domingo, 10 de abril de 2011

O SUBLIME PEREGRINO - VIGÉZIMA PRIMEIRA PARTE

A INFLUÊNCIA BENFEITORA DO POVO
GALILEU NA OBRA DE JESUS

        PERGUNTA:- Gostaríamos de conhecer maiores particularidades quanto à contribuição do povo Galileu na tarefa messiânica de Jesus. É possível?
        RAMATÍS:- O povo Galileu era habituado à simplicidade; não gozava da abastança que choca os necessitados, mas também não sofreia a miséria que confrange os mais ricos. Era realmente um povo amável, respeitador e profundamente hospedeiro, facilmente compreensivo para com as necessidades do próximo e sentia-se mesmo eufórico em servir. Esse temperamento e modo peculiar do Galileu, que o fazia feliz com o hóspede na cabeceira de sua mesa, certo de que isso era muitíssimo agradável a Jeová, deu margem para que Jesus firmasse inúmeras lições que louvavam a caridade e insistiam no espírito de hospedagem. Mas o seu temperamento era algo rixoso, pois discutiam facilmente por qualquer assunto religioso, embora sem as capciosidades dos fariseus ou a obstinação dos saduceus. Os homens eram barulhentos em suas pescas, negócios, festas e peregrinações; as mulheres tímidas, serviçais, humildes e algo supersticiosas.
         Desde a mais tenra infância, os galileus acostumavam-se à incondicional obediência aos preceitos religiosos e à vontade de Jeová! Eram essencialmente comunicativos com seu Deus e faziam pouca diferença entre a vida carnal e a vida espiritual, quase despercebidos da divisa que os separava do Além! Isso era uma peculiaridade comum de todo o povo judeu, que mal poderia apontar onde começava a vida objetiva e terminava a subjetiva, desde que se tratasse de assuntos religiosos. Jeová fazia parte tão integrante de suas vidas, de suas devoções, dos seus prazeres e negócios, que jamais eles poderiam manifestar qualquer dúvida na sua crença religiosa.
        Antes de exigirem favores de Jeová, eles o adoravam através de oferendas diárias, da obediência absoluta, dos louvores e hosanas que tributavam sob qualquer pretexto na sua vida em comum. Quando o Senhor não lhes correspondia nas lutas, nos negócios, na libertação contra o inimigo, os judeus não se rebelavam nem descriam; mas apenas se entristeciam tal qual os filhos obedientes e afetuosos se conformam com as negativas dos pais. No entanto, qualquer favor mais insignificante atribuído a Jeová era motivo sagrado para eles oferecerem em seu louvor o melhor casal de pombos, o carneiro mais gordo, o vaso de óleo mais cheiroso, o incenso mais fragrante trazido da Índia, o presente mais terno buscado em Alexandria. Não era um tributo convencional e interesseiro, mas uma oferenda cheia de mimos e de cuidados.
       
PERGUNTA:- Alhures, dissestes que os galileus eram menos apegados aos ritos e às obrigações religiosas. Não é assim?
        RAMATÍS:- Realmente, isso era verdade; aliás, a Galiléia ficava ao norte de Jerusalém e por isso os seus habitantes não podiam freqüentar tão assiduamente o Templo, como os judeus que ali moravam. Essa dificuldade enfraquecia-lhes o gosto ou o dever das oferendas constantes, relaxando-lhe o compromisso religioso tão arraigado entre os jerusalemitas. Pouco a pouco, descuravam de suas obrigações para com o Templo; e à medida que Jesus lhes incutia no espírito a natureza espiritual do “reino de Deus”, afastavam-se das observâncias exteriores das leis e das prescrições mosaicas, apegando-se, cada vez mais, aos rabis itinerantes.
Os galileus jamais poderiam assistir a qualquer cerimônia privada no Templo. Eram condenados pelos fariseus, porque lhes faltava o espírito de nacionalidade judaica; e ainda admitiam dúvidas ou novas interpretações sobre os ensinos de Moisés, considerados imutáveis; de outro lado, sofriam os ápodos e as críticas dos saduceus porque, além de lhes faltar a aristocracia judaica, enfraquecia-lhes a confiança nos sacerdotes e se apegavam mais propriamente aos seus rabis empoeirados. Os galileus, na realidade, consideravam sua religião como pura emotividade de espírito e não como ferrenho código de moral.
        Eis aí alguns rápidos traços do povo Galileu, que, em sua peculiaridade afetiva, sua crença religiosa de amor a Jeová, seu temperamento amoroso e hospedeiro, o fizeram a moldura viva da obra messiânica de Jesus. Assim como o fermento leveda a massa da farinha e lhe favorece o crescimento, o povo Galileu também foi o fermento humano que deu força iniciática e divulgou o Evangelho do Mestre Jesus, o qual jamais encontraria tanta afetividade, compreensão e amor para o sucesso dos seus ensinamentos. Ele não teria nenhum êxito, se os pregasse de início, entre os saduceus orgulhosos e os fariseus intrigantes, que se apegavam à letra da Lei como o carrapato ao couro do animal. O povo Galileu, alegre, ativo, buliçoso, rixento, sincero na sua fé e puro na sua amizade, foi realmente, o verdadeiro ensaio para o advento do Cristianismo!

