quisessem segui-lo em busca do reino de Deus, teriam de renunciar aos desejos da vida humana; e, se preciso fosse, até abandonar pai e mãe!” E por isso, acentuou textualmente: “Quem ama o pai e a mãe mais do que a mim, não é digno de mim!”
Jesus recomendava amor e espírito de justiça, induzindo à libertação da família no mundo material acima do egocentrismo de casta, em favor de toda a humanidade. Ele procurou demonstrar, que apesar do vínculo sangüíneo e egoísta da parentela humana, o homem não deve limitar o seu afeto somente às criaturas viventes no ambiente de sua família ou simpatia. Muitas vezes, detrás da figura antipática do vizinho ou de algum estranho desagradável, pode se encontrar justamente um espírito nosso amigo de vidas passadas. No entanto, entre os nossos mais íntimos familiares, às vezes estão encarnados espíritos algozes, que nos torturaram outrora e a Lei Cármica os reuniu para a necessária liberação dos laços de culpa ou do perdão recíproco. (Nota do médium:- Em nosso bairro da Água Verde, em Curitiba, conhecemos uma senhora que implicava odiosamente com um menino da vizinhança, e não lhe dava razão, mesmo quando seu filho agia com flagrante injustiça e desonestidade nas arruaças de infância. Á se previa uma tragédia entre os adultos, quando, freqüentando o nosso trabalho mediúnico, essa mesma senhora, após sentidos queixumes de verberações contra o referido menino detestado, ouviu do guia a severa advertência: “O seu amor materno egoísta está lhe fazendo praticar aas maiores injustiças, pois na existência passada o seu atual filho oi um homem leviano, rico e despudorado, que levou a irmã ao prostíbulo e ao desespero. No entanto, surgiu outro homem digno, bom e piedoso, que não só a retirou do lodo, como ainda lhe deu a segurança desejada do casamento e da paz de espírito. Esse outro homem, a quem minha irmã deve a sua salvação e redenção no passado, é justamente o atual filho do vizinho, tão odiado por si e ali situado por efeito da Lei do seu Carma.
O imenso amor de Jesus pela humanidade é que o afastou do compromisso de constituir um lar. Não foi somente sua elevada qualidade espiritual, o motivo dele conservar-se ligado a todos os homens e desprendido de um afeto exclusivo à família humana; mas sim, a piedade, a ternura e a compreensão do sofrimento de todas as criaturas. Em verdade ele não condenou os direitos da família consangüínea, mas advertiu quanto aos perigos do afeto egocêntrico, que se gera no meio do lar, embotando o sentimento do amor as demais criaturas. Por isso ao recomendar a terapêutica do “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, ele mesmo já havia demonstrado esse amor incondicional, que abrange a Família-humanidade!
Isso era um cunho intrínseco de sua alma, pois aos doze anos de idade já respondia dentro do conceito da família universal. Interrompido no seio de uma reunião, por alguém que lhe diz: “Eis que estão lá fora a tua mãe e teus irmãos que te querem falar”, o menino Jesus surpreende a todos, quando assim responde: - “Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos?“ Em seguida, ergue-se e movendo a mão, num gesto acariciante, que abrange amigos, estranhos, mulheres, velhos, crianças e jovens, conclui a sua própria indagação: - “Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe!”

PERGUNTA:- Mas, Jesus aconselhando o home a abandonar a família e devotar-se a amar os outros ou seja, a humanidade, essa atitude não será uma decorrência, justamente, do fato de ele não ter amado fisicamente e de não haver constituído um lar?
RAMATÍS:- Jesus não constituiu a clássica família humana sem amou fisicamente, porque já era um Espírito liberto do recalques do sexo. Ele não abjurou nem repudiou a parentela humana; apenas evitou os laços de sangue capazes de lhe oprimirem ou limitarem as expansões do seu amor tributado à humanidade inteira.
