domingo, 10 de abril de 2011

DÉCIMA NONA PARTE O SUBLIME PEREGRINO

JESUS E SEUS ASPECTOS HUMANOS

PERGUNTA:- Em vista de existirem tantas efígies de Jesus, em pinturas e esculturas, segundo a inspiração de cada artista, isto nos impede de conhecermos asa características exatas ou a expressão da fisionomia do Mestre e do seu porte físico. E visto que o conhecestes pessoalmente, podeis informar-nos a tal respeito?
RAMATÍS:- Jesus era um homem de estatura alta, porte majestoso, de um perfil clássico, hebraico, mas singularmente, também possuía alguns traços imponentes de um fidalgo romano. Delicado NASA formas físicas, porém exsudava extraordinária energia à flor da pele, pois naquele organismo vibrátil as forças vivas da Natureza, aliadas a um potencial energético incomum do mundo etéreo astral, denunciavam profunda atividade mental. A testa era ampla e suavemente alongada; seu rosto triangular, mas cheio de carne, sem rugas ou mancha até aos dias da crucificação. Os lábios, bem feitos, com suave predominância do inferior, nem eram excessivamente carnudos, próprios dos homens sensuais, nem finíssimos e laminados, que lembram a avareza e a dissimulação. O nariz era reto e delicado, sem qualquer curvatura inferior que trai o homem de mau instinto; a barba espessa, um pouco mais escura do que os cabelos, caprichosamente separada ao meio e curta, tornando Jesus o perfil de um dos mais belos homens do mundo.
O psicanalista moderno teria identificado em Jesus a figura do homem ideal, de fisionomia atraente e de uma expressão ao mesmo tempo meiga e enérgica, suave e séria, cujos lábios angélicos bem recortados, mal escondiam o potencial de um Gênio! Seus olhos eram claros, afetuosos e sumamente ternos, mas sempre dominados por uma expressão grave e melancólica; emitiam fulgores, às vezes inesperados, quando Ele parecia ligar-se subitamente às potências superiores. Então se tornavam quase febris, de um brilho estuante de energia moral. Sem dúvida, era o olhar do anjo verberando a maldade e o cinismo dos espíritos satânicos, que tentavam subverter a vida humana, atuando do mundo oculto. No entanto, malgrado esse tom energético de admoestação espiritual severa, jamais desaparecia do seu semblante a expressão de mansuetude e de imensa piedade pelos homens!
A sabedoria e o amor refletiam-se nele na mais pura harmonia. Diante do insulto, do sarcasmo ou da crueldade, seus olhos revelavam uma divina paciência e serenidade. O sábio cedia seu lugar ao anjo apiedado da ignorância humana. Quantas vezes o motejador que ironizava a aparente ingenuidade da filosofia de Jesus não conseguia suportar-lhe o olhar de compaixão, repleto de ternura e piedade para com aquele que não podia compreendê-lo! Era uma doçura queimante na consciência dos sarcásticos, pois sentiam a descobertos, no recôndito da sua alma, todos os seus pecados.
As criaturas curadas por Jesus, diziam que o fulgor de seus olhos penetrava-lhes a medula, qual energia crepitante, transmitindo-lhes misterioso potencial de forças desconhecidas e fazendo eclodir em seu corpo a vitalidade adormecida. Os malfeitores e delinqüentes não escondiam o seu terror diante desses mesmos fulgores veementes, que lhes punham a descoberto na alma o cortejo de vícios, pecados e hipocrisias. Raros homens não se prostravam de joelhos, diante de Jesus, clamando perdão para os seus erros, quando, esmagados pelos pecados, erguiam-se aterrorizados ante a voz imperiosa que lhes dizia:- “Vai e não peques mais”.
No seio da massa heterogênea diante do Mestre, o curioso estava junto ao discípulo atento; e o cínico ensaiava os seus motejos para perturbar o discurso.
Mas o olhar de Jesus, quanto aos que ali estavam com más intenções, penetrava-lhes a alma, devassando-lhes os turvos pensamentos à luz de sua divina compaixão.  Então, os perturbadores assalariados pelo Sinédrio, retiravam-se apreensivos ou mantinham-se em silêncio, baixando a cabeça ao defrontarem o fulgor daquele olhar tão sereno, mas severamente interrogativo e flamejante quando atingia uma consciência subvertida!

