sexta-feira, 5 de novembro de 2010

**JESUS E SUA INFÂNCIA**

O SUBLIME PEREGRINO

DÉCIMA SEXTA PARTE

JESUS E SUA INFÂNCIA

PERGUNTA:- Por que motivo as diversas obras sobre a vida de Jesus silenciam quanto à sua existência entre os doze e os trinta anos de idade?

RAMATÍS:- Realmente, os historiadores profanos, até os mais imaginativos não puderam preencher essa lacuna na vida de Jesus; e também as próprias escolas ocultistas e principalmente a rosa-cruz, por vezes, divergem até quanto à data da morte e à idade com que o Mestre desencarnou na cruz. Inúmeras conjeturas têm sido feitas para explicá-la, uma vez que os próprios discípulos, nos seus relatos evangélicos, também parecem ignorar o assunto. E assim, a pena dos escritores mais exaltados e místicos, descreve Jesus com um ser mitológico, cuja vida fantasiosa discrepou completamente dos acontecimentos e das necessidades da vida humana. Noutro extremo, os inimigos figadais da fantasia e apegados fanaticamente aos postulados “positivos” da ciência terrena, biografaram Jesus à conta de um homem comum e sedicioso, espécie de líder de pescadores e campônios, que fracassou na sua tentativa de rebelião contra os poderes públicos da época. Os mais irreverentes chegam mesmo a considerar que na atualidade o caso de Jesus seria apenas um problema de ordem policial!

É muito difícil, para tais escritores extremistas, compreenderem a situação exata de um anjo descido das esferas paradisíacas até situar-se em missão redentora no vale der sombras terrenas. Jesus não foi o homem miraculoso ou santo imaterial, cujos gestos, palavras e atos só obedeciam ao figurino celestial decretado por Deus; mas, também, não era um homem vulgar tomado de ambições políticas e desejoso de falsas glorias do mundo material. Nem criatura diáfana acima das necessidades humanas, nem arruaceiro buscando o triunfo nos bens terrenos! Em verdade, onde terminava o anjo começava o homem, sem romper o equilíbrio psicológico ou discrepar dos seus contemporâneos.

PERGUNTA:- O que nos dizeis sobre a infância de Jesus?

RAMATÍS:- A infância do menino Jesus, aparentemente, transcorreu de modo tão comum quanto a dos demais meninos hebreus, seus conterrâneos. Conforme já dissemos, ele discrepava dos demais meninos devido à sinceridade e franqueza com que julgava as coisas do mundo, sem sofismas ou hipocrisia. Algumas vezes causava aflições aos próprios pais, provocando comentários contraditórios entre aquela gente conservadora, que jamais poderia compreender o temperamento de um anjo exilado na carne e incapaz de se acomodar aos interesses prosaicos do ambiente humano.

A vida de Jesus transcorreu adstrita aos costumes das famílias judaicas pobres e de descendência fértil, o que ainda é muito comum na Judéia atual. Os escritores que biografaram sua vida, quase sempre teceram comentários ao sabor de sua imaginação e absolutamente crentes de que ele foi uma criança submissa aos preconceitos e sofismas da época. Assim, a lenda e o absurdo transformaram a vida do ser incomum que foi Jesus, num Deus vivo imolado na cruz da redenção, depois de ter vivido existência incompatível com a realidade humana!

PERGUNTA:- Qual era o aspecto físico do menino Jesus?

RAMATÍS:- Era um menino encantador, de olhos claros, doces e aveludados, como duas jóias preciosas e de um azul-esverdeado encastoadas na fisionomia adornada pela beleza de Maria e cunhada pela energia de José! Vestia pobremente, como os demais meninos dos subúrbios de Nazaré, onde proliferavam as tendas de trabalho dos homens de ofício e as lavanderias do mulheril assalariado.