Assim, as criaturas que o seguissem sob o impulso generoso desse amor incondicional a todos os seres, evidentemente seriam hostilizadas pelos seus próprios familiares, incapacitados para compreenderem tal efusão despida de interesses egoístas. Ante o Mestre Jesus, o casamento não deveria impedir a floração dos sentimentos naturais de cada cônjuge, quanto ao seu proverbial espírito de justiça, tolerância, amor e devotamento ao próximo. O simples fato de duas criaturas unirem seus destinos na formação de um novo lar, não deve ser impedimento destinado a reduzir o amor espiritual ou substituí-lo pelo sentimentalismo egocêntrico do amor consangüíneo. Quando, no futuro, as virtudes superiores da alma dominarem os interesses e o egoísmo humanos, então existirá uma só família, a da humanidade terrena. Os homens terão abandonado o amor egoísta e o consangüíneo, produto da família transitória , para se devotarem definitivamente ao amor de amplitude universal, que consiste em “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
Independente da recomendação de Jesus, quando aconselho o “abandono” de pai e mãe, irmão e irmã, para o seguirem, a verdade é que os membros de cada família humana também não permanecem em definitivo no conjunto doméstico, pois à medida que se desfolha o calendário terrícola, processam-se as separações obrigatórias entre os componentes do mesmo lar.
As crianças, já em tenra idade, precisam ausentar-se para freqüentar a escola; e isso as separa da família durante muitas horas; depois de jovens permanecem longo tempo fora de casa, a fim de obterem o sustento ou conseguirem o diploma acadêmico. Em breve surge o namoro, o noivado, e então se ligam a outras criaturas estranhas ao conjunto da sua família, para segurem novos destinos e conseqüente “abandono” natural entre os dos mesmos laços consangüíneos. Doutra freira, a irascibilidade, avareza, hostilidade, o ciúme, ódio ou egoísmo, chegam a separar os membros da mesma família e a afastá-los em caminhos ou destinos opostos. Filhos, pais, sogros, genros, irmãos e demais parentes, por vezes se incompatibilizam e cortam relações devido a interesses materiais adstritos a heranças, provando a fragilidade do amor de sangue. Paradoxalmente, a família mais unida é justamente aquela cujos membros são tolerantes e amorosos para com todos os seres, pois a bondade e a paciência constituem um traço de união e boa convivência em todos os ambientes. Por conseguinte, os parentes separados por discórdias domésticas mais se uniriam se atendessem ao apelo de Jesus, pois, abandonando o amor exclusivamente ao sangue da família, também desapareceria o amor próprio na fusão de um sentimento universalista.
Jesus não recomendou ao homem o abandono impiedoso de seus familiares, fazendo-os sofrer dificuldades pela sobrevivência cotidiana; porém, advertiu “que não seria digno dele o que amasse mais o pai, a mãe, o irmão e a irmã, do que ao próximo”. Deste modo, o homem precisa renunciar à sua personalidade, ao sentimentalismo, ao amor próprio, à opinião patética da família de sangue, e mesmo opor-se a ela, quando os seus membros o repudiem por esposar idéias e sentimentos crísticos. Foi no campo das idéias e dos sentimentos universalistas que Jesus concentrou sua advertência, ao dizer, “quem amar a mim mais do que à família, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna”, ou seja, amando toda a humanidade, a criatura livra-se das purgações próprias dos contínuos renascimentos das vidas físicas. Então passa a viver apenas nos mundos espirituais superiores, entre as almas afetivas e libertas do conjunto egoísta da família carnal, onde o verdadeiro amor estiola oprimido pelas afeições transitórias do mundo reduzido do lar. Quem ama o próximo como a si mesmo, ama o Cristo; e assim desaparece o amor egoísta de casta, raça e de simpatia ancestral da matéria. Em troca surge o “amor espiritual”, que beneficia todos os membros da mesma parentela, e se exerce acima de quaisquer interesses da vida humana isolada, pois diz respeito à vida integral do Espírito Eterno!

O SUBLIME PEREGRINO DÉCIMA SÉTIMA PARTE - 2

   PERGUNTA:- Embora já tenhamos sido notificados de algumas distrações do menino Jesus, gostaríamos de saber quais foram os brinquedos e os folguedos que ele mais preferiu durante sua infância.
        RAMATÍS:- O menino Jesus, como espírito de elevada estirpe sideral, aprendia com extrema facilidade qualquer iniciativa do seu povo, enquanto era o mai exímio oleiro da redondeza, conhecido entre as crianças do seu tempo. Destro no fabricar animais e aves de barro, às vezes devotava-se com tal ânimo e perícia criadora a esse arte infantil, que os produtos saídos de suas mãos arrancavam exclamações de espanto e admiração dos próprios adultos!
        Parecem vivos! – diziam os mais entusiastas, tomados de profundo assombro.
