segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O SUBLIME PEREGRINO DÉCIMA SÉTIMA PARTE

O SUBLIME PEREGRINO
DÉCIMA SÉTIMA PARTE

        PERGUNTA- Em face dessa ternura e natureza superior, Maria e José não se sentiram felizes de possuir tal filho agraciado por Deus?
        RAMATÍS:- Que poderíeis esperar do entendimento de um povo de pescadores e de campônios, cujo índice mais alto de cultura findava na obstinação, fanatismo e severidade dos rabis anacrônicos de Nazaré? Para José e sua família, o menino Jesus enchia-os de constantes preocupações.

        PERGUNTA:- Porventura Maria não guardava no imo de sua alma asa revelações de ter sido predestinada para dar à luz o Salvador dos homens? Ela não fora visitada algumas vezes por um Espírito radioso que lhe previu a sublime maternidade de seu filho Jesus?
        RAMATÍS:- O Alto já havia suspendido a freqüência das visões mediúnicas de Maria e dos seus familiares, a fim de evitar neles qualquer super excitação transcendental e inoportuna, que os viesse perturbar em sua vida cotidiana e até dificultar a vida do próprio menino Jesus. Aliás, diz velho provérbio oriental, que “na casa onde nasace um santo, toda a família só vive do seu encanto!”Era conveniente, então, a parentela de Jesus não se convencer prematuramente de que ele era realmente o Messias tão esperado.
        Aliás, a memória humana é fraca e esquece facilmente aquilo que o homem só percebe em profundidade no mundo espiritual. Maria, pouco a pouco, deixou-se convencer de que as revelações recebidas do seu anjo de guarda, em vésperas de esposar José e de nascer Jesus, talvez não passassem de visões próprias da sua imaginação exaltada da juventude. Ademais, seu filho desabrochava no mundo sem provocar qualquer fenômeno insólito além do seu caráter, que trazia muita gente em “suspense”! E também nada lhe fazia comprovar sua natureza altiva e própria de um profeta ou salvador de homens, um líder ou comandante capaz de derrotar os romanos e libertar o povo judeu! Embora severo contra a maldade, a tirania e o farisaísmo, noutro extremo era excessivamente místico, avesso à violência e fujão! E conforme a Lei Sideral, que disciplina o equilíbrio emotivo dos seres, justamente Maria, tão sensível e mística, privou-se de um contato transcendental para não exorbitar das obrigações fatigantes de seu lar, enquanto outras criaturas mais rudes do que ela se sentiam sacudidas pelo chamamento do mundo oculto!
        Depois de cessadas as suas visões mediúnicas, a vida de Maria e José ingressou no ritmo da existência prosaica das demais famílias judaicas, nada transparecendo de que eram realmente responsáveis pelo sublime esponsalício de um anjo com a carne humana. De modo algum podiam suspeitar que o menino Jesus tão difícil de enquadrar-se nos costumes da época e sem qualquer senso de propriedade pelos bens do mundo, poderia desempenhar missão tão elevada e difícil, como o Velho Testamento atribuía ao Messias, o Salvador dos homens!

