domingo, 10 de abril de 2011

O SUBLIME PEREGRINO - VIGÉZIMA SEGUNDA PARTE

POR QUE JESUS TERIA DE NASCER NA JUDÉIA?

        PERGUNTA:- Jesus teria que nasce faltamente na Judéia, para ter bom êxito na sua missão redentora?  Porventura não existia, na mesma época, algum outro povo que, espiritual e psicologicamente, pudesse servir para o mesmo objetivo?
        RAMATÍS:- Desde que a Administração Sideral reconhecesse, em qualquer outro povo, qualidades e até os defeitos peculiares do judeu, é óbvio que Jesus não precisaria se encarnar em Israel. Mas a Judéia e os hebreus, embora considerados na época “uma coleção desprezível de escravos” (Opinião de Tácito), por sua fé religiosa e capacidade de adaptação a todos os misteres da vida, e que realmente ofereciam as condições psicofísicas eletivas para o melhor sucesso da missão salvacionista do Messias. Aliás, o Velho Testamento sempre o considerou o povo eleito para o advento do Messias, e o próprio Moisés, no monte Sinai, ao unificar a revelação espiritual para um só Deus – Jeová – lançou as bases preliminares do Cristianismo! Isso aplainou o caminho para o Mestre Jesus consolidar a sua obra, dispensando-o do espinhoso trabalho de fundir diversos deuses pagãos numa só unidade, como ele depois pregaria através do seu sublime Evangelho.
        É óbvio, portanto, que só uma raça estóica, ardente e fanática em sua crença religiosa monoteísta seria capaz de corresponder ao convite espiritual de Jesus, sem qualquer resistência ou sarcasmo à encantadora mensagem da “Boa Nova” e do “Reino de Deus”! O judeu traz o seu sentimento à flor da pele e vive mais pela fé do que pelo raciocínio, embora seja instintivamente muito sagaz para negócios e especulações da vida humana. Mas, em questão de crença e de devoção, ele pouco indaga dos motivos que o mandavam proceder deste ou daquele modo com o seu Deus. A sua fé inata não pedia explicações intelectivas, ele cria e obedecia cegamente naquilo que transcendesse o seu mundículo de atividades humanas. Por isso, Jesus encontrou o caminho aberto para a sua prédica evangélica entre os judeus, sem precisar destruir o antropoformismo de Jeová, sem alterar as legiões angélicas, sem desmentir os velhos patriarcas e profetas do Antigo Testamento. Ele viera iluminar, ou ampliar os próprios ensinamentos de Moisés e torná-los mais amenos quanto à sua responsabilidade moral. Substituía o conceito pessoal e punitivo de “olho por olho e dente por dente”, pela condição cármica de “quem com ferro fere com ferro será ferido”, na qual Deus não castiga, mas é a própria criatura que se pune dos seus pecados, aceitando, espontaneamente, os mesmos efeitos das causas perniciosas movimentadas no passado.
        Jeová, sob o toque sublime dos ensinos de Jesus, tornava-se mais tolerante, terno e compassivo, diminuindo suas exigências demasiadamente humanas. Isso atendia às simpatias dos galileus, que eram considerados gentios ignorantes dos formalismos religiosos, e que aceitavam, sem protestos, a nova versão de Jeová, distanciando-se cada vez mais das seitas religiosas e dos bens do mundo. Mas os fariseus, embora sem qualquer temor dos ensinamentos daquele rabi da Galiléia, perceberam que se enfraquecia a virilidade doutrinária de Moisés. E a perigosa desumanização de Jeová poderia trazer sérios prejuízos aos cofres do Templo! Daí por diante, eles passaram a vigiar Jesus e recear os efeitos de suas idéias desagregadoras na comunidade dos galileus.

        PERGUNTA:- Jesus também não poderia comprovar sua missão, se encarnado entre outras raças, que, igualmente, adoravam a Divindade e rendiam-lhe cultos religiosos? Que lhe parece?
        RAMATÍS:- Não é somente o culto religioso, a devoção pobre ou fidalga, mas acima de tudo importa distingui, num povo ou raça, qual o sentimento que o anima nessa crença religiosa. Há cultos religiosos de natureza profundamente racionalista, ou excessivamente interesseiros, que se devotam a diversos deuses. A missão de Jesus, em seu início, e acima de tudo, pedia “sentimento puro”, fé inabalável, humildade absoluta e certa ingenuidade dos seus simpatizantes, a fim de cimentar-se rapidamente, sem discussões estéreis, especulações fatigantes ou dúvidas mortificantes. Tendo seu início nas raízes mais profundas do coração humano, só a valorização imediata de sentimentos e de emoções quase infantis poderia sust4ntar o Cristianismo no seu berço, até aliciar, mais tarde, os testemunhos próprios dos intelectos mais desenvolvidos. Hoje, o Evangelho é, sem qualquer hesitação, uma doutrina respeitada pelos cérebros de maior cultura filosófica e científica do mundo, considerado um poema de beleza e um tratado de libertação do espírito aguilhoado à animalidade biológica. Raros homens puderam entender quantas dificuldades Jesus encontrou nos primeiros dias de sua pregação doutrinária, quanto ao seu cuidado para que fosse afastada e superada qualquer excrescência do mundo. Os próprios espíritas de hoje podem avaliar esse zelo de Jesus para manter a pureza iniciática do Cristianismo, pelo esforço que também fazem para evitar que o Espiritismo codificado sofra as deformações, os ridículos das práticas supersticiosas impróprias à sua mensagem de libertação espiritual.
        Por isso, Jesus teve de recorrer exclusivamente aos homens brutos, ignorantes e intempestivos, porém simples, francos, humildes e sinceros em suas emoções, como foram os apóstolos. Eles jamais contestavam os ensinos do Mestre, nem lhe opunham as conclusões próprias dos malabarismos do intelecto. Bebiam aas palavras que lhes eram transmitidas noticiando o “Reino de Deus” e criam cegamente naquela mensagem de ternura e esperança infinitas! Assim foram eles o cimento vivo que solidificou os fundamentos do Cristianismo, até se tornar resistente e imune às influências dos credos pagãos da época e às distorções religiosas, próprias das falsas interpretações pessoais.
        Devido ao seu fabuloso conhecimento sobre a psicologia da alma humana, Jesus sabia dos prejuízos que sua obra sofreria, caso recorresse, de início, ao intelecto dos homens em vez de falar-lhes ao coração. Os seus primeiros discípulos teriam de ser criaturas descomplexadas, com emoções à flor da pele, tal quais as criancinhas, “porque delas é o reino dos céus”. Artista Divino, trabalhando há dois mil anos com material tão deficiente como o pescador, o camponês, o publicano e a prostituta, Jesus esculpiu na carne humana as figuras monumentais de um Pedro, João, Mateus, Tiago, Timóteo, Madalena e outros! Só depois que o coração dos simples consolidou a base do Cristianismo é que o Alto entoa recorreu mais propriamente ao intelecto, chamando ao movimento libertador cristão a figura de Paulo de Tarso. Mesmo José de Arimatéia, Nicodemos e Gamaliel, homens de cultura e de relevo na época, gozaram de certa credenciais junto ao Mestre, porque, simpáticos à doutrina dos essênios, já eram humilde de espírito. (NOTA DO REVISOR:- Essênios ou Terapeutas, cuja fraternidade perde suas raízes além das civilizações já conhecidas. Em remota antiguidade, foram conhecidos como os profetas brancos para os quais a reencarnação e a Lei do Carma eram assuntos familiares.
        Sem dúvida, empolga-nos reconhecer que a mesma doutrina, cujas bases Jesus assentou na rudeza e simplicidade de um Pedro, na sublimação de Madalena e na sinceridade do publicano Mateus, mais tarde, geraram um Agostinho, discípulo apaixonado de Platão e cuja eloqüência, ao expor a teologia Cristã, abalou Roma e Cartago; ou ainda, o maior filósofo da Igreja, como é Tomás de Aquino, um dos maiores gênios da Idade Média na propaganda do Catolicismo. Mas prevendo também o perigo do intelecto desgarrar-se em demasia e depois formalizar o Evangelho acima do coração humano, aristocratizando em excesso o clero responsável pela idéia cristã, o Alto recorre então ao mesmo espírito que fora o apóstolo João, e o faz renascer, na terra, para viver a figura admirável de pobreza e renúncia de Francisco de Assis! Assim o calor cordial do sentimento purificado e a abdicação aos bens transitórios do mundo, vividos pelo frade Francisco de Assis, reativaram novamente a força coesiva e poderosa que cimentou aas bases do Cristianismo nas atividades singelas de pescadores, camponeses, publicanos e gente de mau viver! Na comunidade da própria Igreja Católica, transformada em museu de granito e mármore, cultuando as quinquilharias de ouro e prata entre a púrpura e o veludo dos sacerdotes, o Alto situou Francisco de Assis, convidando todos os eclesiásticos à volta ao Cristo Jesus da simplicidade, da renúncia e do amor! Infelizmente, só alguns raros espíritos que mourejam no seio do Catolicismo entenderam o divino chamamento e, realmente, passaram a viver os preceitos puros do Cristianismo nascido à beira do mar da Galiléia!
        No entanto, imaginai Jesus tentando alicerçar sua mensagem deísta entre a versatilidade dos deuses pagãos da Grécia, dos povos bárbaros da Germânia, dos fanáticos da Gália, dos espanhóis agressivos, dos selvagens da África, dos feiticeiros da Caldéia ou das castas orgulhosas da Índia massacrando o pária infeliz? Sem dúvida, o Mestre fracassaria atuando no seio dessas multidões rústicas, fanáticas, irascíveis e politeístas, que se dividiam em castas de sacerdotes e párias, escravos e senhores, além do seu culto aos deuses protetores das mais variadas paixões do mundo.
        Aliás, convém não esquecer que Paulo de tarso, depois que Jesus já tinha sido crucificado, foi alvo de risotas e zombarias, quando tentou pregar entre os gregos altamente intelectualizados alguma coisa do Evangelho.