O menino Jesus tinha os cabelos de um louro ruivo, quase fogo, que emitiam fulgores e chispas à luz do Sol; eram soltos, com leves cachos nas pontas e flutuavam ao vento. Quando ele corria ladeira abaixo, perseguido pelos cabritos, cães e aves, seus cabelos então pareciam chamas vivas esvoaçando em torno de sua cabeça angélica! A roupa íntima era de pano inferior, que depois ele cobria com uma camisola de algodão, de cor sépia ou salmão. Só nos dias festivos ou de culto religiosos ele envergava a veste domingueira de um branco imaculado, sendo-lhe permitido usar o cordão de neófito da Sinagoga.

Sobre os ombros, nas manhãs mais frias, Maria punha-lhe o manto azul-marinho, de lã pura, tecida em Jerusalém, que fora delicado presente de Lia, uma de suas mais queridas amigas de infância.

Aos doze anos de idade o porte do menino era ereto e altaneiro, pois as roupas caíam-lhe majestosas sobre o corpo impecável, de anatomia tão admirável, que causava inveja às mães dos meninos trôpegos ou defeituosos. Nele se justificava o provérbio de que o “belo e o bom não são imitados, mas apenas invejados”, pois tanto o invejavam pela fartura do seu encanto, pela prodigalidade de sua doçura e cortesia, como devido à sua dignidade e conduta moral mais própria de um sábio e de um santo! Embora fosse criatura merecedora de todos os mimos do mundo, nem por isso a maldade humana deixava de atingir o menino Jesus, em cuja fisionomia esplêndida e leal, às vezes pairavam algumas sombras provocadas pela maledicência, injustiça e despeito. Aliás, o que é delicado é mais fácil de ser maltratado, pois enquanto o condor esfacela um novilho, o beijo flor sucumbe sob o afago do menino bruto! Assim também acontecia com Jesus. Seu porte atraente, a sua beleza angélica, a sabedoria prematura e a meiguice invulgar, tornavam-no um alvo para a concentração de fluídos de ciúme, de inveja e sarcasmo! Enfrentou desde cedo, a maldade, a má fé, a malícia e a hipocrisia humanas, o que é natural às almas sublimes exiladas no plano retemperador e educativo dos mundos materiais.

PERGUNTA:- Jesus permanecia ente os meninos nazarenos, participando dos seus brinquedos e divertimentos comuns?

RAMATÍS:- Nada ele tinha de vaidade ou orgulho que o distanciasse dos demais companheiros de infância, pois era cordial e afetuoso, amigo e leal. No entrnto inúmeras vezes, no auge do brinquedo divertido, o menino Jesus anuviava o seu semblante, pois seus sentidos espirituais aguçados pressentiam a efervescência da ciladas ou das cargas fluídicas agressivas que se moviam procurando atingi-lo em sua aura defensiva. Era o anjo ameaçado pelos seus adversários sombrios, que não podiam afetgar-lhe a divina contextura espiritual, mas tentavam ferir-lhe o corpo transitório, precioso instrumento do seu trabalho messiânico na Terra. Esses espíritos diabólicos, que a própria Bíblia os sintetizou tão bem na “tentação de Satanás”, recorriam às próprias cargas de inveja e de ciúmes que se formavam em torno de Jesus, por força do despeito dos próprios conterrâneos. Assim manipulavam o material hostil produzido pelas mentes insatisfeitas diante da gloriosa figura daquele ser, com a intenção de turbar-lhe os sentidos nervosos e o comando cerebral.

Então, a sua respiração tornava-se aflitiva e o seu coração se afogueava; o sistema hepato-renal apressava-se a eliminar qualquer tóxico que se materializasse decorrente da condensação de fluidos ferinos. O menino Jesus, num impulso instintivo, corria célere para longe do bulício dos seus companheiros e se deitava, exausto, sobre a relva macia, ou beira do regato, debaixo das figueiras, ou ainda entre os arbustos umedecidos, como se o orvalho e o perfume das florinhas silvestres pudessem lhe refrigerar a mente incandescida.