Sob seus dedos ágeis e delicados, o barro amorfo despertava como se lhe fora dado um sopro de vida! Jamais os seus contemporâneos percebiam que ali se achava o anjo exilado na carne sublimando as substâncias do mundo material em figuras de contornos poéticos e atraentes. Os pequeninos comparsas rodeavam Jesus, atentos e espantadiços da rapidez com que ele transformava um punhado de barro argiloso na figura esbelta de uma ave ou animal, que só faltavam falar num movimento impulsivo de vida! Depois, eles corriam céleres, para casa, agitando em suas mãos as figuras confeccionadas por Jesus, que então ria, feliz, como um príncipe dadivoso!
        Naquela época a escultura de barro era inferior, feita às pressas e de caráter exclusivamente comercial, somente de enfeite nos lares mais pobres, porquanto as obras de arte de natureza mais fina provinham do Egito, da Índia e de Tiro, a pedido de romanos e hebreus ricos. As mãos do menino Jesus davam um toque de tal beleza e meiguice nos seus produtos esculturais, o que era fruto de sua inspiração angélica ainda incompreensível, que os artesãos mais primorosos não temiam de colocá-los a par das ourivesarias mais finas e de bom gosto.  Durante o seu trabalho de arte na argila, Jesus mostrava-se sério e compenetrado, os lábios contraídos e um vinco de alta inspiração cruzava-lhe a fronte angélica até o término do seu trabalho. Quando se dava por satisfeito e finalizava sua obra, a sua fisionomia se desafogava e seu rosto abria-se numa expressão da mais infantil alegria!
        No entanto, depois desse labor, jamais ele se ligava à sua obra, nem se preocupava com o seu valor ou posse; o que saía de suaas mãos já não lhe pertencia e o dava facilmente ao primeiro que o pedisse! Menino ainda, já revelava a contextura do Mestre, que mais tarde recomendaria: “Não queirais entesourar para vós tesouros na terra; onde a ferrugem e a traça os consomem; e onde os ladrões os desenterram, e roubam. Mas entesourai para vós tesouros no céu, onde não os consome a ferrugem nem a traça, e onde os ladrões não os desenterram nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, aí está também o teu coração”. (Mateus, cap. VI, VS. 19. 20 e 21).
         Mas ele também se entregava às brincadeiras comuns da época, como o jogo de bolas de pano e de barro, que eram atiradas sobre obstáculos de madeira, derrubando-os; as travessuras com cães, cabritos e cordeiros, ou à construção de diques e lagos artificiais, cujas barcas de pesca ele as construía de gravetos e restos de madeira sobejados da carpintaria de José; e os guarnecia de remos feitos de palitos de cedro. As velas dos barquinhos, enfunadas, traíam a contribuição de Maria, com retalhos de linho e algodão de suas costuras. As frotas de galeras romanas então navegavam nas enseadas de água suja, para gáudio da gurizada sempre atenta às iniciativas e surpresas do menino Jesus, cujo espírito enciclopédico jamais encontrava dificuldades para sair-se bem de suas empreitadas infantis. Eram estradas, pontes, rios, lagos e cascatas; ou portos de carga e descarga, barracas coloridas para caravaneiros, cujos camelos e elefantes de barro descansavam à sombra de palmeiras improvisadas e sob os bosques feitos de barbas de arvoredos. Ainda havia jardins suspensos como os da Babilônia, faróis queimando torcidas de cordas untadas de aceite, à noite, para guiar as galeras retardadas que eram puxadas a barbante pelos fiéis peritos sob as ordens de Jesus menino. Enfim, era um mundo feérico, divertido e contagioso, que reunia a gurizada da redondeza; e os próprios adultos davam uma espiada, quando precisavam arrastar os filhos para o repouso noturno. Muitas vezes, Maria sentia-se dominada por estranhas emoções e as lágrimas escorriam-lhe pelas faces, vendo aquele menino como um reizinho venturoso, um deuzinho criador dirigindo o seu mundo rico de novidades e surpresas. Ele era o centro de atração da criançada buliçosa, que entre gritos de alegria e de espanto, movia-se obediente às diretrizes por ele traçadas e no intuito de preservar os brinquedos até o término dos divertimentos. Eram pequenos vassalos, louros como a espiga do milho novo, ruivos e a cabeça metida num fogaréu; ou escuros como ébano, filhos de etíopes emigrados, sardentos, pálidos e corados; sujos e limpos; confortavelmente vestidos ou esfarrapados, ali se confundiam nos limites do mundo elaborado e movimentado pelo genial menino Jesus! Era um clã de meninos, que, pouco a pouco se integrava nas disposições temperamentais e emotivas dele, pois exigia bom comportamento para o ingresso na sua “maçonaria” infantil. Então, reduzia-se a maldade para com os pássaros e os animais; diminuía-se também a traquinagem maliciosa e destruidora. Jesus inventava sempre coisas novas; do barro argiloso e da areia umedecida, compunha castelos e reis, príncipes e fortalezas, que reproduziam as histórias ouvidas de Maria, à noite, do folclore hebraico. Por isso, os próprios meninos ressentidos retornavam breve e submetiam-se à férrea disciplina de cominar o instinto daninho e os impulsos cruéis para não perderem dádivas tão atraentes.