PERGUNTA:- Os nosso pintores geralmente apresentam Jesus com um fisionomia essencialmente feminina, olhos grandes e rosto redondo, que nada se parece com o tipo semítico de que ele descendia. Porventura seria a predominância dos traços herdados de Maria, que a tradição diz ter sido uma mulher de rara formosura?

RAMATÍS:- Imaginai um edifício moderno, com o seu arcabouço esquio, mas sólido, porque as suas veias são o aço incursável; suas linhas são severas e nítidas; os contornos singelos, mas impressionantes. No entanto, nesse todo de simplicidade, a decoração e a iluminação revelam aspectos delicadíssimos, em que as cores translúcidas e os suaves matizes completam a beleza do conjunto. À noite, todo iluminado, a sua figura recortada no espaço faz realçar a sua beleza poética por entre as luzes refulgentes e policrômicas.
Jesus herdara do pai asa linhas firmes e energéticas, que lhe davam o aspecto viril; no entanto, através daquela energia e masculinidade, transparecia a beleza radiosa de Maria, cujas feições delicadas, semblante sereno e profundamente místico, justificavam a fama de ser a mais linda esposa da Galiléia! A sabedoria do Alto aliara a energia e a sensatez de José à bondade e à beleza de Maria, cujo fascínio radioso de encantadora boneca de porcelana viva, transparecia na figura atraente do Mestre, acendendo a chama do amor nos corações de muitas mulheres desavisadas da missão grandiosa do sublime nazareno.
O Mestre3 Jesus, portanto, além da simpatia que irradiava, era um moço extremamente belo, cujo andar denunciava a sua majestade angélica, pois havia em seu todo, uma faceirice dos céus! Tudo nele enternecia; a sua palavra era uma esperança para quem o ouvia, pois a graça e a ternura feminina tinham-se conjugado à virilidade masculina. A beleza do anjo confundia-se com a grandeza do sábio!

PERGUNTA:- Os cabelos de Jesus eram louros ou escuros?
RAMATÍS:- Ele possuía cabelos de um louro amendoado, formando as tradicionais volutas ou cachos que lhe caíam pelos ombros à moda nazareno. Nas tardes de céu límpido, em que o vento deslizava suavemente encrespando o dorso dos lagos da Galiléia, Jesus costumava sentar-se nos barcos ali ancorados, a fim de descansar. Quando o poente se tingia de púrpura e de lilás, e os tons esmeraldinos se confundiam com os raios dourados do sol, então seus cabelos fulgiam nesse fundo paradisíaco, cuja cor de amêndoas parecia chamejante, emitindo reflexos fulvos e punha em destaque a beleza angélica de seus traços fisionômicos.
Após a exaustão da puxada das redes e da colheita do peixe, os rudes pescadores exultavam esperançosos de um mundo feliz e acercavam-se de Jesus, para ouvirem-no em suas prédicas consoladoras. Quem era aquele homem tão formoso e de sabedoria tão incomum, cuja eloqüência hipnotizava os seus ouvintes e os fazia sentirem-se num reino de Bondade e de Amor, onde os pobres e os sofredores viveriam eternamente felizes adorando o seu Criador?

PEERGUNTA:- Em face da tradição religiosa, fica-se com a impressão de que o Mestre Jesus tinha uma vida excêntrica, absolutamente introspectiva sendo avesso a qualquer emotividade do mundo. Estaremos equivocados a esse respeito?

RAMATÍS:- Jesus era dotado de um temperamento sereno e equilibrado no contato com as criaturas humanas, pois embora vivesse sob profunda tensão espiritual interior, em face do potencial angélico que lhe oprimia a carne, sabia contentar-se e ninguém pôde-lhe apontar gestos e atitudes de cólera por sentir-se ofendido ou desatendido. Era um homem excepcional; porém, sujeito a todas aas necessidades fisiológicas do corpo físico, mas de uma vida regrada inconfundível.
Ele não se negava às relações sociais e comuns com o mundo exterior, nem verberava a alegria e o divertimento humanos. Participava gentilmente das festividades e tradições religiosas do seu povo, mas o fazia sem os exageros entusiásticos das almas infantis. Expressava o suave sorriso de Maria nos júbilos domésticos ou nos reencontros afetivos, mas jamais se excedia na gargalhada descontrolada ou no choro compungido do sentimentalismo humano. Ante asa cenas humorísticas, mas cheias de simplicidade das festas regionais de sua terra natal, sua fisionomia era tomada de um sorriso tolerante e, por vezes, travesso; mas diante das cenas cruéis, como as das crianças escravizadas, cegas e vítimas de queimaduras nos trabalhos escravos das fundições de Tiro, a piedade fazia-lhe estremecer o corpo delicado, ou então se angustiava, batido pelo vendaval agressivo da maldade humana. O suor umedecia-lhe a fronte e a palidez tomava-lhe as faces, ao contemplar o panorama aflitivo das misérias e das atrocidades do mundo!