        PERGUNTA:- Que podeis dizer mais claramente sobre esse “senso de propriedade” que não era próprio de Jesus?
        RAMATÍS:- Jesus aproximava-se da juventude com a mente experimentada de um adulto; e, o que era mais surpreendente: de um adulto sábio e santo!Em vez de criatura prática, metódica, formulando projetos para “vencer na vida”; um provável servidor na Sinagoga local;negociante dos entrepostos da Judéia ou mesmo herdeiro do oficio de José, ele se obstinava dia e noite, por um mundo fantasioso e consumia-se preocupado com a sorte alheia. Eram especulações transcendentais, sem sentido utilitarista; sonhava com um reino utópico onde aas feras vivessem em paz com os homens! Muitas vezes, José e Maria confabulavam já no leito de repouso corporal, sobre aquele filho que, altas horas da noite se mexia, inquieto e suspiroso, no seu beliche de palha trançada. E quando assim não acontecia, ei-lo, de olhos abertos, noite adentro, sentado na soleira da porta, fitando tristemente a lua farta de luz e elevando-se docemente atrás das nuvens. A brisa refrescante então lhe bulia nos cabelos soltos e mexia-lhe, de leve, com a camisola de menino pobre. Era um menino destituído de qualquer senso de propriedade dos bens do mundo; pois se verberava o companheiro que feria o pássaro com o bodoque de couro cru, ou se afligia seriamente diante do cordeiro pisoteado pelo moleque enraivecido, deixava seus brinquedos pelos caminhos, abandonava os apetrechos escolares aos demais meninos, e sem protesto ou desculpa doava suas sandálias e as porções de alimento a quem primeiro os solicitasse. Saltitava pelos campos, rolando encostas e só mais tarde, quando chamado ao acerto de contas com Maria, surpreendia-se das moedas que havia lançado de bolsa ajustada à camisola.
        Um velho mago da Fenícia e amigo de José, e que lhe devia relativo favor, mandara, de presente, ao menino Jesus valiosa ave-rei coroada de magnífico penacho cor de ouro e munificente plumagem purpurina, rendilhada de um azul sedoso e manchas opalinas, aprisionada em bela gaiola de grades banhadas a prata. José e Maria e os demais irmãos de Jesus deliciavam-se antecipadamente com a alegria e a surpresa que deveria dominá-lo ao retornar da escola e receber o régio presente. Porém, para surpresa dolorosa de todos e o confrangimento de verem a perda de coisa tão valiosa, eis que o menino Jesus, em sua falta de sendo dos bens do mundo, soltou a ave num gesto feliz e exclamação jubilosa. E riu tomado da mais ampla satisfação ao vê-la mover-se entontecida e alçar vôo majestoso sob o fundo azulíneo do céu ensolarado. Qual seria a futuro que a família de José poderia augurar para aquele menino tolo e despreendido, embora correto, bom e obediente, mas julgando a vida um espetáculo tão natural, como devem julgá-la os pássaros, os peixes e os animais? Evidentemente os seus contemporâneos também não podiam prever oculto ali naquele ser de maravilhosa espontaneidade e absoluta confiança na contextura da vida criada por Deus, o mestre que, mais tarde, assim recomendaria: “Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem fazem provimentos nos celeiros; e contudo vosso Pai celestial as sustenta. Porventura não sois vós muito mais que elas?” (Mateus, cap. VI, vs. 26 a 34).
       