        PERGUNTA:- Quais eram as disposições emotivas ou o entendimento religioso do menino Jesus para com a Divindade?
        RAMATÍS:- Em geral, todas as crianças hebréias temiam Jeová e bem cedo aprendiam a respeitá-lo e à sua Lei, certos de que ele espiava-lhes as traquinagens habilmente escondido atrás das nuvens. Nos dias tempestuosos, em que aas torrentes de água se despejavam dos céus, aas mães então predicavam aos filhos que Jeová estava zangado com os meninos desobedientes, e por isso atirava setas de fogo e raios incandescentes, partindo árvores e abrasando a Terra! Mas o menino Jesus arregalava os olhos sem qualquer temor, pois não podia admitir qualquer noção de castigo ou de ira por parte do Pai que estava no céu. Desprovido de má intenção e integro espiritualmente, sem ter jamais movido uma funda para ferir um animal feroz, ou inseto venenoso, no seu cérebro pequenino não havia guarida para a idéia severa que os rabis e profetas faziam de Jeová e seus anjos.
        José e Maria então desanimavam ante a infinidade de indagações que surgiam da parte de Jesus, ao tentarem convencê-lo das disposições belicosas de Jeová. Ele não temia o fragor dos trovões nem se assustava com a queda próxima do raio, porque reconhecia em tudo a obra do Senhor, que amava os seus filhos e jamais criara coisas para o sofrimento dos homens. Não podia conceber quaisquer perigos no seio da Vida, porque seu espírito sentia-se eterno e considerava a morte corporal um acontecimento de somenos importância. Sob o espanto dos companheiros e dos próprios adultos, quando a natureza se movia inquieta, o céu se escurecia com as nuvens pejadas de água e eletricidade, Jesus se rejubilava e batia palmas de contente. Inquieto, porém satisfeito, esperava a tempestade arrasadora; mas quando os raios fulminavam arvoredos e desenhavam na tela do céu serpentes de luz ameaçadoras, e a chuva caía forte, rompendo diques e inundando estradas, ninguém conseguia segurar o menino Jesus mais tempo sob o abrigo do lar.Rápido, ele escapulia e se punha longe, fora do alcance dos seus, a pular debaixo da chuva copiosa, cabelos escorridos e grudados nas faces, enquanto, como quem recebe um presente, aparava a linfa do céu na concha das mãos. Saltava, dentro das poças de lama e chapinhava na água, conseguindo, por vezes, atrair algum companheiro mais corajoso, que o acompanhava na sua festa aquática. Outros meninos, detrás das janelas rústicas, olhavam-no rindo do imprevisto do brinquedo, até que os irmãos mais velhos vinham buscá-lo de qualquer modo, mas não resistindo ao contágio das suas risadas gostosas.
        Às vezes sua silhueta recortava-se nítida sob a luz incandescente dos relâmpagos; então erguia os braços e cantarolava alegre, como se quisesse abraçar os relâmpagos e trazê-los em, feixe, para casa! Os coriscos caíam sobre o topo das colinas e lascavam a copa dos arvoredos; às vezes desciam pela encosta empedrada e desapareciam perfurando o solo. Os gritos jubilosos de Jesus confundiam-se com os brados de Tiago e Eleazar, seu tio e irmão, que o chamavam desesperadamente. Embora fosse motivo de crítica por parte dos vizinhos despeitados, era impagável aquele aspecto inusitado do menino Jesus, tão eufórico debaixo da água torrencial, assim como a ave feliz entreabre suas asas gozando a linfa criadora descida dos céus.