PERGUNTA:- Alguns investigadores da vida de Jesus dizem que ela era lago enfermo, mesmo sujeito a alucinações. E que adotava rigorosa dieta alimentar. Há fundamento nessa afirmativa?
RAMATÍS:- Embora não tenham fundamento os exagerados jejuns de quarenta dias no deserto, que também lhe foram atribuídos, ele realmente socorreu-se, algumas vezes, do jejum absoluto, como delicadíssima terapêutica para conservar seu espírito no comando da carne. Não se tratava de nenhuma prática iniciática ou obrigação religiosa; era apenas um recurso sublimado e admissível em entidade tão excelsa como Jesus, cuja consciência angélica ultrapassava os limites da suportação comum de um organismo humano! O jejum desafoga a circulação sangüínea dos tóxicos produzidos nas trocas químico-físicas da nutrição e assimilação; debilita asa forças agressivas o instinto inferior, aquieta a natureza animal, clareia a mente e o sistema cérebro-espinhal passa a ser regado por um sangue mais límpido.
Durante o repouso digestivo, a natureza renova suas energias, restaura os órgãos enfraquecidos, ativa o processo drenativo das vias emuntórias, por onde se expulsam todos os tóxicos e substâncias prejudiciais ao organismo. É obvio que o jejum enfraquece, devido à desnutrição, mas compensa porque reduz o jugo da carne e desafoga o espírito, permitindo-lhe reflexões mais lúcidas e intuições mais certas.
Durante o enfraquecimento orgânico pelo sofrimento, ou jejum, as faculdades psíquicas se aceleram e a lucidez espiritual se torna mais nítida, conforme se verifica em muitas criaturas prestes a desencarnar, pois recuperam sua clareza mental e rememoram os mais longínquos fatos de sua existência humana, desde a infância. A queda das energias físicas costuma proporcionar maior liberdade à consciência do espírito; há uma tendência inata de fuga da alma, para fugir do seu corpo físico, assim que ele se enfraquece. Diz o vulgo que as criaturas, no auge da febre, costumam “variar”, isto é, são tomadas de alucinações, chegando mesmo a identificar conhecidos que já desencarnaram, assim como vêem figuras grotescas, insetos ou coisas estranhas, que não são do mundo material.
Assim, o jejum também era para Jesus o recurso benéfico com que contemporizava a excessiva tensão do seu próprio Espírito na carne. Sua fabulosa atividade mental provocava excessivas saturações magnéticas na área cerebral; seu corpo embora sensibilíssimo e hígido em todo o seu sistema orgânico era acanhadíssimo veículo para atender às exigências de sua extensa consciência sideral. Os neurônios e centros sensoriais permaneciam continuamente num estado de alta tensão, assim como a lâmpada modesta ameaça romper-se pela energia demasiadamente vigorosa que lhe vem da usina.
O Anjo é a entidade mais aproximada dos atributos de Deus, como sejam: a Sabedoria, o Poder, a Vontade e o Amor. Em conseqüência, possui qualidades superiores às do tipo espiritual ainda reencarnável na Terra. O organismo físico não lhe oferecia os recursos necessários para permitir-lhe uma relação perfeita entre o mundo angélico e o material. Mesmo que ele não houvesse sido crucificado aos 33 anos, não teria sobrevivido por muito tempo, pois o seu corpo carnal já se mostrava exaurido e incapacitado para atender-lhe o ato grau de suas exigências mentais.
O Mestre Jesus foi, indiscutivelmente, a entidade da mais alta estirpe sideral que já desceu ao vosso orbe. A sua consciência ampla e poderosa lutava assombrosamente para firmar-se no comando de um cérebro humano. Era um divino balão cativo preso por delicadíssimos fios de seda. Se espírito super ativo e em permanente vigília, envidava heróicos esforços para abafar asa energias estuantes da vida animal, que se multiplicavam na esfera instintiva e tentavam dominá-lo tanto quanto ele as repelia. Inegavelmente, tratava-se de uma consciência angélica de sereno conteúdo espiritual, que deveria proporcionar euforia à carne, mas a sua força, sabedoria e poder, extravasavam pela fronteiras da consciência humana.
Aliás, a tradição religiosa terrena sempre pintou o anjo como a entidade resplandescente, de fulgores ofuscantes. Satanás, como símbolo do instinto animal, dobra os joelhos diante de Miguel Arcanjo, quando é chicoteado pelo excesso de luz que o enfrenta. Embora o Sol seja um potencial criador e benéfico, debaixo dos seus raios ardentes até o “iceberg” se aniquila. Muitos homens célebres do vosso mundo, como poetas, escritores, músicos, escultores e filósofos, têm apresentado fases anormais, mostrando-se perturbados antes a tensão muito acentuada do seu espírito sobre o sistema Nero cerebral. (Vide a obra “Doentes Célebres”, de Gastão Pereira da Silva, da coleção do livro de bolso, etiqueta “Estrela de Ouro em que o autor faz um estudo minucioso sobre diversos homens famosos, anotando-lhes o estado de espírito perturbador, como no caso de Allan Poe, Hoffmann, Dostoievsky, Paganini, Van Gogh, Tchaicovsky, Nietzsche e outros. Aliás, tanto a notícia trágica, como a surpresa e o júbilo da fortuna inesperada podem afetar o cérebro humano ante a carga sem controle que o espírito lança sobre a massa cinzenta.
O dinamismo espiritual fabuloso do Espírito de Jesus, atuando incessantemente sobre a fragilidade do seu cérebro físico, quase o levava à clássica “surmenage”, além de exigir-lhe os mais dificultosos esforços para manter=se no mecanismo vivo da carne. O homem moderno hoje reconquista ou compensa as suas funções mentais e o gasto excessivo de energias no processo fatigante das elucubrações mentais cerebrais, socorrendo-se das medicações energéticas e vitaminadas, principalmente à base de fósforo ou ácido glutâmico. Porém, Jesus, após a exaustão cerebral, sob a tensão mental incomum do seu Espírito, só obtinha equilíbrio e socorro orgânico através da prece e dos fluidos energéticos, que lhe eram ministrados do mundo oculto pelos seus fiéis e devotados amigos espirituais!
A fadiga transparecia-lhe cada vez mais funda no semblante angélico, à medida que se sucediam os anos de sua vida física; por vezes, descoloriam-se-lhes as faces e o suor alforjava-lhe à fronte, enquanto sob intensa sensibilidade o corpo perdia temperatura e parecia açoitado por um vento gélido. Inúmeras vezes os seus discípulos temeram vê-lo cair sem vida, pois o seu generoso coração arfava perigosamente e o corpo estremecia sob o alto potencial angélico.
No entanto, espírito corajoso e vivendo exclusivamente para o Ideal redentorista do terrícola, Jesus tudo fazia para suportar o fardo da carne e continuar em atividade no cenário da Terra, rogando ao Pai que o mantivesse em condições de ultimar sua obra abençoada! O seu espírito, preso por um fio de linha ao diminuto mundo da carne, parecia mil raios de sol convergindo sobre a lente do cérebro precário e atuando sob vigorosa voltagem.  Que seria do frágil moto elétrico, construído para suportar a carga máxima de 120 volts, caso, de súbito, recebesse o potencial de 13.000 volts, diretamente da usina elétrica?
Anjo exilado na matéria, o Alto então lhe oferecera a encantadora moldura feita de luz, cor e poesia de Nazaré, para amenizar-lhe um pouco a condição aflitiva de permanecer algum tempo segregado na carne, no desempenho generoso e sacrificial a serviço da criatura humana!