        PERGUNTA:- Mas não seria Roma, justamente na época brilhante de Augusto, a mais indicada para a missão de Jesus?
        RAMATÍS:- Jamais o Mestre Cristão conseguiria em Toma aqueles discípulos fiéis, que foram coletados à margem do Mar de Genesaré e nas planícies da Galiléia, pois nenhum romano ambicioso abandonaria as redes de pesca e os seus interesses comuns, para aceitar o convite de um homem empolgado por um reino hipotético de amor e bondade! Como atrair a atenção dos sanguinários gladiadores dos circos romanos, para fazê-los compreender a lição singela do “grão de mostarda”? Qual a maneira capaz de situar, a contento, entre as matronas de costumes dissolutos, a recomendação do “vai e não peques mais”, como advertência à mulher adúltera? Jesus não teria êxito pregando o amor, a paz, a tolerância, o perdão e a renúncia entre as ferozes legiões de César; e seria motivo das chacotas mais ferinas, caso tentasse o “sede puros e perfeitos, como puro e perfeito é vosso Pai”, entre os glutônicos romanos amigos de banquetes pantagruélicos regados a tonéis de vinho!
        Já de início, ele se sentiria impotente para converter os romanos ao culto de um só Deus, pois isso implicaria em despojá-los de sua fé interesseira e dos deuses que lhes atenderiam todos os desejos, caprichos e lhes presidiam os amores, negócios, divertimentos, jogos de circo, as conquistas guerreiras como a fertilidade genésica! Viris e ambiciosos, personalistas e insensíveis, cúpidos e dissolutos, raríssimos cidadãos romanos poderiam impressionar-se com os apelos para a humildade, renúncia, pureza e frugalidade. Em Roma, o povo rendia tributo religioso quase como quem acerta seus negócios e liquida débitos numa conta corrente! E o que era mais importante: os deuses também lhes deviam a obrigação e a glória de serem divulgados e cultuados nas longínquas províncias da Gália, Palestina, Germânia, Síria ou Egito, onde tremulavam as águias de Roma. Só o povo de Israel, realmente, seria capaz de realçar a figura angélica de Jesus, no cenário do Mundo.
       
PERGUNTA:- Mas a força espiritual de Jesus não seria suficiente para a ele vencer todos os óbices encontrados no ambiente físico em que devesse encarnar-se?
RAMATÍS:- Se bastasse somente a força espiritual de Jesus para afastar todas as dificuldades naturais do mundo físico, é evidente que ele também não precisaria encarnar-se na Terra para esclarecer “pessoalmente” o homem, pois isso poderia ser feito do próprio mundo invisível e só em Espírito. Para servir a humanidade encarnada Jesus necessitou mobilizar os mesmos recursos dos demais homens e honestamente enfrentar as mesmas dificuldades. Embora se compreenda que o gênio já existe na intimidade do pintor excelso ou do compositor incomum, o certo é que o primeiro precisa de pincéis e tintas; e o segundo, de instrumentação musical, para, então, darem forma concreta às suas criações mentais!
Jesus também era um gênio, um sábio e um anjo, em espírito, mas precisou exilar-se na matéria, para entregar pessoalmente a sua mensagem de salvação do homem. Em conseqüência, serviu-se de instrumentação carnal apropriada e enfrentou os óbices naturais do mundo físico para realizar sua tarefa de esclarecimento espiritual.  Ele só dispunha do curto prazo de 33 anos para cumprir sua tarefa messiânica, como o sintetizador de todos os instrutores espirituais que o haviam antecedido. Sua obra exigia uma conformação absoluta ao gênero humano e um exemplo pessoal incomum, sem gozar de privilégios extemporâneos do mundo invisível, que depois enfraquecessem as convicções dos seus discípulos ou produzisse o milagre que gera a superstição!

PERGUNTA:- Podemos crer que o advento de Jesus à Terra deveria ser efetuado rigorosamente há dois milênios? Ou esse fato tanto poderia ocorrer alguns séculos antes ou depois?
RAMATÍS:- O “acaso” é coisa desconhecida no Cosmo, pois tudo obedece a um plano inteligente; e os mínimos acontecimentos da vida humana interligam-se às causas e efeitos em correspondência como esquema do Universo Moral. Sem dúvida, há um fatalismo irrevogável no destino do home – a sua eterna Felicidade! Ninguém, jamais, poderá furtar-se de ser imortal e venturoso, pois se isso fosse possível, Deus também desapareceria, porque o espírito humano é da mesma substância do Criador! Dentro do plano inteligente de aperfeiçoamento dos homens e dos mundos, o Alto atende aos períodos de necessidades espirituais das humanidades encarnadas, assim que elas se manifestam mais sensíveis para as novas revelações e evolução dos seus códigos morais.
Na época exata dessa necessidade ou imperativo de progresso espiritual, manifesta-se na Terra um tipo de instrutor eletivo a cada raça ou povo, a fim de apurar-lhe as idiossincra0sias, ajustar o temperamento e eliminar a superstição. É uma vida messiânica de esclarecimento sobre o fanatismo religioso e o preparo de um melhor esquema espiritual para o futuro. Antúlio, o filósofo da Paz, pregou aos atlantes aas relações pacíficas entre os homens; Orfeu deixou seu rasto poético e saudosa melodia de confraternização entre os gregos; Hermés ensinou no Egito a imortalidade da alma e as obrigações do espírito após a morte do corpo físico; Lao Tse e Confúcio, atenderam ao povo chinês, semeando a paciência e a amizade sob as características regionais; Moisés, quase à força, impôs a idéia e o culto de Jeová, um único Deus; Zoroastro instruiu os persas na sua obrigação espiritual; Crisna despertou os hindus para o Amor a Brahma, e Buda, peregrinando pela Ásia, aconselhou a purificação da mente pela luz do coração.
Todas as encarnações desses instrutores espirituais precederam Jesus no tempo certo e obedecendo a um programa evolutivo delineado pelo Alto! Eles amenizaram paixões, fundiram crenças, fortaleceram a mente terrena, aposentaram deuses epicuristas, propuseram deveres e prepararam a humanidade para fazer jus à crença em um só Deus e a disciplinar-se por um só Código de Moral do mundo, o qual seria o Evangelho! Malgrado cada povo interprete a idéia da Divindade o seu critério e a tradição de sua raça, o certo é que todos os missionários do Espírito descidos à Terra só tinham um objetivo; pregar a compreensão de um só Deus! A humanidade pouco a pouco apercebe-se de que na essência dos vocábulos de cada raça a idéia unitária de Deus é sempre a mesma, quer o chamem de Alá, Tupã, Jeová, Zâmbi, Rá, Foco Criador, Absoluto, Parabrhm, Senhor do Mundos, Energia Universal, Grande Espírito ou Motor Imóvel.
Conseqüentemente, Jesus também baixou à Terra no tempo exato para sintetizar os ensinamentos dos seus predecessores, e a época dessa necessidade espiritual foi exatamente há dois mil anos!