        Era um anjo destemeroso, certo de que a Natureza, mesmo enraivecida, não poderia fazer-lhe qualquer mal. Sabia que mediante aquela tempestade ruidosa de trovões e raios ameaçadores, o Espírito Arcangélico da Vida processava a limpeza da atmosfera, recompunha o plasma criador, carbonizava detritos perigosos, sensibilizava o campo magnético do duplo etérico da própria Terra e procedia à higiene fluídica no perispírito dos homens!
        Os seus contemporâneos não podiam comprender o desafogo espiritual do menino Jesus, diante da violência da Natureza pejada de água, raios e trovões, que amainava-lhe o potencial sidéreo atuante no seu cérebro tão frágil. Eram reações emotivas brotadas de uma alegria sã e inofensiva; um estado de espírito de absoluta confiança nos fenômenos grandiosos da própria Vida. Entregava-se à força desabrida da tormenta, buscando a compensação terapêutica psíquica, em que, sob a lei de que os “semelhantes curam os semelhantes”, o magnetismo eletrificado da atmosfera ajustava-lhe a mente superexcitada! O seu riso explodia cristalino na atmosfera densa e lavada pela chuva; até o coro dos batráquios e o pio triste das aves encharcadas pareciam participar do quadro surpreendente, em que ele era o tema fundamental. Indubitavelmente, todas as crianças sentem-se alegres e buscam a água como imperativo gostoso à sua própria natureza humana; no entanto, o menino Jesus exorbitava de toda e qualquer contemporização no caso, pois se entregava incondicionalmente à hostilidade da Natureza enfurecida, vendo nela uma vibrante manifestação da própria vida em sublime oferenda à Divindade!
        No entanto, essa extroversão da infância de Jesus, transformou-se, pouco a pouco, naquela silenciosa dor que o absorveu quando ele, na maturidade, se viu diante da maldade, da hipocrisia e do egoísmo humanos. Os pecados e os sofrimentos da humanidade pesavam-lhe no ombro e roubavam-lhe a alegria, porque sendo Jesus o mais sensível e amoroso dos homens, era quem mais sofria diante do seus irmãos desgraçados e sem esperanças!

O SUBLIME PEREGRINO DÉCIMA SÉTIMA PARTE

O SUBLIME PEREGRINO
DÉCIMA SÉTIMA PARTE

        PERGUNTA- Em face dessa ternura e natureza superior, Maria e José não se sentiram felizes de possuir tal filho agraciado por Deus?
        RAMATÍS:- Que poderíeis esperar do entendimento de um povo de pescadores e de campônios, cujo índice mais alto de cultura findava na obstinação, fanatismo e severidade dos rabis anacrônicos de Nazaré? Para José e sua família, o menino Jesus enchia-os de constantes preocupações.

        PERGUNTA:- Porventura Maria não guardava no imo de sua alma asa revelações de ter sido predestinada para dar à luz o Salvador dos homens? Ela não fora visitada algumas vezes por um Espírito radioso que lhe previu a sublime maternidade de seu filho Jesus?
        RAMATÍS:- O Alto já havia suspendido a freqüência das visões mediúnicas de Maria e dos seus familiares, a fim de evitar neles qualquer super excitação transcendental e inoportuna, que os viesse perturbar em sua vida cotidiana e até dificultar a vida do próprio menino Jesus. Aliás, diz velho provérbio oriental, que “na casa onde nasace um santo, toda a família só vive do seu encanto!”Era conveniente, então, a parentela de Jesus não se convencer prematuramente de que ele era realmente o Messias tão esperado.
        Aliás, a memória humana é fraca e esquece facilmente aquilo que o homem só percebe em profundidade no mundo espiritual. Maria, pouco a pouco, deixou-se convencer de que as revelações recebidas do seu anjo de guarda, em vésperas de esposar José e de nascer Jesus, talvez não passassem de visões próprias da sua imaginação exaltada da juventude. Ademais, seu filho desabrochava no mundo sem provocar qualquer fenômeno insólito além do seu caráter, que trazia muita gente em “suspense”! E também nada lhe fazia comprovar sua natureza altiva e própria de um profeta ou salvador de homens, um líder ou comandante capaz de derrotar os romanos e libertar o povo judeu! Embora severo contra a maldade, a tirania e o farisaísmo, noutro extremo era excessivamente místico, avesso à violência e fujão! E conforme a Lei Sideral, que disciplina o equilíbrio emotivo dos seres, justamente Maria, tão sensível e mística, privou-se de um contato transcendental para não exorbitar das obrigações fatigantes de seu lar, enquanto outras criaturas mais rudes do que ela se sentiam sacudidas pelo chamamento do mundo oculto!