PERGUNTA:- Através da leitura de certa biografia de Jesus, tivemos conhecimento de que ele era realmente um enfermo, porque suava sangue pelos poros. Que dizeis?
RAMATÍS:- Não ignoramos os sentenciosos diagnósticos de alguns médicos terrenos, envaidecidos pela ciência acadêmica, e que procuram situar Jesus na terminologia patogênica de “hematidrose”, porque ele exsudava suores impregnados de sangue. (“E veio-lhe um suor, como de gotas de sangue, que corria sobre a terra” (Lucas. XXII, vs. 44). Aliás, a própria medicina, até certo tempo, considerava a sangria excelente terapêutica para os casos de síncope e apoplexia).
Escritores e médicos presunçosos procuram explicar a hiperfunção das glândulas sudoríparas de Jesus num esquema patológico, porque ignoram, em absoluto, que o organismo carnal do Mestre é que lançava mão de recursos de emergência, para subsistir ante a carga espiritual poderosa que lhe atuava além da resistência biológica humana. Ele vivia sob estados febris e excitações incomuns, em dramática luta para manter-se sob o excesso do potencial que lhe descia do céu, procurando a matéria e fluindo pelo seu corpo, como se este foram realmente um poderoso fio-terra vivo.
A sua natureza carnal processava verdadeira descarga fluido magnética através do sistema glandular, cuja exsudação sangüínea jamais poderá ser considerada um ataque específico e mórbido de “hematidrose”. Após este fenômeno, tal qual aconteceu no Horto das Oliveiras, às vésperas do sacrifício no Calvário, o Espírito do Mestre desafogava-se adquirindo certa liberdade sobre o corpo desfalecido, exausto e febril. O Divino Mestre era um cadinho de química transcendental fabulosa, no qual se processavam aas mais avançadas reações dos problemas espirituais. O passado e o futuro não tinham limites de graduação na sua mente poderosa e genial; os conceitos mais insignificantes poderiam se tornar sentenças milenárias sob o toque mágico de sua alma.
Desde moço ele misturava-se com os forasteiros e mercadores provindos do Egito, da Índia, Caldéia, Grécia, África e outros extremos do orbe. Fazia questão de prestar-lhes pequenos favores nos entrepostos das estradas, só para ouvi-los falar de outros povos e outras terras. O jovem nazareno, admirado e querido por todos, graças ao seu aspecto atraente e sua fisionomia sempre serena, como pela sua atenção e cortesia, deliciava-se fascinado, ouvindo as minúcias dos costumes, do folclore, dos sonhos, dos ideais e das realizações de outros povos que viviam além das fronteiras da Judéia. Ágil de memória, tenaz indagador e jamais satisfeito em sua curiosidade sadia e construtiva, Jesus hauria, emocionado, o conteúdo das histórias de outros homens e formava o amálgama do conhecimento psicológico e filosófico do mundo, que mais tarde tanto surpreendeu e ainda surpreende os seus biógrafos.
Quem poderia supor que Jesus, o jovem filho de José, o carpinteiro, um moço de olhos esplendorosos, insaciável nas suas indagações de “sabe tudo”, carregava nos ombros frágeis a cruz das dores e do sofrimento de todos os homens? Quem poderia prever a sua renuncia, o seu sacrifício e heroísmo diante da morte carnal, para transfundir a luz do Cristo Planetário às sombras tristes do orbe terráqueo? Entre todas as mensagens trazidas dos mais longínquos lugares da Terra, era ele o portador, o genial compilador do mais elevado Código Moral de ajuda à humanidade.
Essa assimilação rápida de verdadeira catadupa de conhecimentos os mais exóticos, difíceis e impossíveis ao homem comum, causava espanto aos próprios rabis e intelectuais da época. Em breve, Jesus era conhecido como “um homem de letras e de ciências, que tudo sabia, sem ter sido visto a estudar”! A sua mente, como poderoso catalizador, num ápice de segundo solucionava as equações mais complexas e concluía sensatamente sobre as premissas mais difíceis da psicologia e filosofia humanas. De um punhado de idéias, era como um jardineiro genial, que se um buquê de flores conseguisse descrever o aspecto formoso e o perfume encantador de todo o jardim policrômico!
Jamais Jesus precisou seguir os mesmos métodos didáticos dos homens terrenos, pois sua alma, como divina esponja sidéria, abrangia a síntese da vida terrena em toda sua força e manifestação educativa. Sabendo e podendo acumular em si mesmo o “quantum” da vida “psicofísica” que o cercava nos dois planos, o oculto e o material, logo se desenvolveu nele a força e a capacidade para ser o guia inconfundível dos homens ainda cegos pela sede de ouro, violência e ardor das paixões! Por isso, logo afirmou com segurança e o fez com êxito: “Eu dou o Caminho, a Verdade e a Vida”, e “Quem não for por mim, não irá ao Pai que está nos céus!”
Jesus, em verdade, anjo e sábio, formava o mais avançado binômio sidério no mundo material; não existe, jamais existiu filósofo, líder religioso ou Instrutor Espiritual sobre a Terra, que tenha vivido em si mesmo uma realização tão integral como Ele a viveu. Ninguém poderá igualá-lo em fé, coragem, renúncia e amor, pois além do seu desprendimento aos bens do mundo, dominou completamente as paixões humanas.
O Cristo Jesus, portanto, ontem, hoje e amanhã, será sempre o Mestre insuperável; porém, o homem sadio e perfeito, não o enfermo classificado pela patologia médica ou o espírito sob o rigor da retificação cármica!