PERGUNTA:- Embora considerando que a Palestina foi, na realidade, o ambiente mais apropriado para Jesus realizar sua missão redentora, por que ele nasceu na Galiléia tão rústica e estigmatizada pelos seus contemporâneos, se podia fazê-lo melhor, nascendo em Jerusalém?
RAMATÍS:- Repetimos que Jesus foi um espírito eleito para sacudir o pó das superstições religiosas e esclarecer doutrinas, que ainda sacrificavam animais e até seres humanos a um Deus cruel! Ele carecia de um cenário estimulante e inspirativo, que lhe avivasse incessantemente a memória espiritual do mundo angélico. Embora fosse um espírito excelso e sábio, era-lhe conveniente um incentivo e encanto proporcionados pela beleza e pela poesia terrena, que assim o ajudaria a sustentar sua mente em um nível de maior rendimento messiânico.
A vida singela e encantadora da Galiléia, que já descrevemos, com seu clima ameno, não exigia resguardo severo para proteger a saúde; dava conforto e tranqüilidade ao seu povo sem exigir os requintes complicados do luxo oneroso. E servia a Jesus de contínua inspiração, amenizando-lhe o exílio sacrificial da carne, mediante a beleza, a ternura e o fascínio de sua paisagem. O povo Galileu, feliz e satisfeito, habituado a alimentação leve e fácil, que não afogueava o sistema neurodisgestivo, era um público assíduo e ideal para ouvir as prédicas de Jesus e que se comovia ante as boas novas do Paraíso e as deliciosas parábolas sobre os deveres do espírito imortal!
Jerusalém, no entanto, era um ambiente oposto à emotividade de Jesus, pois a cidade era foco constante de conflitos, sedições religiosas e fanatismos supersticiosos, através de um povo avaro, cúpido, intriguento, inescrupuloso e ainda explorado por um sacerdócio cuja cultura religiosa era apenas canônica ou teológica. O estudo da Lei Mosaica, ou do Torá, não ira além de fatigantes discussões muito parecidas com as que ainda hoje ocorrem entre as seitas protestantes, às vezes, por causa da troca de uma vírgula ou de um erro tipográfico na Bíblia!
Jerusalém era pedregosa e antipática, sua paisagem monótona e melancólica, os seus vales produzidos pelos desmoronamentos, sempre atulhados de lixo, serviam de moradia aos vagabundos ou infelizes leprosos. Não havia água em abundância, os córregos eram sujos e os pastos secos. Os animais dos caravaneiros retardados pousavam fora dos muros da cidade. Nos dias quentes, o mau odor do capim apodrecido, do suor e do mau cheiro dos animais espalhava-se pelos subúrbios da cidade. No verão, as lajes batidas pelo sol ardente aqueciam os pés e os calçados dos transeuntes, os quais suavam envoltos nos seus trajes pitorescos.
Em Jerusalém crescia a azáfama das cidades asiáticas; ali se misturavam a sujeira das ruas, os excrementos dos animais e a exalação do péssimo esgoto mal distribuído. Os mercados estabelecidos pela Prefeitura faziam rebuliço e entravam em rixa com os vendeiros ambulantes, disputando fregueses para compra de peixe, de cerâmica, de tecido, hortaliças ou quinquilharias. A confusão e os gritos recrudesciam ante as súplicas obstinadas dos mendigos e enfermos, próprios dos grandes ajuntamentos de criaturas. A cidade oferecia um aspecto árido e desagradável para um espírito do quilate de Jesus; e jamais ele poderia aquecer ali os sonhos e os ideais acalentados desde a infância em Nazaré.
Embora o Alto tenha escolhido a Palestina como o local adequado para a missão de Jesus, a beleza da Galiléia e a ternura de Nazaré serviram para alimentar-lhe a chama sublime do seu Amor inesgotável a favor da humanidade!

PERGUNTA:- Naturalmente, Jesus se deixou influenciar fortemente pela raça judaica em que viera encarnar, embora fosse um espírito universalista. Não é assim?
RAMATÍS:- As raças, os povos e os homens são apenas ensejos educativos e transitórios, que revelam à luz do mundo material as aquisições feitas pelo espírito imortal. Poder-se-ía dizer que a face dos planetas serve para o espírito verificar e comprovar a sua consciência, o que ele já realizou em si mesmo. Deste modo, ele extrai ilações pessoais de sua capacidade, resistência, renúncia, individualidade e do seu talento espiritual. Apura o espírito e passa a cultuar as manifestações que mais se enquadram nos códigos morais dos mundos superiores. Esforça-se depois para anular ou mesmo evitar os ascendentes que lhe retardam a paz e a ventura definitivas!
Eis por que, reportando-nos ao passado, verificamos que inúmeras raças, depois de se imporem na face do orbe pelo fausto, cultura, comércio, descobertas ou conquistas belicosas, desapareceram completamente, deixando raros vestígios. Assim é que Babilônia, Fenícia, Sodoma, Gomorra, Herculanum, Pompéia, Hititia, Caldéia, Cartago e as civilizações atlantes sumiram do mapa terráqueo; e a Pérsia, Etiópia, Ebréia, Egito e outras velhas nações também começam a oscilar nos seus alicerces, mal sustentando sua glória e poderes tradicionais do passado.
Mas é evidente que o amor manifesto por um chinês, árabe, russo, italiano ou groenlandês é sempre o mesmo em sua essência, embora varie o tipo do instrumento físico de que o espírito se utiliza para isso. Jesus, portanto, quer fosse judeu ou inglês, revelaria sempre o seu intenso e incondicional amor pela humanidade, malgrado tivesse de manifestá-lo pelas características próprias da raça que lhe fornecesse o equipo carnal. A prova mais concreta de que ele não foi um judeu no sentido racista da palavra, mas um homem cuja doutrina moral e religiosa se destina a toda humanidade, é que os próprios judeus “ainda não o reconheceram”, conforme prediziam os velhos profetas do Antigo Testamento.
Em sua época, civilizações como a Grécia, Pérsia e o Egito, já haviam dado ao mundo inúmeros sacerdotes, filósofos, cientistas, sábios, escritores e poetas. Mas eles ainda se prendiam à avidez da especulação metafísica, sem apresentar soluções prosaicas que, pelo menos, ajudassem o homem comum a melhorar sua existência e treinar praticamente a sua consciência moral! Platão discursava o advento de uma humanidade só integrada por artistas, filósofos, poetas e cientistas; Sócrates pregara uma conduta moral avançada, mas dependendo de certos grupos eletivos para cultuá-la; Epicuro ensinara a substituição das dores corporais pelos prazeres do espírito e Zenon explicava o estoicismo na crueza dos sofrimentos, cujas doutrinas, embora louváveis, exigiam, no entanto, muito força de vontade, pertinácia e boa dose de otimismo, para sublimar o sofrimento humano e especular sobre a metafísica.
Jesus não trazia mensagem complexa, nem pedia investigação técnica e teórica para enriquecer o intelecto, pois apregoava uma auto realização singela e à luz do dia, através de um trabalho lento, mas eficiente, do espírito libertar-se da matéria. A simplicidade, a fé, a devoção, a humildade, a resignação, a pureza, a ternura, o perdão, a renúncia e o serviço ao próximo eram coisas possíveis e realizáveis à face da Terra. E ninguém poderia zombar ou descrer disso, porque o Mestre que ensinava era o exemplo vivo de suas próprias recomendações. Não dizia Jesus comumente aos seus apóstolos: Se ainda não compreendeis asa coisas da Terra, como quereis que vos fale só das coisas do céu?”
Ele era objetivo e suas parábolas versavam sobre coisas tangíveis e assuntos de bom senso, tais como a “semente da mostarda, os talentos enterrados, o fermento que leveda o joio e o trigo, o lobo e o cabrito, o bom samaritano, o filho pródigo, o tesouro escondido, o mordomo infiel, o semeador ou o rico insensato”!
Não era um judeu predicando para judeus, mas um representante da humanidade dos céus, falando para todas as criaturas, porque sua linguagem, até hoje, é perfeitamente entendível por todos os povos e raças. Não foi o vaso carnal da raça israelita que condicionou o espírito de Jesus a uma ética ou temperamento peculiar, ou lhe modelou a maneira de ensinar, incentivado por características específicas de um povo; o seu Espírito sublime é que iluminou a linhagem biológica do judeu!