        Depois de cessadas as suas visões mediúnicas, a vida de Maria e José ingressou no ritmo da existência prosaica das demais famílias judaicas, nada transparecendo de que eram realmente responsáveis pelo sublime esponsalício de um anjo com a carne humana. De modo algum podiam suspeitar que o menino Jesus tão difícil de enquadrar-se nos costumes da época e sem qualquer senso de propriedade pelos bens do mundo, poderia desempenhar missão tão elevada e difícil, como o Velho Testamento atribuía ao Messias, o Salvador dos homens!

        PERGUNTA:- Que podeis dizer mais claramente sobre esse “senso de propriedade” que não era próprio de Jesus?
        RAMATÍS:- Jesus aproximava-se da juventude com a mente experimentada de um adulto; e, o que era mais surpreendente: de um adulto sábio e santo!Em vez de criatura prática, metódica, formulando projetos para “vencer na vida”; um provável servidor na Sinagoga local;negociante dos entrepostos da Judéia ou mesmo herdeiro do oficio de José, ele se obstinava dia e noite, por um mundo fantasioso e consumia-se preocupado com a sorte alheia. Eram especulações transcendentais, sem sentido utilitarista; sonhava com um reino utópico onde aas feras vivessem em paz com os homens! Muitas vezes, José e Maria confabulavam já no leito de repouso corporal, sobre aquele filho que, altas horas da noite se mexia, inquieto e suspiroso, no seu beliche de palha trançada. E quando assim não acontecia, ei-lo, de olhos abertos, noite adentro, sentado na soleira da porta, fitando tristemente a lua farta de luz e elevando-se docemente atrás das nuvens. A brisa refrescante então lhe bulia nos cabelos soltos e mexia-lhe, de leve, com a camisola de menino pobre. Era um menino destituído de qualquer senso de propriedade dos bens do mundo; pois se verberava o companheiro que feria o pássaro com o bodoque de couro cru, ou se afligia seriamente diante do cordeiro pisoteado pelo moleque enraivecido, deixava seus brinquedos pelos caminhos, abandonava os apetrechos escolares aos demais meninos, e sem protesto ou desculpa doava suas sandálias e as porções de alimento a quem primeiro os solicitasse. Saltitava pelos campos, rolando encostas e só mais tarde, quando chamado ao acerto de contas com Maria, surpreendia-se das moedas que havia lançado de bolsa ajustada à camisola.
        Um velho mago da Fenícia e amigo de José, e que lhe devia relativo favor, mandara, de presente, ao menino Jesus valiosa ave-rei coroada de magnífico penacho cor de ouro e munificente plumagem purpurina, rendilhada de um azul sedoso e manchas opalinas, aprisionada em bela gaiola de grades banhadas a prata. José e Maria e os demais irmãos de Jesus deliciavam-se antecipadamente com a alegria e a surpresa que deveria dominá-lo ao retornar da escola e receber o régio presente. Porém, para surpresa dolorosa de todos e o confrangimento de verem a perda de coisa tão valiosa, eis que o menino Jesus, em sua falta de sendo dos bens do mundo, soltou a ave num gesto feliz e exclamação jubilosa. E riu tomado da mais ampla satisfação ao vê-la mover-se entontecida e alçar vôo majestoso sob o fundo azulíneo do céu ensolarado. Qual seria a futuro que a família de José poderia augurar para aquele menino tolo e despreendido, embora correto, bom e obediente, mas julgando a vida um espetáculo tão natural, como devem julgá-la os pássaros, os peixes e os animais? Evidentemente os seus contemporâneos também não podiam prever oculto ali naquele ser de maravilhosa espontaneidade e absoluta confiança na contextura da vida criada por Deus, o mestre que, mais tarde, assim recomendaria: “Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem fazem provimentos nos celeiros; e contudo vosso Pai celestial as sustenta. Porventura não sois vós muito mais que elas?” (Mateus, cap. VI, vs. 26 a 34).
       
         PERGUNTA:- Em face da tradição religiosa ter-nos transmitido até nossos dias a imagem de Jesus como um menino diligente, irrepreensível e obediente, é-nos um pouco difícil concebermos suas atrapalhações e os constrangimentos semeados por ele no seio da família! Que dizeis?