         PERGUNTA:- Em face da tradição religiosa ter-nos transmitido até nossos dias a imagem de Jesus como um menino diligente, irrepreensível e obediente, é-nos um pouco difícil concebermos suas atrapalhações e os constrangimentos semeados por ele no seio da família! Que dizeis?
        RAMATÍS:- Os historiadores da vida do menino Jesus viram-se forçados a socorrerem-se da própria imaginação, a fim de suprirem as lacunas encontradas na suas existências em época tão recuada. A prova disso é que se consultardes as obras biográficas de homens de vulto, desaparecidos há apenas um ou dois séculos, encontrareis tantas dessemelhanças no relato de suas vidas, a ponto de deixar-vos em dúvida quanto à sua verdadeira realidade. Imaginai, portanto, a dificuldade de serem ajustados todos os pormenores e as minúcias da vida do Amado Mestre Jesus, que além de ter vivido há dois mil ano, em época de poucos registros biográficos, os arquivos que poderiam conter algo a seu respeito, ainda foram destruídos e incendiados quando da invasão de Tito em Jerusalém.
        Tratando-se de uma entidade que depois se glorificou pela sua própria morte sacrificial na cruz, cuja vida foi um hino de beleza e ternura em favor do gênero humano, é obvio que os seus biógrafos também pressuponham uma infância cordata, uma doçura e obediência perenes, em perfeita concordância com a fase adulta irrepreensível. Naturalmente esqueceram a sua luta interior entre o espírito avesso às convenções aos preconceitos tolos do mundo, e a sua indiferença à própria vida carnal, por se tratar de um anjo acima do temor da morte.
        Nazaré, como a miniatura da própria humanidade, era uma fonte de preconceitos próprios de seus camponeses e pescadores incultos, que viviam entre sofismas, intrigas e mistificações decorrentes de sua graduação espiritual rudimentar. Por isso, o menino Jesus, espírito completamente liberto do farisaísmo da época, incapaz de pactuar com a malícia, capciosidade ou mentira, revelava um padrão de vida que fatalmente punha em choque até os seus familiares, vizinhos e amigos. As suas perguntas e respostas inspiradas pela luz cristalina de sua alma angélica pairando acima das hipocrisias e convenções do mundo, rompiam as convenções tradicionais do homem comum. Qualquer artificialismo ou burla de última hora fazia-o desatar um rosário de indagações nevrálgicas que, às vezes, punham em pânico os adultos!
        Quando atingiu os doze anos tornou-se incômodo entre os rabis conservadores e apoucados da Sinagoga, pois insistia nas premissas inoportunas, que descobriam à luz do mundo a insânia e o absurdo dos dogmas religiosos da Lei de Moisés e das práticas devocionais excêntricas. Seria mais fácil congelar a luz do Sol do que acomodar o menino Jesus às iniqüidades do mundo, pois a sua natureza superior espiritual e intuição incomum opunham-se veementemente a qualquer contrafação da Verdade! À noite, junto da família, choviam-lhe conselhos incessantes, de seus pais e irmãos, que procuravam ensiná-lo a viver de modo a não turbar as relações humanas. Advertiam-no da imprudência de sua indagação muito antecipada sobre coisas que não eram práticas e só causavam confusão ou diminuíam os outros pela impossibilidade de uma solução satisfatória. Que precisava adaptar-se às circunstâncias do meio, agir cautelosamente, com habilidade e diplomacia entre os homens. Então o menino Jesus arregalava os olhos, surpreso, e na sua pureza cristalina indagava, altivo: “Por que devo agir assim? Por que devo esconder a minha sinceridade e alimentar a hipocrisia?
        José e Maria, espíritos benfeitores, mas emoldurados no cenário convencional de sua raça e seu povo, pressentindo por vezes a justeza do modo de agir de seu filho Jesus, que era certo no falar e digno no agir, mas impossibilitados de convencê-lo com os argumentos do próprio mundo onde viviam, então se contentavam em dizer-lhe, a guisa de solução: “Meu filho! Assim é o mundo, e nós não podemos reformá-lo!” E o menino Jesus, um palminho de gente, retirava-se para um canto silencioso e ali ficava a meditar nos seus equívocos cotidianos, confuso pelos motivos que lhe pareciam tão justos e nobres, mas lançavam a desconfiança no próximo.
        Porém vencida a etapa mais instintiva ou impulsiva da puberdade, ele mesmo reconheceu que RAM prematuras as suas indagações ou soluções incomuns diante do seu povo; recolheu-se mais fortemente ao âmago de sua própria alma e buscou ali os recurso de que precisava para reformar os homens, antes de verberar-lhes os pecados! No entanto, apesar de amainar a tempestade emotiva que o lançava corajosamente no oceano das indagações intermináveis; de guardar o silêncio onde poderia agastar; de aceitar as imposições do meio onde nascera, como a cota de sacrifício para o êxito de sua obra messiânica, ele jamais pôde fundir-se descoloridamente no rebanho da humanidade cobiçosa e insaciável. E por isso o mataram na cruz!