O SUBLIME PEREGRINO - VIGÉZIMA PRIMEIRA PARTE

A INFLUÊNCIA BENFEITORA DO POVO
GALILEU NA OBRA DE JESUS

        PERGUNTA:- Gostaríamos de conhecer maiores particularidades quanto à contribuição do povo Galileu na tarefa messiânica de Jesus. É possível?
        RAMATÍS:- O povo Galileu era habituado à simplicidade; não gozava da abastança que choca os necessitados, mas também não sofreia a miséria que confrange os mais ricos. Era realmente um povo amável, respeitador e profundamente hospedeiro, facilmente compreensivo para com as necessidades do próximo e sentia-se mesmo eufórico em servir. Esse temperamento e modo peculiar do Galileu, que o fazia feliz com o hóspede na cabeceira de sua mesa, certo de que isso era muitíssimo agradável a Jeová, deu margem para que Jesus firmasse inúmeras lições que louvavam a caridade e insistiam no espírito de hospedagem. Mas o seu temperamento era algo rixoso, pois discutiam facilmente por qualquer assunto religioso, embora sem as capciosidades dos fariseus ou a obstinação dos saduceus. Os homens eram barulhentos em suas pescas, negócios, festas e peregrinações; as mulheres tímidas, serviçais, humildes e algo supersticiosas.
         Desde a mais tenra infância, os galileus acostumavam-se à incondicional obediência aos preceitos religiosos e à vontade de Jeová! Eram essencialmente comunicativos com seu Deus e faziam pouca diferença entre a vida carnal e a vida espiritual, quase despercebidos da divisa que os separava do Além! Isso era uma peculiaridade comum de todo o povo judeu, que mal poderia apontar onde começava a vida objetiva e terminava a subjetiva, desde que se tratasse de assuntos religiosos. Jeová fazia parte tão integrante de suas vidas, de suas devoções, dos seus prazeres e negócios, que jamais eles poderiam manifestar qualquer dúvida na sua crença religiosa.
        Antes de exigirem favores de Jeová, eles o adoravam através de oferendas diárias, da obediência absoluta, dos louvores e hosanas que tributavam sob qualquer pretexto na sua vida em comum. Quando o Senhor não lhes correspondia nas lutas, nos negócios, na libertação contra o inimigo, os judeus não se rebelavam nem descriam; mas apenas se entristeciam tal qual os filhos obedientes e afetuosos se conformam com as negativas dos pais. No entanto, qualquer favor mais insignificante atribuído a Jeová era motivo sagrado para eles oferecerem em seu louvor o melhor casal de pombos, o carneiro mais gordo, o vaso de óleo mais cheiroso, o incenso mais fragrante trazido da Índia, o presente mais terno buscado em Alexandria. Não era um tributo convencional e interesseiro, mas uma oferenda cheia de mimos e de cuidados.
       
PERGUNTA:- Alhures, dissestes que os galileus eram menos apegados aos ritos e às obrigações religiosas. Não é assim?
        RAMATÍS:- Realmente, isso era verdade; aliás, a Galiléia ficava ao norte de Jerusalém e por isso os seus habitantes não podiam freqüentar tão assiduamente o Templo, como os judeus que ali moravam. Essa dificuldade enfraquecia-lhes o gosto ou o dever das oferendas constantes, relaxando-lhe o compromisso religioso tão arraigado entre os jerusalemitas. Pouco a pouco, descuravam de suas obrigações para com o Templo; e à medida que Jesus lhes incutia no espírito a natureza espiritual do “reino de Deus”, afastavam-se das observâncias exteriores das leis e das prescrições mosaicas, apegando-se, cada vez mais, aos rabis itinerantes.
Os galileus jamais poderiam assistir a qualquer cerimônia privada no Templo. Eram condenados pelos fariseus, porque lhes faltava o espírito de nacionalidade judaica; e ainda admitiam dúvidas ou novas interpretações sobre os ensinos de Moisés, considerados imutáveis; de outro lado, sofriam os ápodos e as críticas dos saduceus porque, além de lhes faltar a aristocracia judaica, enfraquecia-lhes a confiança nos sacerdotes e se apegavam mais propriamente aos seus rabis empoeirados. Os galileus, na realidade, consideravam sua religião como pura emotividade de espírito e não como ferrenho código de moral.
        Eis aí alguns rápidos traços do povo Galileu, que, em sua peculiaridade afetiva, sua crença religiosa de amor a Jeová, seu temperamento amoroso e hospedeiro, o fizeram a moldura viva da obra messiânica de Jesus. Assim como o fermento leveda a massa da farinha e lhe favorece o crescimento, o povo Galileu também foi o fermento humano que deu força iniciática e divulgou o Evangelho do Mestre Jesus, o qual jamais encontraria tanta afetividade, compreensão e amor para o sucesso dos seus ensinamentos. Ele não teria nenhum êxito, se os pregasse de início, entre os saduceus orgulhosos e os fariseus intrigantes, que se apegavam à letra da Lei como o carrapato ao couro do animal. O povo Galileu, alegre, ativo, buliçoso, rixento, sincero na sua fé e puro na sua amizade, foi realmente, o verdadeiro ensaio para o advento do Cristianismo!