        RAMATÍS:- Os historiadores da vida do menino Jesus viram-se forçados a socorrerem-se da própria imaginação, a fim de suprirem as lacunas encontradas na suas existências em época tão recuada. A prova disso é que se consultardes as obras biográficas de homens de vulto, desaparecidos há apenas um ou dois séculos, encontrareis tantas dessemelhanças no relato de suas vidas, a ponto de deixar-vos em dúvida quanto à sua verdadeira realidade. Imaginai, portanto, a dificuldade de serem ajustados todos os pormenores e as minúcias da vida do Amado Mestre Jesus, que além de ter vivido há dois mil ano, em época de poucos registros biográficos, os arquivos que poderiam conter algo a seu respeito, ainda foram destruídos e incendiados quando da invasão de Tito em Jerusalém.
        Tratando-se de uma entidade que depois se glorificou pela sua própria morte sacrificial na cruz, cuja vida foi um hino de beleza e ternura em favor do gênero humano, é obvio que os seus biógrafos também pressuponham uma infância cordata, uma doçura e obediência perenes, em perfeita concordância com a fase adulta irrepreensível. Naturalmente esqueceram a sua luta interior entre o espírito avesso às convenções aos preconceitos tolos do mundo, e a sua indiferença à própria vida carnal, por se tratar de um anjo acima do temor da morte.
        Nazaré, como a miniatura da própria humanidade, era uma fonte de preconceitos próprios de seus camponeses e pescadores incultos, que viviam entre sofismas, intrigas e mistificações decorrentes de sua graduação espiritual rudimentar. Por isso, o menino Jesus, espírito completamente liberto do farisaísmo da época, incapaz de pactuar com a malícia, capciosidade ou mentira, revelava um padrão de vida que fatalmente punha em choque até os seus familiares, vizinhos e amigos. As suas perguntas e respostas inspiradas pela luz cristalina de sua alma angélica pairando acima das hipocrisias e convenções do mundo, rompiam as convenções tradicionais do homem comum. Qualquer artificialismo ou burla de última hora fazia-o desatar um rosário de indagações nevrálgicas que, às vezes, punham em pânico os adultos!
        Quando atingiu os doze anos tornou-se incômodo entre os rabis conservadores e apoucados da Sinagoga, pois insistia nas premissas inoportunas, que descobriam à luz do mundo a insânia e o absurdo dos dogmas religiosos da Lei de Moisés e das práticas devocionais excêntricas. Seria mais fácil congelar a luz do Sol do que acomodar o menino Jesus às iniqüidades do mundo, pois a sua natureza superior espiritual e intuição incomum opunham-se veementemente a qualquer contrafação da Verdade! À noite, junto da família, choviam-lhe conselhos incessantes, de seus pais e irmãos, que procuravam ensiná-lo a viver de modo a não turbar as relações humanas. Advertiam-no da imprudência de sua indagação muito antecipada sobre coisas que não eram práticas e só causavam confusão ou diminuíam os outros pela impossibilidade de uma solução satisfatória. Que precisava adaptar-se às circunstâncias do meio, agir cautelosamente, com habilidade e diplomacia entre os homens. Então o menino Jesus arregalava os olhos, surpreso, e na sua pureza cristalina indagava, altivo: “Por que devo agir assim? Por que devo esconder a minha sinceridade e alimentar a hipocrisia?
        José e Maria, espíritos benfeitores, mas emoldurados no cenário convencional de sua raça e seu povo, pressentindo por vezes a justeza do modo de agir de seu filho Jesus, que era certo no falar e digno no agir, mas impossibilitados de convencê-lo com os argumentos do próprio mundo onde viviam, então se contentavam em dizer-lhe, a guisa de solução: “Meu filho! Assim é o mundo, e nós não podemos reformá-lo!” E o menino Jesus, um palminho de gente, retirava-se para um canto silencioso e ali ficava a meditar nos seus equívocos cotidianos, confuso pelos motivos que lhe pareciam tão justos e nobres, mas lançavam a desconfiança no próximo.
        Porém vencida a etapa mais instintiva ou impulsiva da puberdade, ele mesmo reconheceu que RAM prematuras as suas indagações ou soluções incomuns diante do seu povo; recolheu-se mais fortemente ao âmago de sua própria alma e buscou ali os recurso de que precisava para reformar os homens, antes de verberar-lhes os pecados! No entanto, apesar de amainar a tempestade emotiva que o lançava corajosamente no oceano das indagações intermináveis; de guardar o silêncio onde poderia agastar; de aceitar as imposições do meio onde nascera, como a cota de sacrifício para o êxito de sua obra messiânica, ele jamais pôde fundir-se descoloridamente no rebanho da humanidade cobiçosa e insaciável. E por isso o mataram na cruz!