        PERGUNTA:- E que poderíamos saber do tipo de alimentação costumeira do menino Jesus e de sua família?
        RAMATÍS:- Conforme já temos noticiado, Jesus desde pequenino revelou profunda repugnância pela carne, e as vezes que o fizeram ingeri-la, ele sofreu violentos surtos de urticária e choques anafiláticos que produziram preocupações sérias. A família foi obrigada a evitar a carne em sua alimentação, pois isso produzia impactos mórbidos na tessitura delicadíssima do seu perispírito e desarmonizava-lhe o sistema endócrino pela perturbação química inesperada, resultando febre e fadiga hepática.
(NOTA DO MÉDIUM:- Aliás. Temos um membro de nossa família, hoje moço e absolutamente vegetariano, cujos ataques circulatórios que se manifestavam nele, quando criança, desapareceram assim que seus pais eliminaram a carne de sua alimentação, conforme conselho recebido de espíritos desencarnados.)
         Felizmente José e Maria seguiam os costumes dos terapeutas essênicos, em cuja alimentação predominava vegetais, frutas, cereais e o peixe, que era abundante. Só nas épocas de crises graves, na lavoura ou na pesca, é que eles recorriam à carne, mas assim mesmo o faziam de modo parcimonioso.
        Como bebida acessória os galileus usavam água pura; por vezes, leite de cabra, de camelo, ou então o vinho campestre, porém muito ácido. Eram exímios na produção de mel de figo, xaropes, caldos e sucos de frutas e vegetais escolhidos, que depois costumavam guardar em vasos de barro glausurado, no seio da terra, e revestidos de areia porosa, que sugava a umidade do subsolo e assim proporcionava uma refrigeração natural. Eram refrescos deliciosos, tradicionalmente servidos com pãezinhos de centeio, de trigo ou bolinhos de polvilho refinado e cozidos das sobras dos moinhos.
        A agricultura ou a lavoura, apesar de fornecer o essencial para o consumo das famílias, era precária, pois a abundância de peixes, que infestavam os lagos e os rios da Galiléia, tornava desinteressante qualquer mobilização de outros recurso diferentes da alimentação pródiga das pescarias. Os pescadores só procuravam a caça nos bosques e nas montanhas, quando já se achavam fartos do mar e do peixe. Assim mesmo, não hesitavam em substituir o alimento predileto por frutas e vegetais, que sabiam preparar sem lhes destruir o sabor natural e as propriedades nutritivas peculiares. Mas o peixe era o alimento principal e o preparavam de mil modos; fritavam-no principalmente no óleo de oliva e depois juntavam-no à sopa de cereais; ou então serviam-no com pães frescos de trigo, ao natural ou coberto com farinha dos moinhos depois de grelhados; secavam-no sob o calor do fogo ou do sol e sabiam transformá-lo em farinha para a reserva prudente, ou fabrico de deliciosos e odorantes bolinhos no azeite, que rescendiam a distância sob os temperos fortes da pimenta esmagada e algumas pitada de ervas odorantes, como o louro cheiroso. A alimentação dos nazarenos se completava com figos cozidos ou crus, tâmaras do Líbano, uvas secas, azeitonas em azeite, pão de trigo ou preto, com mel de figo ou de abelha. Em determinados dias da semana fazia-se uma espécie de manteiga com leite de cabra, que depois era servida com os tradicionais pães miúdos mistos de polvilho e trigo.
        O menino Jesus preferia os pãezinhos com mel de figo e de abelha, ou então os bolinhos de polvilho que ele gostava de misturar ao sumo da cereja, um refresco difícil e muito apreciado pelos hebreus, cuja fruta de polpa reduzida requeria a mistura do suco de outras frutas. Mas Jesus foi sempre frontalmente avesso aos alimentos carnívoros, embora recomendasse o uso do peixe; e mesmo na última ceia com os seus discípulos, ele expõe um dos mais significativos símbolos educativos da vida espiritual, quando, em vez de partir um naco de carne, apanha uma porção de pão e o vinho, e os oferece exclamando: “Eis a minha carne; eis o meu sangue!”

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