        PERGUNTA:- Reconhecendo que a paisagem da Galiléia e a hospitalidade dos galileus foram de influência benéfica, catalisando asa atividades de Jesus, gostaríamos de sabe como ele assentou as bases doutrinárias do Cristianismo entre as raças tão diferentes?
        RAMATÍS:- Aquilo que vos pode parecer deficiente ou dificultoso, no início da obra de Jesus, foi-lhe de excelente proveito em face de sua agudeza espiritual e conhecimento profundo dos sentimentos humanos. As divergências próprias de indivíduos originários de raças antagônicas, assim como as discórdias comuns entre os galileus, serviam a Jesus como um verdadeiro ensaio para o seu treino espiritual na confecção do Evangelho destinado à humanidade. O ambiente em que vivia também lhe permitia proveitosa auscultação sobre a natureza dos homens, sem necessidade de percorrer o mundo e então conhecer os variados caracteres da humanidade.
        O Mestre não fugia do contato diário com todos os habitantes do lugar, embora preferisse ficar à tona das cizânias, rixas e contendas de todas as espécies. Em vez de atear fogo aos conflitos e embates religiosos, ele sempre interferia com a palavra amorosa e sincera, acima dos preconceitos, costumes e das tradições de raças e de religião. Graças ao seu sublime entendimento espiritual, conseguia harmonizar o entendimento sobre os temas expostos e contentava ambos os adversários, quer amainando as tempestades do personalismo humano, como amenizando as paixões dos contendores. Os conflitos mais violentos logo perdiam o seu ardor e enfraquecia-se o ânimo dos rixentos, assim que percebiam a aproximação de Jesus.
        Os idiomas, os dialetos, as devoções e os costumes diferentes dos seus conterrâneos faziam considerá-lo como a miniatura da própria humanidade terrena, a qual também se subdividia em matéria de fé, sentimento, religião e política.
        Jesus meditava sobre a natureza humana ainda tão animalizada e ignorante, na sua insatisfação, avareza, crueldade, cupidez, no seu amor próprio e orgulho de raça. Essas paixões e os desejos incontrolados eram realmente os motivos responsáveis pelos desentendimentos entre os homens, os quais, assim como os animais, só se mostravam inofensivos quando bem alimentados, fartos, gozando saúde e satisfeitos no seu instinto sexual.
        E o Mestre entristecia-se verificando que o homem precisava tão pouco para ser feliz, bastando-lhe somente amenizar o deseja cúpido e domesticar as paixões violentas, para ele ser mais venturoso e substituir os prazeres transitórios da carne pelos prazeres duradouros do espírito. Então se propunha ensinar a criatura humana, transmitindo-lhe um pouco da ventura espiritual, que era o seu estado normal da alma.  Ali, na Galiléia, ele vislumbrava representantes das principais raças do mundo, cujos homens eram portadores de todas as paixões, vícios e ardis. Juntamente com algumas virtudes benfazejas, também se manifestavam neles  todos os tipos de pecados humanos, motivo por que a Galiléia então lhe parecia um mostruário vivo dos espécimes representativos de toda a humanidade.
        Jesus bem sabia da inutilidade e inoperância dos tratados civis, das leis e dos códigos penais, das doutrinas e das seitas religiosas do mundo, que tentassem disciplinar a conduta humana, porquanto a repressão moral não educa o coração do homem! Nem o culto religioso, a disciplina filosófica, nem os conceitos avançados de ética poderiam extirpar do coração dos homens as paixões e os vícios se atuassem do “exterior” para o “interior”. O êxito só poderá ser do centro para a periferia, do mundo oculto para o visível, do espírito para a mente, e na forma de um sentimento tão amoroso que consiga purificar os pecados da própria alma.
        Então Jesus compreendeu que, para o homem tornar-se altruísta, teria de ser explorado no próprio egoísmo; visando ao seu maior bem também poderia visar ao bem do próximo. Jamais alguém poderia dar aquilo que ainda não possuísse realizado e satisfeito em si mesmo. O homem, primeiramente, teria de ser egoísta, isto é, acumular até sua plena satisfação, para depois sentir prazer de doar, de repartir. Por isso, seria preciso transbordar os homens de amor, a fim de que eles passassem a amar-se uns aos outros. Partindo do próprio egoísmo da criatura preferir o máximo bem para si, Jesus lançou então a sua máxima ou principio surpreendente e de maior sublimidade no ser: - “Ama o próximo como a ti mesmo”. O egoísmo, tão gélido e separatista, principal sustentáculo ou cogitação da personalidade humana, então serviria para cimentar o fundamento do próprio Amor, em relação ao próximo.
        Jesus não visava aniquilar a “força” do egoísmo, mas apenas inculcar-lhe um sentido proveitoso em benefício do próximo. O amor a si mesmo seria, pois, a ação dinâmica do amor a outrem. Utilizando o seu admirável dom de percepção espiritual, Jesus procurava identificar em si mesmo, quais seriam as reações morais do espírito diante da injustiça, da ingratidão, da perversidade ou do egoísmo humanos. Ele não acusava mágoas ou ressentimentos, nem sofria intimamente a agressão ou o insulto alheio, mas buscava conhecer as torturas a que se submetem as criaturas terrenas, mortificadas pelos seus próprios pecados e vícios. No entanto, reconhecia que os homens eram perversos, orgulhosos ou avaros, porque também eram ignorantes e imaturos de espírito. Indubitavelmente, em vez de serem condenados ou mesmo censurados, eles precisavam ser esclarecidos ou ensinados, quando ao verdadeiro motivo da vida e a responsabilidade do espírito eterno!
        Assim como os animais selvagens se tornam pacíficos e serviçais depois de domesticados, os homens, ainda que extremamente imperfeitos, também podem ser bons e ternos, domesticando suas paixões, em vez de atacá-las de modo agressivo. Jesus, alma sublime e generosa, propôs-se então ensinar os homens e torná-los dignos da ventura do “reino de Deus”, onde a paz de espírito é o fundamento principal da existência paradisíaca. Mas também reconhecia a necessidade de viver as lições a serem ministradas à humanidade, se quisesse, realmente, conquistar a confiança dos terrícolas. Só através do seu exemplo pessoal, da completa renuncia a todos os bens e prazeres do mundo, sofrendo estoicamente na própria carne as dores das ingratidões e agressividade alheias, ele então poderia demonstrar a sua fé incondicional e submissão absoluta à vontade de Deus atraindo assim a confiança os homens.
        Jesus, dali por diante, fixou-se definitivamente no tema, que além de lhe assegurar a glória entre os anjos, ainda o consagrou entre os homens – o Amor! Só pelo Amor valia a Vida; só pelo Amor o homem se salvaria! Nenhum outro sentimento, fora do Amor, poderia irmanar o logo e o cordeiro, o amigo e o inimigo, o publicano e o santo, o crente e o atue, o mau e o bom, o rico e o pobre! O amor, portanto, seria o lema definitivo de todas as suas pregações, conforme ele comprovou em todos os momentos de sua vida, de sua paixão e morte. Até o derradeiro apelo quando, do cimo da cruz e diante das multidões alvoroçadas e sarcásticas, dirigiu ao Criador aquela rogativa patética, de misericórdia infinita, dizendo:- “Pai! Perdoai-lhes, pois eles não sabem o que fazem!”

DÉCIMA NONA PARTE O SUBLIME PEREGRINO

JESUS E SEUS ASPECTOS HUMANOS

PERGUNTA:- Em vista de existirem tantas efígies de Jesus, em pinturas e esculturas, segundo a inspiração de cada artista, isto nos impede de conhecermos asa características exatas ou a expressão da fisionomia do Mestre e do seu porte físico. E visto que o conhecestes pessoalmente, podeis informar-nos a tal respeito?
RAMATÍS:- Jesus era um homem de estatura alta, porte majestoso, de um perfil clássico, hebraico, mas singularmente, também possuía alguns traços imponentes de um fidalgo romano. Delicado NASA formas físicas, porém exsudava extraordinária energia à flor da pele, pois naquele organismo vibrátil as forças vivas da Natureza, aliadas a um potencial energético incomum do mundo etéreo astral, denunciavam profunda atividade mental. A testa era ampla e suavemente alongada; seu rosto triangular, mas cheio de carne, sem rugas ou mancha até aos dias da crucificação. Os lábios, bem feitos, com suave predominância do inferior, nem eram excessivamente carnudos, próprios dos homens sensuais, nem finíssimos e laminados, que lembram a avareza e a dissimulação. O nariz era reto e delicado, sem qualquer curvatura inferior que trai o homem de mau instinto; a barba espessa, um pouco mais escura do que os cabelos, caprichosamente separada ao meio e curta, tornando Jesus o perfil de um dos mais belos homens do mundo.
O psicanalista moderno teria identificado em Jesus a figura do homem ideal, de fisionomia atraente e de uma expressão ao mesmo tempo meiga e enérgica, suave e séria, cujos lábios angélicos bem recortados, mal escondiam o potencial de um Gênio! Seus olhos eram claros, afetuosos e sumamente ternos, mas sempre dominados por uma expressão grave e melancólica; emitiam fulgores, às vezes inesperados, quando Ele parecia ligar-se subitamente às potências superiores. Então se tornavam quase febris, de um brilho estuante de energia moral. Sem dúvida, era o olhar do anjo verberando a maldade e o cinismo dos espíritos satânicos, que tentavam subverter a vida humana, atuando do mundo oculto. No entanto, malgrado esse tom energético de admoestação espiritual severa, jamais desaparecia do seu semblante a expressão de mansuetude e de imensa piedade pelos homens!
A sabedoria e o amor refletiam-se nele na mais pura harmonia. Diante do insulto, do sarcasmo ou da crueldade, seus olhos revelavam uma divina paciência e serenidade. O sábio cedia seu lugar ao anjo apiedado da ignorância humana. Quantas vezes o motejador que ironizava a aparente ingenuidade da filosofia de Jesus não conseguia suportar-lhe o olhar de compaixão, repleto de ternura e piedade para com aquele que não podia compreendê-lo! Era uma doçura queimante na consciência dos sarcásticos, pois sentiam a descobertos, no recôndito da sua alma, todos os seus pecados.
As criaturas curadas por Jesus, diziam que o fulgor de seus olhos penetrava-lhes a medula, qual energia crepitante, transmitindo-lhes misterioso potencial de forças desconhecidas e fazendo eclodir em seu corpo a vitalidade adormecida. Os malfeitores e delinqüentes não escondiam o seu terror diante desses mesmos fulgores veementes, que lhes punham a descoberto na alma o cortejo de vícios, pecados e hipocrisias. Raros homens não se prostravam de joelhos, diante de Jesus, clamando perdão para os seus erros, quando, esmagados pelos pecados, erguiam-se aterrorizados ante a voz imperiosa que lhes dizia:- “Vai e não peques mais”.
No seio da massa heterogênea diante do Mestre, o curioso estava junto ao discípulo atento; e o cínico ensaiava os seus motejos para perturbar o discurso.
Mas o olhar de Jesus, quanto aos que ali estavam com más intenções, penetrava-lhes a alma, devassando-lhes os turvos pensamentos à luz de sua divina compaixão.  Então, os perturbadores assalariados pelo Sinédrio, retiravam-se apreensivos ou mantinham-se em silêncio, baixando a cabeça ao defrontarem o fulgor daquele olhar tão sereno, mas severamente interrogativo e flamejante quando atingia uma consciência subvertida!

PERGUNTA:- Os nosso pintores geralmente apresentam Jesus com um fisionomia essencialmente feminina, olhos grandes e rosto redondo, que nada se parece com o tipo semítico de que ele descendia. Porventura seria a predominância dos traços herdados de Maria, que a tradição diz ter sido uma mulher de rara formosura?