        PERGUNTA:- Reconhecendo que a paisagem da Galiléia e a hospitalidade dos galileus foram de influência benéfica, catalisando asa atividades de Jesus, gostaríamos de sabe como ele assentou as bases doutrinárias do Cristianismo entre as raças tão diferentes?
        RAMATÍS:- Aquilo que vos pode parecer deficiente ou dificultoso, no início da obra de Jesus, foi-lhe de excelente proveito em face de sua agudeza espiritual e conhecimento profundo dos sentimentos humanos. As divergências próprias de indivíduos originários de raças antagônicas, assim como as discórdias comuns entre os galileus, serviam a Jesus como um verdadeiro ensaio para o seu treino espiritual na confecção do Evangelho destinado à humanidade. O ambiente em que vivia também lhe permitia proveitosa auscultação sobre a natureza dos homens, sem necessidade de percorrer o mundo e então conhecer os variados caracteres da humanidade.
        O Mestre não fugia do contato diário com todos os habitantes do lugar, embora preferisse ficar à tona das cizânias, rixas e contendas de todas as espécies. Em vez de atear fogo aos conflitos e embates religiosos, ele sempre interferia com a palavra amorosa e sincera, acima dos preconceitos, costumes e das tradições de raças e de religião. Graças ao seu sublime entendimento espiritual, conseguia harmonizar o entendimento sobre os temas expostos e contentava ambos os adversários, quer amainando as tempestades do personalismo humano, como amenizando as paixões dos contendores. Os conflitos mais violentos logo perdiam o seu ardor e enfraquecia-se o ânimo dos rixentos, assim que percebiam a aproximação de Jesus.
        Os idiomas, os dialetos, as devoções e os costumes diferentes dos seus conterrâneos faziam considerá-lo como a miniatura da própria humanidade terrena, a qual também se subdividia em matéria de fé, sentimento, religião e política.
        Jesus meditava sobre a natureza humana ainda tão animalizada e ignorante, na sua insatisfação, avareza, crueldade, cupidez, no seu amor próprio e orgulho de raça. Essas paixões e os desejos incontrolados eram realmente os motivos responsáveis pelos desentendimentos entre os homens, os quais, assim como os animais, só se mostravam inofensivos quando bem alimentados, fartos, gozando saúde e satisfeitos no seu instinto sexual.
        E o Mestre entristecia-se verificando que o homem precisava tão pouco para ser feliz, bastando-lhe somente amenizar o deseja cúpido e domesticar as paixões violentas, para ele ser mais venturoso e substituir os prazeres transitórios da carne pelos prazeres duradouros do espírito. Então se propunha ensinar a criatura humana, transmitindo-lhe um pouco da ventura espiritual, que era o seu estado normal da alma.  Ali, na Galiléia, ele vislumbrava representantes das principais raças do mundo, cujos homens eram portadores de todas as paixões, vícios e ardis. Juntamente com algumas virtudes benfazejas, também se manifestavam neles  todos os tipos de pecados humanos, motivo por que a Galiléia então lhe parecia um mostruário vivo dos espécimes representativos de toda a humanidade.
        Jesus bem sabia da inutilidade e inoperância dos tratados civis, das leis e dos códigos penais, das doutrinas e das seitas religiosas do mundo, que tentassem disciplinar a conduta humana, porquanto a repressão moral não educa o coração do homem! Nem o culto religioso, a disciplina filosófica, nem os conceitos avançados de ética poderiam extirpar do coração dos homens as paixões e os vícios se atuassem do “exterior” para o “interior”. O êxito só poderá ser do centro para a periferia, do mundo oculto para o visível, do espírito para a mente, e na forma de um sentimento tão amoroso que consiga purificar os pecados da própria alma.