PERGUNTA:- Certos estudiosos da vida de Jesus chegam a afirmar que Ele era analfabeto, motivo por que nada deixou escrito nem se sabe se Ele escreveu algo. Há qualquer fundamento nessa afirmação?
RAMATÍS:- Se até Pedro, que era um rude pescador, sabia ler e escrever, como não o saberia Jesus? O Mestre era escorreito na linguagem e, quando escrevia, estereotipava na precisão dos caracteres gráficos a exatidão do seu pensamento e a poesia do seu sentimento! Exato, lógico e parcimonioso na sua grafia, não empregava uma vírgula além do necessário! Se um grafólogo moderno examinasse os seus escritos, teria descoberto o homem perfeito, em que a retidão, a sinceridade, o espírito de justiça e o amor absoluto se mostrariam harmonizados na tessitura das frases límpidas de atavismos ou artifícios supérfluos.
Agrafia de Jesus era um tanto nervosa, mas revelando altíssima sensibilidade e sem perda do domínio mental; os caracteres claríssimos, distintos e alinhavados em perfeito equilíbrio. Tanto no falar como no escrever, Jesus era avesso à verborragia, à logomaquia peculiar dos pseudos sábios ou políticos terrícolas, que tecem exaustivos circunlóquios para expor, mas se perdem pela dramaticidade das idéias mais prosaicas. Jesus escrevia pouquíssimo, e por uma razão simples: sabia dizer em meia dúzia de vocábulos aquilo que a complicação do pensamento humano só o pode fazer esgotando páginas extensas. Reto no pensar, no falar e no escrever, um ponto tirado à sua escrita lembrava uma parede afastada do seu prumo. Basta observarmos a precisão do Sermão da Montanha, a composição do “Ama o teu próximo como a ti mesmo”, ou “Buscai e achareis”, para se verificar que tais conceitos evangélicos dispensam qualquer novo acréscimo de adjetivos ou ornamentos para sua maior valiosidade, assim como jamais podem dispensar uma letra de sua estrutura vocabular.