RAMATÍS:- Imaginai um edifício moderno, com o seu arcabouço esquio, mas sólido, porque as suas veias são o aço incursável; suas linhas são severas e nítidas; os contornos singelos, mas impressionantes. No entanto, nesse todo de simplicidade, a decoração e a iluminação revelam aspectos delicadíssimos, em que as cores translúcidas e os suaves matizes completam a beleza do conjunto. À noite, todo iluminado, a sua figura recortada no espaço faz realçar a sua beleza poética por entre as luzes refulgentes e policrômicas.
Jesus herdara do pai asa linhas firmes e energéticas, que lhe davam o aspecto viril; no entanto, através daquela energia e masculinidade, transparecia a beleza radiosa de Maria, cujas feições delicadas, semblante sereno e profundamente místico, justificavam a fama de ser a mais linda esposa da Galiléia! A sabedoria do Alto aliara a energia e a sensatez de José à bondade e à beleza de Maria, cujo fascínio radioso de encantadora boneca de porcelana viva, transparecia na figura atraente do Mestre, acendendo a chama do amor nos corações de muitas mulheres desavisadas da missão grandiosa do sublime nazareno.
O Mestre3 Jesus, portanto, além da simpatia que irradiava, era um moço extremamente belo, cujo andar denunciava a sua majestade angélica, pois havia em seu todo, uma faceirice dos céus! Tudo nele enternecia; a sua palavra era uma esperança para quem o ouvia, pois a graça e a ternura feminina tinham-se conjugado à virilidade masculina. A beleza do anjo confundia-se com a grandeza do sábio!

PERGUNTA:- Os cabelos de Jesus eram louros ou escuros?
RAMATÍS:- Ele possuía cabelos de um louro amendoado, formando as tradicionais volutas ou cachos que lhe caíam pelos ombros à moda nazareno. Nas tardes de céu límpido, em que o vento deslizava suavemente encrespando o dorso dos lagos da Galiléia, Jesus costumava sentar-se nos barcos ali ancorados, a fim de descansar. Quando o poente se tingia de púrpura e de lilás, e os tons esmeraldinos se confundiam com os raios dourados do sol, então seus cabelos fulgiam nesse fundo paradisíaco, cuja cor de amêndoas parecia chamejante, emitindo reflexos fulvos e punha em destaque a beleza angélica de seus traços fisionômicos.
Após a exaustão da puxada das redes e da colheita do peixe, os rudes pescadores exultavam esperançosos de um mundo feliz e acercavam-se de Jesus, para ouvirem-no em suas prédicas consoladoras. Quem era aquele homem tão formoso e de sabedoria tão incomum, cuja eloqüência hipnotizava os seus ouvintes e os fazia sentirem-se num reino de Bondade e de Amor, onde os pobres e os sofredores viveriam eternamente felizes adorando o seu Criador?

PEERGUNTA:- Em face da tradição religiosa, fica-se com a impressão de que o Mestre Jesus tinha uma vida excêntrica, absolutamente introspectiva sendo avesso a qualquer emotividade do mundo. Estaremos equivocados a esse respeito?

RAMATÍS:- Jesus era dotado de um temperamento sereno e equilibrado no contato com as criaturas humanas, pois embora vivesse sob profunda tensão espiritual interior, em face do potencial angélico que lhe oprimia a carne, sabia contentar-se e ninguém pôde-lhe apontar gestos e atitudes de cólera por sentir-se ofendido ou desatendido. Era um homem excepcional; porém, sujeito a todas aas necessidades fisiológicas do corpo físico, mas de uma vida regrada inconfundível.
Ele não se negava às relações sociais e comuns com o mundo exterior, nem verberava a alegria e o divertimento humanos. Participava gentilmente das festividades e tradições religiosas do seu povo, mas o fazia sem os exageros entusiásticos das almas infantis. Expressava o suave sorriso de Maria nos júbilos domésticos ou nos reencontros afetivos, mas jamais se excedia na gargalhada descontrolada ou no choro compungido do sentimentalismo humano. Ante asa cenas humorísticas, mas cheias de simplicidade das festas regionais de sua terra natal, sua fisionomia era tomada de um sorriso tolerante e, por vezes, travesso; mas diante das cenas cruéis, como as das crianças escravizadas, cegas e vítimas de queimaduras nos trabalhos escravos das fundições de Tiro, a piedade fazia-lhe estremecer o corpo delicado, ou então se angustiava, batido pelo vendaval agressivo da maldade humana. O suor umedecia-lhe a fronte e a palidez tomava-lhe as faces, ao contemplar o panorama aflitivo das misérias e das atrocidades do mundo!

PERGUNTA:- Alguns investigadores da vida de Jesus dizem que ela era lago enfermo, mesmo sujeito a alucinações. E que adotava rigorosa dieta alimentar. Há fundamento nessa afirmativa?
RAMATÍS:- Embora não tenham fundamento os exagerados jejuns de quarenta dias no deserto, que também lhe foram atribuídos, ele realmente socorreu-se, algumas vezes, do jejum absoluto, como delicadíssima terapêutica para conservar seu espírito no comando da carne. Não se tratava de nenhuma prática iniciática ou obrigação religiosa; era apenas um recurso sublimado e admissível em entidade tão excelsa como Jesus, cuja consciência angélica ultrapassava os limites da suportação comum de um organismo humano! O jejum desafoga a circulação sangüínea dos tóxicos produzidos nas trocas químico-físicas da nutrição e assimilação; debilita asa forças agressivas o instinto inferior, aquieta a natureza animal, clareia a mente e o sistema cérebro-espinhal passa a ser regado por um sangue mais límpido.
Durante o repouso digestivo, a natureza renova suas energias, restaura os órgãos enfraquecidos, ativa o processo drenativo das vias emuntórias, por onde se expulsam todos os tóxicos e substâncias prejudiciais ao organismo. É obvio que o jejum enfraquece, devido à desnutrição, mas compensa porque reduz o jugo da carne e desafoga o espírito, permitindo-lhe reflexões mais lúcidas e intuições mais certas.
Durante o enfraquecimento orgânico pelo sofrimento, ou jejum, as faculdades psíquicas se aceleram e a lucidez espiritual se torna mais nítida, conforme se verifica em muitas criaturas prestes a desencarnar, pois recuperam sua clareza mental e rememoram os mais longínquos fatos de sua existência humana, desde a infância. A queda das energias físicas costuma proporcionar maior liberdade à consciência do espírito; há uma tendência inata de fuga da alma, para fugir do seu corpo físico, assim que ele se enfraquece. Diz o vulgo que as criaturas, no auge da febre, costumam “variar”, isto é, são tomadas de alucinações, chegando mesmo a identificar conhecidos que já desencarnaram, assim como vêem figuras grotescas, insetos ou coisas estranhas, que não são do mundo material.
Assim, o jejum também era para Jesus o recurso benéfico com que contemporizava a excessiva tensão do seu próprio Espírito na carne. Sua fabulosa atividade mental provocava excessivas saturações magnéticas na área cerebral; seu corpo embora sensibilíssimo e hígido em todo o seu sistema orgânico era acanhadíssimo veículo para atender às exigências de sua extensa consciência sideral. Os neurônios e centros sensoriais permaneciam continuamente num estado de alta tensão, assim como a lâmpada modesta ameaça romper-se pela energia demasiadamente vigorosa que lhe vem da usina.
O Anjo é a entidade mais aproximada dos atributos de Deus, como sejam: a Sabedoria, o Poder, a Vontade e o Amor. Em conseqüência, possui qualidades superiores às do tipo espiritual ainda reencarnável na Terra. O organismo físico não lhe oferecia os recursos necessários para permitir-lhe uma relação perfeita entre o mundo angélico e o material. Mesmo que ele não houvesse sido crucificado aos 33 anos, não teria sobrevivido por muito tempo, pois o seu corpo carnal já se mostrava exaurido e incapacitado para atender-lhe o ato grau de suas exigências mentais.
O Mestre Jesus foi, indiscutivelmente, a entidade da mais alta estirpe sideral que já desceu ao vosso orbe. A sua consciência ampla e poderosa lutava assombrosamente para firmar-se no comando de um cérebro humano. Era um divino balão cativo preso por delicadíssimos fios de seda. Se espírito super ativo e em permanente vigília, envidava heróicos esforços para abafar asa energias estuantes da vida animal, que se multiplicavam na esfera instintiva e tentavam dominá-lo tanto quanto ele as repelia. Inegavelmente, tratava-se de uma consciência angélica de sereno conteúdo espiritual, que deveria proporcionar euforia à carne, mas a sua força, sabedoria e poder, extravasavam pela fronteiras da consciência humana.
Aliás, a tradição religiosa terrena sempre pintou o anjo como a entidade resplandescente, de fulgores ofuscantes. Satanás, como símbolo do instinto animal, dobra os joelhos diante de Miguel Arcanjo, quando é chicoteado pelo excesso de luz que o enfrenta. Embora o Sol seja um potencial criador e benéfico, debaixo dos seus raios ardentes até o “iceberg” se aniquila. Muitos homens célebres do vosso mundo, como poetas, escritores, músicos, escultores e filósofos, têm apresentado fases anormais, mostrando-se perturbados antes a tensão muito acentuada do seu espírito sobre o sistema Nero cerebral. (Vide a obra “Doentes Célebres”, de Gastão Pereira da Silva, da coleção do livro de bolso, etiqueta “Estrela de Ouro em que o autor faz um estudo minucioso sobre diversos homens famosos, anotando-lhes o estado de espírito perturbador, como no caso de Allan Poe, Hoffmann, Dostoievsky, Paganini, Van Gogh, Tchaicovsky, Nietzsche e outros. Aliás, tanto a notícia trágica, como a surpresa e o júbilo da fortuna inesperada podem afetar o cérebro humano ante a carga sem controle que o espírito lança sobre a massa cinzenta.
O dinamismo espiritual fabuloso do Espírito de Jesus, atuando incessantemente sobre a fragilidade do seu cérebro físico, quase o levava à clássica “surmenage”, além de exigir-lhe os mais dificultosos esforços para manter=se no mecanismo vivo da carne. O homem moderno hoje reconquista ou compensa as suas funções mentais e o gasto excessivo de energias no processo fatigante das elucubrações mentais cerebrais, socorrendo-se das medicações energéticas e vitaminadas, principalmente à base de fósforo ou ácido glutâmico. Porém, Jesus, após a exaustão cerebral, sob a tensão mental incomum do seu Espírito, só obtinha equilíbrio e socorro orgânico através da prece e dos fluidos energéticos, que lhe eram ministrados do mundo oculto pelos seus fiéis e devotados amigos espirituais!
A fadiga transparecia-lhe cada vez mais funda no semblante angélico, à medida que se sucediam os anos de sua vida física; por vezes, descoloriam-se-lhes as faces e o suor alforjava-lhe à fronte, enquanto sob intensa sensibilidade o corpo perdia temperatura e parecia açoitado por um vento gélido. Inúmeras vezes os seus discípulos temeram vê-lo cair sem vida, pois o seu generoso coração arfava perigosamente e o corpo estremecia sob o alto potencial angélico.
No entanto, espírito corajoso e vivendo exclusivamente para o Ideal redentorista do terrícola, Jesus tudo fazia para suportar o fardo da carne e continuar em atividade no cenário da Terra, rogando ao Pai que o mantivesse em condições de ultimar sua obra abençoada! O seu espírito, preso por um fio de linha ao diminuto mundo da carne, parecia mil raios de sol convergindo sobre a lente do cérebro precário e atuando sob vigorosa voltagem.  Que seria do frágil moto elétrico, construído para suportar a carga máxima de 120 volts, caso, de súbito, recebesse o potencial de 13.000 volts, diretamente da usina elétrica?
Anjo exilado na matéria, o Alto então lhe oferecera a encantadora moldura feita de luz, cor e poesia de Nazaré, para amenizar-lhe um pouco a condição aflitiva de permanecer algum tempo segregado na carne, no desempenho generoso e sacrificial a serviço da criatura humana!