Mas em tais momentos ele era alvo dos cuidados e atenções do anjo Gabriel e de suas falanges, que então que então o aconselhavam a buscar o refúgio no seio da Natureza amiga durante suas crises emotivas ou opressões astralinas. Ali. Esses sublimes amigos podiam manipular extratos vitalizantes e fluidos protetores apanhados dos duplos etéricos do regato, das flores e dos arvoredos benfeitores, que se transformavam em energias terapêuticas, imunizando-o contra os dardos ofensivos dos espíritos trevosos. (Vide cap. L. “Cidadão de Nosso Lar”, em que o espírito de Narcisa manipula extratos fluídicos do eucalipto e de mangueira em favor de um enfermo. Idem cap. XLI, “Entre as Árvores”, “Mensageiros”, de André Luis). Em breve se fazia o desejado desafogo espiritual e o menino voltava tranqüilo a retornar os brinquedos, sem poder explicar aos companheiros o motivo de suas fugas intempestivas.

PERGUNTA:- De acordo com as nossas próprias mensagens, em que o espírito sublime só atrai bons fluidos, como se explica a necessidade de tantos cuidados e proteções ao menino Jesus, quando ele era um anjo exilado na Terra?

RAMATÍS:- Dissestes muito bem: ”Jesus era um anjo exilado na terra”, isto é, um anjo fora dos seus domínios e submerso num escafandro de carne, que o reduzia em seu potencial angélico! Já citamos, alhures, o conceito popular de que “entre espinhos, o traje de seda do príncipe rasga mais facilmente do que a roupa de couro do aldeão”. Isso implica em considerarmos que tanto quanto mais delicado é o ser, mais ele também é afetado pelas hostilidaes próprias do meio onde vive. O beija flor sucumbe asfixiado quando é atirado no charco de lama, enquanto, a seu lado, o sapo canta de júbilo!

A criança lactente ainda nada pensa de mal, no entanto, é sensível aos maus fluidos da inveja ou do ciúme projetados sobre a sua organização tenra, os quais mais tarde são eliminados graças ao socorro dos benzimentos da velhinha experimentada. Aliás, ninguém se basta por si mesmo, nem o próprio Jesus, pois se a Vida é fruto da troca incessante do choque de energias criadoras atuando em seu plano correspondente, quando hostis elas ferem a qualquer espírito mergulhado na carne. A si mesmo só se basta Deus, que é o Pai, o Senhor da Vida! As relações entre todas as criaturas e seres, sejam virtuosos ou pecadores, significam ensejos de experimentação da própria Vida, que tanto educa os ignorantes como redime os pecadores!

Quando a Pedagogia Sideral adverte que o espírito sublime só atrai bons fluidos, e a alma delinqüente é a culpada pela carga nefasta que recepcionar sobre si mesma, nem por isso, os bons deixam de ser alvo dos malefícios da inveja, do ciúme ou da má-fé humana. Que é o anjo de guarda do agiológico católico, senão o símbolo da proteção espiritual superior e necessária a todas as criaturas benfeitoras? O pseudo Diabo da Mitologia, que compreende simbolicamente as falanges dos espíritos malignos, não se contenta em arrebanhar para o seu reino trevoso somente as almas pecaminosas; porém, conforme assegura a própria Bíblia, ele tudo faz para poluir os bons e chegou mesmo a tentar o próprio Jesus. (Vide Mateus, IV, VS. 1 a 11).

Não há dúvida de que os bons só atraem os bons fluidos e acima de tudo ainda merecem a companhia e a proteção dos bons espíritos, mas é conveniente meditarmos em que, nem por isso, estamos livres da agressividade dos espíritos maléficos, que não se conformam em sofrer qualquer derrota espiritual!

PERGUNTA:- Não se poderia deduzir que essa proteção extraordinária e poderosa sobre Jesus também deveria estender-se a todas as criaturas benfeitoras e assim lavrá-las definitivamente das investidas maléficas do mundo oculto?

RAMATÍS:- Sem dúvida; isso é racional e justo; porém, é essencial que tais criaturas façam por merecer essa proteção superior, assim como a merecia Jesus!