        PERGUNTA:- E que poderíamos saber do tipo de alimentação costumeira do menino Jesus e de sua família?
        RAMATÍS:- Conforme já temos noticiado, Jesus desde pequenino revelou profunda repugnância pela carne, e as vezes que o fizeram ingeri-la, ele sofreu violentos surtos de urticária e choques anafiláticos que produziram preocupações sérias. A família foi obrigada a evitar a carne em sua alimentação, pois isso produzia impactos mórbidos na tessitura delicadíssima do seu perispírito e desarmonizava-lhe o sistema endócrino pela perturbação química inesperada, resultando febre e fadiga hepática.
(NOTA DO MÉDIUM:- Aliás. Temos um membro de nossa família, hoje moço e absolutamente vegetariano, cujos ataques circulatórios que se manifestavam nele, quando criança, desapareceram assim que seus pais eliminaram a carne de sua alimentação, conforme conselho recebido de espíritos desencarnados.)
         Felizmente José e Maria seguiam os costumes dos terapeutas essênicos, em cuja alimentação predominava vegetais, frutas, cereais e o peixe, que era abundante. Só nas épocas de crises graves, na lavoura ou na pesca, é que eles recorriam à carne, mas assim mesmo o faziam de modo parcimonioso.
        Como bebida acessória os galileus usavam água pura; por vezes, leite de cabra, de camelo, ou então o vinho campestre, porém muito ácido. Eram exímios na produção de mel de figo, xaropes, caldos e sucos de frutas e vegetais escolhidos, que depois costumavam guardar em vasos de barro glausurado, no seio da terra, e revestidos de areia porosa, que sugava a umidade do subsolo e assim proporcionava uma refrigeração natural. Eram refrescos deliciosos, tradicionalmente servidos com pãezinhos de centeio, de trigo ou bolinhos de polvilho refinado e cozidos das sobras dos moinhos.
        A agricultura ou a lavoura, apesar de fornecer o essencial para o consumo das famílias, era precária, pois a abundância de peixes, que infestavam os lagos e os rios da Galiléia, tornava desinteressante qualquer mobilização de outros recurso diferentes da alimentação pródiga das pescarias. Os pescadores só procuravam a caça nos bosques e nas montanhas, quando já se achavam fartos do mar e do peixe. Assim mesmo, não hesitavam em substituir o alimento predileto por frutas e vegetais, que sabiam preparar sem lhes destruir o sabor natural e as propriedades nutritivas peculiares. Mas o peixe era o alimento principal e o preparavam de mil modos; fritavam-no principalmente no óleo de oliva e depois juntavam-no à sopa de cereais; ou então serviam-no com pães frescos de trigo, ao natural ou coberto com farinha dos moinhos depois de grelhados; secavam-no sob o calor do fogo ou do sol e sabiam transformá-lo em farinha para a reserva prudente, ou fabrico de deliciosos e odorantes bolinhos no azeite, que rescendiam a distância sob os temperos fortes da pimenta esmagada e algumas pitada de ervas odorantes, como o louro cheiroso. A alimentação dos nazarenos se completava com figos cozidos ou crus, tâmaras do Líbano, uvas secas, azeitonas em azeite, pão de trigo ou preto, com mel de figo ou de abelha. Em determinados dias da semana fazia-se uma espécie de manteiga com leite de cabra, que depois era servida com os tradicionais pães miúdos mistos de polvilho e trigo.
        O menino Jesus preferia os pãezinhos com mel de figo e de abelha, ou então os bolinhos de polvilho que ele gostava de misturar ao sumo da cereja, um refresco difícil e muito apreciado pelos hebreus, cuja fruta de polpa reduzida requeria a mistura do suco de outras frutas. Mas Jesus foi sempre frontalmente avesso aos alimentos carnívoros, embora recomendasse o uso do peixe; e mesmo na última ceia com os seus discípulos, ele expõe um dos mais significativos símbolos educativos da vida espiritual, quando, em vez de partir um naco de carne, apanha uma porção de pão e o vinho, e os oferece exclamando: “Eis a minha carne; eis o meu sangue!”