PERGUNTA:- Através da leitura de certa biografia de Jesus, tivemos conhecimento de que ele era realmente um enfermo, porque suava sangue pelos poros. Que dizeis?
RAMATÍS:- Não ignoramos os sentenciosos diagnósticos de alguns médicos terrenos, envaidecidos pela ciência acadêmica, e que procuram situar Jesus na terminologia patogênica de “hematidrose”, porque ele exsudava suores impregnados de sangue. (“E veio-lhe um suor, como de gotas de sangue, que corria sobre a terra” (Lucas. XXII, vs. 44). Aliás, a própria medicina, até certo tempo, considerava a sangria excelente terapêutica para os casos de síncope e apoplexia).
Escritores e médicos presunçosos procuram explicar a hiperfunção das glândulas sudoríparas de Jesus num esquema patológico, porque ignoram, em absoluto, que o organismo carnal do Mestre é que lançava mão de recursos de emergência, para subsistir ante a carga espiritual poderosa que lhe atuava além da resistência biológica humana. Ele vivia sob estados febris e excitações incomuns, em dramática luta para manter-se sob o excesso do potencial que lhe descia do céu, procurando a matéria e fluindo pelo seu corpo, como se este foram realmente um poderoso fio-terra vivo.
A sua natureza carnal processava verdadeira descarga fluido magnética através do sistema glandular, cuja exsudação sangüínea jamais poderá ser considerada um ataque específico e mórbido de “hematidrose”. Após este fenômeno, tal qual aconteceu no Horto das Oliveiras, às vésperas do sacrifício no Calvário, o Espírito do Mestre desafogava-se adquirindo certa liberdade sobre o corpo desfalecido, exausto e febril. O Divino Mestre era um cadinho de química transcendental fabulosa, no qual se processavam aas mais avançadas reações dos problemas espirituais. O passado e o futuro não tinham limites de graduação na sua mente poderosa e genial; os conceitos mais insignificantes poderiam se tornar sentenças milenárias sob o toque mágico de sua alma.
Desde moço ele misturava-se com os forasteiros e mercadores provindos do Egito, da Índia, Caldéia, Grécia, África e outros extremos do orbe. Fazia questão de prestar-lhes pequenos favores nos entrepostos das estradas, só para ouvi-los falar de outros povos e outras terras. O jovem nazareno, admirado e querido por todos, graças ao seu aspecto atraente e sua fisionomia sempre serena, como pela sua atenção e cortesia, deliciava-se fascinado, ouvindo as minúcias dos costumes, do folclore, dos sonhos, dos ideais e das realizações de outros povos que viviam além das fronteiras da Judéia. Ágil de memória, tenaz indagador e jamais satisfeito em sua curiosidade sadia e construtiva, Jesus hauria, emocionado, o conteúdo das histórias de outros homens e formava o amálgama do conhecimento psicológico e filosófico do mundo, que mais tarde tanto surpreendeu e ainda surpreende os seus biógrafos.
Quem poderia supor que Jesus, o jovem filho de José, o carpinteiro, um moço de olhos esplendorosos, insaciável nas suas indagações de “sabe tudo”, carregava nos ombros frágeis a cruz das dores e do sofrimento de todos os homens? Quem poderia prever a sua renuncia, o seu sacrifício e heroísmo diante da morte carnal, para transfundir a luz do Cristo Planetário às sombras tristes do orbe terráqueo? Entre todas as mensagens trazidas dos mais longínquos lugares da Terra, era ele o portador, o genial compilador do mais elevado Código Moral de ajuda à humanidade.
Essa assimilação rápida de verdadeira catadupa de conhecimentos os mais exóticos, difíceis e impossíveis ao homem comum, causava espanto aos próprios rabis e intelectuais da época. Em breve, Jesus era conhecido como “um homem de letras e de ciências, que tudo sabia, sem ter sido visto a estudar”! A sua mente, como poderoso catalizador, num ápice de segundo solucionava as equações mais complexas e concluía sensatamente sobre as premissas mais difíceis da psicologia e filosofia humanas. De um punhado de idéias, era como um jardineiro genial, que se um buquê de flores conseguisse descrever o aspecto formoso e o perfume encantador de todo o jardim policrômico!
Jamais Jesus precisou seguir os mesmos métodos didáticos dos homens terrenos, pois sua alma, como divina esponja sidéria, abrangia a síntese da vida terrena em toda sua força e manifestação educativa. Sabendo e podendo acumular em si mesmo o “quantum” da vida “psicofísica” que o cercava nos dois planos, o oculto e o material, logo se desenvolveu nele a força e a capacidade para ser o guia inconfundível dos homens ainda cegos pela sede de ouro, violência e ardor das paixões! Por isso, logo afirmou com segurança e o fez com êxito: “Eu dou o Caminho, a Verdade e a Vida”, e “Quem não for por mim, não irá ao Pai que está nos céus!”
Jesus, em verdade, anjo e sábio, formava o mais avançado binômio sidério no mundo material; não existe, jamais existiu filósofo, líder religioso ou Instrutor Espiritual sobre a Terra, que tenha vivido em si mesmo uma realização tão integral como Ele a viveu. Ninguém poderá igualá-lo em fé, coragem, renúncia e amor, pois além do seu desprendimento aos bens do mundo, dominou completamente as paixões humanas.
O Cristo Jesus, portanto, ontem, hoje e amanhã, será sempre o Mestre insuperável; porém, o homem sadio e perfeito, não o enfermo classificado pela patologia médica ou o espírito sob o rigor da retificação cármica!