PERGUNTA:- Há alguma prova de que Jesus soubesse escrever?
RAMATÍS:- É justamente num dos momentos mais importante, lembrados em sua mensagem evangélica, que se observa Jesus a escrever. Diante da mulher adúltera, sua divina mão traçou na areia as palavras de censura, reveladora das mazelas daqueles escribas e fariseus que queriam apedrejá-la (João, VIII VS. 3, 11): “O que de nós outros está sem pecado, seja o primeiro que a apedreje”. Silenciosamente, enquanto alguns dos mais ousados perseguidores da adúltera fizeram mensão de atirar-lhe pedras, o Mestre apanhou de uma vara frágil e traçou no solo as palavras “trapaceiro”, “hipócrita” e “perjuro”, o que fez recuar a turba de julgadores.
Jesus viva o que pensava e pensava que vivia, por isso não precisou deixar compêndios doutrinários. Antevendo o sofisma e a astúcia do homem – inescrupuloso quando procura garantir os seus exclusivos interesses – o Mestre preferiu deixar que outros escrevessem para a posteridade.
Antes a confusão sobre o que ele possivelmente teria dito, em vez da confusão sobre o que teria escrito. Qualquer testemunho escrito que tivesse deixado serviria de pretexto para justificar a paternidade de outros milhares de mistificações espalhadas sob o seu augusto nome.