        Então Jesus compreendeu que, para o homem tornar-se altruísta, teria de ser explorado no próprio egoísmo; visando ao seu maior bem também poderia visar ao bem do próximo. Jamais alguém poderia dar aquilo que ainda não possuísse realizado e satisfeito em si mesmo. O homem, primeiramente, teria de ser egoísta, isto é, acumular até sua plena satisfação, para depois sentir prazer de doar, de repartir. Por isso, seria preciso transbordar os homens de amor, a fim de que eles passassem a amar-se uns aos outros. Partindo do próprio egoísmo da criatura preferir o máximo bem para si, Jesus lançou então a sua máxima ou principio surpreendente e de maior sublimidade no ser: - “Ama o próximo como a ti mesmo”. O egoísmo, tão gélido e separatista, principal sustentáculo ou cogitação da personalidade humana, então serviria para cimentar o fundamento do próprio Amor, em relação ao próximo.
        Jesus não visava aniquilar a “força” do egoísmo, mas apenas inculcar-lhe um sentido proveitoso em benefício do próximo. O amor a si mesmo seria, pois, a ação dinâmica do amor a outrem. Utilizando o seu admirável dom de percepção espiritual, Jesus procurava identificar em si mesmo, quais seriam as reações morais do espírito diante da injustiça, da ingratidão, da perversidade ou do egoísmo humanos. Ele não acusava mágoas ou ressentimentos, nem sofria intimamente a agressão ou o insulto alheio, mas buscava conhecer as torturas a que se submetem as criaturas terrenas, mortificadas pelos seus próprios pecados e vícios. No entanto, reconhecia que os homens eram perversos, orgulhosos ou avaros, porque também eram ignorantes e imaturos de espírito. Indubitavelmente, em vez de serem condenados ou mesmo censurados, eles precisavam ser esclarecidos ou ensinados, quando ao verdadeiro motivo da vida e a responsabilidade do espírito eterno!
        Assim como os animais selvagens se tornam pacíficos e serviçais depois de domesticados, os homens, ainda que extremamente imperfeitos, também podem ser bons e ternos, domesticando suas paixões, em vez de atacá-las de modo agressivo. Jesus, alma sublime e generosa, propôs-se então ensinar os homens e torná-los dignos da ventura do “reino de Deus”, onde a paz de espírito é o fundamento principal da existência paradisíaca. Mas também reconhecia a necessidade de viver as lições a serem ministradas à humanidade, se quisesse, realmente, conquistar a confiança dos terrícolas. Só através do seu exemplo pessoal, da completa renuncia a todos os bens e prazeres do mundo, sofrendo estoicamente na própria carne as dores das ingratidões e agressividade alheias, ele então poderia demonstrar a sua fé incondicional e submissão absoluta à vontade de Deus atraindo assim a confiança os homens.
        Jesus, dali por diante, fixou-se definitivamente no tema, que além de lhe assegurar a glória entre os anjos, ainda o consagrou entre os homens – o Amor! Só pelo Amor valia a Vida; só pelo Amor o homem se salvaria! Nenhum outro sentimento, fora do Amor, poderia irmanar o logo e o cordeiro, o amigo e o inimigo, o publicano e o santo, o crente e o atue, o mau e o bom, o rico e o pobre! O amor, portanto, seria o lema definitivo de todas as suas pregações, conforme ele comprovou em todos os momentos de sua vida, de sua paixão e morte. Até o derradeiro apelo quando, do cimo da cruz e diante das multidões alvoroçadas e sarcásticas, dirigiu ao Criador aquela rogativa patética, de misericórdia infinita, dizendo:- “Pai! Perdoai-lhes, pois eles não sabem o que fazem!”

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