PERGUNTA:- Certos estudiosos da vida de Jesus chegam a afirmar que Ele era analfabeto, motivo por que nada deixou escrito nem se sabe se Ele escreveu algo. Há qualquer fundamento nessa afirmação?
RAMATÍS:- Se até Pedro, que era um rude pescador, sabia ler e escrever, como não o saberia Jesus? O Mestre era escorreito na linguagem e, quando escrevia, estereotipava na precisão dos caracteres gráficos a exatidão do seu pensamento e a poesia do seu sentimento! Exato, lógico e parcimonioso na sua grafia, não empregava uma vírgula além do necessário! Se um grafólogo moderno examinasse os seus escritos, teria descoberto o homem perfeito, em que a retidão, a sinceridade, o espírito de justiça e o amor absoluto se mostrariam harmonizados na tessitura das frases límpidas de atavismos ou artifícios supérfluos.
Agrafia de Jesus era um tanto nervosa, mas revelando altíssima sensibilidade e sem perda do domínio mental; os caracteres claríssimos, distintos e alinhavados em perfeito equilíbrio. Tanto no falar como no escrever, Jesus era avesso à verborragia, à logomaquia peculiar dos pseudos sábios ou políticos terrícolas, que tecem exaustivos circunlóquios para expor, mas se perdem pela dramaticidade das idéias mais prosaicas. Jesus escrevia pouquíssimo, e por uma razão simples: sabia dizer em meia dúzia de vocábulos aquilo que a complicação do pensamento humano só o pode fazer esgotando páginas extensas. Reto no pensar, no falar e no escrever, um ponto tirado à sua escrita lembrava uma parede afastada do seu prumo. Basta observarmos a precisão do Sermão da Montanha, a composição do “Ama o teu próximo como a ti mesmo”, ou “Buscai e achareis”, para se verificar que tais conceitos evangélicos dispensam qualquer novo acréscimo de adjetivos ou ornamentos para sua maior valiosidade, assim como jamais podem dispensar uma letra de sua estrutura vocabular.

PERGUNTA:- Há alguma prova de que Jesus soubesse escrever?
RAMATÍS:- É justamente num dos momentos mais importante, lembrados em sua mensagem evangélica, que se observa Jesus a escrever. Diante da mulher adúltera, sua divina mão traçou na areia as palavras de censura, reveladora das mazelas daqueles escribas e fariseus que queriam apedrejá-la (João, VIII VS. 3, 11): “O que de nós outros está sem pecado, seja o primeiro que a apedreje”. Silenciosamente, enquanto alguns dos mais ousados perseguidores da adúltera fizeram mensão de atirar-lhe pedras, o Mestre apanhou de uma vara frágil e traçou no solo as palavras “trapaceiro”, “hipócrita” e “perjuro”, o que fez recuar a turba de julgadores.
Jesus viva o que pensava e pensava que vivia, por isso não precisou deixar compêndios doutrinários. Antevendo o sofisma e a astúcia do homem – inescrupuloso quando procura garantir os seus exclusivos interesses – o Mestre preferiu deixar que outros escrevessem para a posteridade.
Antes a confusão sobre o que ele possivelmente teria dito, em vez da confusão sobre o que teria escrito. Qualquer testemunho escrito que tivesse deixado serviria de pretexto para justificar a paternidade de outros milhares de mistificações espalhadas sob o seu augusto nome.

PERGUNTA:- No encerramento deste capítulo sobre os aspectos humanos de Jesus, poderíeis dar-nos uma imagem mais nítida de sua juventude?
RAMATÍS:- Embora jovem, Jesus já tinha o aspecto grave e austero próprio do homem idoso; mas era de porte imponente e seus olhos serenos, penetrantes e profundos, malgrado refletissem a melancolia que o dominava desde a infância, eram plenos de uma ternura quase feminina. Atingira os dezenove anos e já sofria imensamente ao verificar que entre os seus próprios familiares e conterrâneos, não era compreendido no seu Ideal messiânico, comprovando-se, mais uma vez, o velho ditado de que “ninguém é profeta nem faz milagres em sua terra!” Tomado por incessante ebulição interior, e devotado somente às coisas definitivas, como os bens do espírito, era um moço indiferente aos anseios das hebréias formosas que desejavam desposá-lo.
Tentara diversos empregos, os mais variados, tanto em Nazaré como em Jerusalém, no intento de cooperar com o orçamento de sua modesta família; porém, não conseguia ajustar o seu espírito cósmico nas tricas do trabalho humano, nem suportava a imobilidade de concentrar-se exclusivamente num objeto que, de início, já reconhecia fugaz e transitório. Não era defeito de um jovem ocioso e avesso ao labor comum e às obrigações de todo se humano; mas a impossibilidade de controlar e enfeixar a força fabulosa que lhe descia sobre o cérebro, exigindo-lhe a expansividade das idéias e o desafogo da alma!
Embora não estivesse plenamente convicto de ser o “Salvador” apregoado pelos profetas e esperado pelo povo de Israel, nem se supondo o Messias esperado, estava certo de que sua vida seria consumida no fogo do sacrifício e acima das ilusões do mundo terreno! Não se considerava o missionário descido dos céus para redimir os homens; mas desde jovem vivia de tal modo que os homens poderiam supô-lo perfeitamente o tão desejado Messias em desenvolvimento na face da Terra, para glória e libertação do povo de Deus!
A família consangüínea era para Jesus apenas um ensejo disciplinar, pois o seu amor ultrapassava qualquer limite egocêntrico e afetivo da parentela humana, para se derramar incondicionalmente por todas as demais criaturas. O lar fora-lhe dádiva generosa de Jeová, o repouso e o oásis benfeitor no deserto da vida física; mas não poderia cingir-se a um amor exclusivo e aos interesses pessoais da família. Seu pai, seus irmãos eram um reduto simpático e afetivo; amava-os sinceramente, mas em sua lealdade espiritual e sem poder trair sua índole angélica, a humanidade era o seu único amor!

PERGUNTA:- Finalmente, qual era a disposição emotiva do jovem Jesus para com os demais moços de sua época?
RAMATÍS:- Jesus quedava-se, por vezes, recostado na coluna do pórtico da Sinagoga e punha-se a examinar as fisionomias, os gestos e as expansividades ou faceirices dos seus conterrâneos metidos nos trajes domingueiros, como um bando álacre de criaturas felizes. Mas, senhor de maravilhoso dom de empatia, ou seja, sentia as emoções, gostos e tendências e então ele avaliava os sonhos, as angústias, as esperanças e os ideais dos seus contemporâneos. Via nos jovens despreocupados a figura batida e cansada do futuro velho, cujas rugas, como linhas gráficas, marcariam a estatística do sofrimento da vida material. Era a tortura e o desengano dos sonhos desfeitos da mocidade; a exaustão da existência física, na qual o espírito abate-se do seu vôo feliz, para situar-se nos grilhões superexcitantes da carne! A chama ardente que via nos olhos dos moços, mais tarde se apagaria soprada pelos ventos das desilusões, infidelidade e dores, que formavam o cortejo e a cota de sacrifício onerosa para o espírito habitar o mundo carnal.
Quando os olhares cobiçosos femininos lhe caiam sobre o rosto sereno e de encanto ascético, ele os devassava a fundo, descobrindo-lhes as ansiedades, mas identificando-lhes também os desígnios e as desilusões no futuro, quando dos pesados encargos de família. Jesus, o “belo nazareno”, como o conheciam , vivia cercado de jovens casadoiras, mas em face de sua impossibilidade de devotar-se afetivamente a um só ente e da lealdade fraterna para com todos os seres, não podia alimentar qualquer responsabilidade conjugal. Os desenganos sucediam-se amiúde nos corações femininos e as jovens hebréias não podiam compreender por que o jovem filho de José, o carpinteiro, não acendia no seu coração o desejo ou a paixão humana de escravizar-se a uma só criatura, ou mesmo a uma só família.

Continua....