PERGUNTA:- No encerramento deste capítulo sobre os aspectos humanos de Jesus, poderíeis dar-nos uma imagem mais nítida de sua juventude?
RAMATÍS:- Embora jovem, Jesus já tinha o aspecto grave e austero próprio do homem idoso; mas era de porte imponente e seus olhos serenos, penetrantes e profundos, malgrado refletissem a melancolia que o dominava desde a infância, eram plenos de uma ternura quase feminina. Atingira os dezenove anos e já sofria imensamente ao verificar que entre os seus próprios familiares e conterrâneos, não era compreendido no seu Ideal messiânico, comprovando-se, mais uma vez, o velho ditado de que “ninguém é profeta nem faz milagres em sua terra!” Tomado por incessante ebulição interior, e devotado somente às coisas definitivas, como os bens do espírito, era um moço indiferente aos anseios das hebréias formosas que desejavam desposá-lo.
Tentara diversos empregos, os mais variados, tanto em Nazaré como em Jerusalém, no intento de cooperar com o orçamento de sua modesta família; porém, não conseguia ajustar o seu espírito cósmico nas tricas do trabalho humano, nem suportava a imobilidade de concentrar-se exclusivamente num objeto que, de início, já reconhecia fugaz e transitório. Não era defeito de um jovem ocioso e avesso ao labor comum e às obrigações de todo se humano; mas a impossibilidade de controlar e enfeixar a força fabulosa que lhe descia sobre o cérebro, exigindo-lhe a expansividade das idéias e o desafogo da alma!
Embora não estivesse plenamente convicto de ser o “Salvador” apregoado pelos profetas e esperado pelo povo de Israel, nem se supondo o Messias esperado, estava certo de que sua vida seria consumida no fogo do sacrifício e acima das ilusões do mundo terreno! Não se considerava o missionário descido dos céus para redimir os homens; mas desde jovem vivia de tal modo que os homens poderiam supô-lo perfeitamente o tão desejado Messias em desenvolvimento na face da Terra, para glória e libertação do povo de Deus!
A família consangüínea era para Jesus apenas um ensejo disciplinar, pois o seu amor ultrapassava qualquer limite egocêntrico e afetivo da parentela humana, para se derramar incondicionalmente por todas as demais criaturas. O lar fora-lhe dádiva generosa de Jeová, o repouso e o oásis benfeitor no deserto da vida física; mas não poderia cingir-se a um amor exclusivo e aos interesses pessoais da família. Seu pai, seus irmãos eram um reduto simpático e afetivo; amava-os sinceramente, mas em sua lealdade espiritual e sem poder trair sua índole angélica, a humanidade era o seu único amor!

PERGUNTA:- Finalmente, qual era a disposição emotiva do jovem Jesus para com os demais moços de sua época?
RAMATÍS:- Jesus quedava-se, por vezes, recostado na coluna do pórtico da Sinagoga e punha-se a examinar as fisionomias, os gestos e as expansividades ou faceirices dos seus conterrâneos metidos nos trajes domingueiros, como um bando álacre de criaturas felizes. Mas, senhor de maravilhoso dom de empatia, ou seja, sentia as emoções, gostos e tendências e então ele avaliava os sonhos, as angústias, as esperanças e os ideais dos seus contemporâneos. Via nos jovens despreocupados a figura batida e cansada do futuro velho, cujas rugas, como linhas gráficas, marcariam a estatística do sofrimento da vida material. Era a tortura e o desengano dos sonhos desfeitos da mocidade; a exaustão da existência física, na qual o espírito abate-se do seu vôo feliz, para situar-se nos grilhões superexcitantes da carne! A chama ardente que via nos olhos dos moços, mais tarde se apagaria soprada pelos ventos das desilusões, infidelidade e dores, que formavam o cortejo e a cota de sacrifício onerosa para o espírito habitar o mundo carnal.
Quando os olhares cobiçosos femininos lhe caiam sobre o rosto sereno e de encanto ascético, ele os devassava a fundo, descobrindo-lhes as ansiedades, mas identificando-lhes também os desígnios e as desilusões no futuro, quando dos pesados encargos de família. Jesus, o “belo nazareno”, como o conheciam , vivia cercado de jovens casadoiras, mas em face de sua impossibilidade de devotar-se afetivamente a um só ente e da lealdade fraterna para com todos os seres, não podia alimentar qualquer responsabilidade conjugal. Os desenganos sucediam-se amiúde nos corações femininos e as jovens hebréias não podiam compreender por que o jovem filho de José, o carpinteiro, não acendia no seu coração o desejo ou a paixão humana de escravizar-se a uma só criatura, ou mesmo a uma só família.

Continua....

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