PERGUNTA:- Quais foram as emoções ou as reações mais comuns de Jesus, na sua meninice?

RAMATÍS:- Até aos sete anos, como acontece a quase todos os meninos na vida material, predominavam em Jesus os ascendentes biológicos herdados dos seus genitores. Em tal época, ele ainda agia impelido pelo instinto hereditário da ancestralidade carnal, enquanto o seu espírito despertava pouco a pouco, na carne, para então comandar o corpo emocional ou astralino, revelador oculto das emoções humanas. Fisicamente, Jesus era um menino corado, ágil e flexível, tal qual o junco verde que se agita sob a mais terna brisa; ele corria pelos campos, rolava pelas colinas misturando-se às cabriolas dos cordeiros e dos cabritos, que pareciam entendê-lo e gostar do seu riso farto e da sua índole meiga. Havia um halo de pureza e lealdade em tudo o que ele fazia; e muitas vezes, as criaturas envelhecidas no mundo, observando-lhe a agudeza mental, o sentimento superior e a simplicidade fraterna no brincar e viver, maneavam a cabeça agourando a má sorte para sua mãe apreensiva, quando diziam: “Menino assim não se cria; este nasceu antes da época!”

Jesus era divertido e espontâneo em suas travessuras; porém, sem humilhar sem maltratar os companheiros ou animais. Jamais urdia qualquer brincadeira maliciosa que pusesse alguém em confusão ou prejudicasse outros meninos; sincero, franco e justo, revelava-se inteiriço na sua estatura de alma benfeitora e amiga da humanidade! Educado com severidade por José, era tímido e temeroso diante dos pais, cuja obediência o tornava um bom menino. No entanto, desde muito cedo lavrava em sua alma a chama do mais puro amor e devoção ao Senhor! Inúmeras vezes era apanhado em atitudes extáticas numa adoração invisível, que deixava seus íntimos algo surpresos e até preocupados, pois era muito cedo para haver tamanha demonstração de fé e de ardor religioso por Jeová! Essas atitudes que seriam louváveis nos adultos, então se tornavam, motivos de censuras e até de ironias por parte dos seus familiares e amigos.

Ao completar sete anos os seus familiares ficaram apreensivos com ele, em face da estranha melancolia que o acometera, pois algo se revelara dentro de si e lhe roubava a plenitude comum de alegria. No entanto, era o período quem que o corpo astralino se ajustava ao organismo físico e se consolidava junto ao duplo etérico constituído pelo éter físico da Terra. Dali por diante, como acontece com todas as crianças depois dos sete anos, Jesus passava a contar com o seu veículo emocional”, e que o faria vibrar com mais intensidade no cenário do mundo e na responsabilidade na carne. Aliás, é de senso comum que as crianças são “inocentes” até os sete anos, porque a voz popular pressente que o espírito encarnado ainda não conta com o veículo emocional para expressar suas emoções sob o controle espiritual. Até essa idade domina apenas o instinto puro e os ancestrais hereditários, sem obedecer ao comando do Espírito.

Assim, conforme a própria lei do cientificismo cósmico, daquela idade em diante Jesus começava a consolidar mais fortemente a sua consciência humana, enquanto o seu Ego Sideral se punha em maiores relações com os fenômenos da matéria. O seu raciocínio desenvolvia-se rápido, mas as preocupações prematuras substituíam-lhe, pouco a pouco, a alegria espontânea por um halo de melancolia e tristeza. Embora menino, na se achava imbuído das inquietações e dos problemas próprios dos adultos, algo preocupado em solucionar as vicissitudes da humanidade tão confusa. A idéia mais prosaica sofria dele vigorosa análise de lhe provocava reflexões sérias, se nisso estava envolvida a ventura alheia. E os velhos rabis da Sinagoga então se punham a dizer, meneando a cabeça com ar censurável: “São idéias impróprias para um menino de sua idade!”

PERGUNTA:- Jesus cursou alguma escola comum ou fez estudos particulares?

RAMATÍS:- As possibilidades da família só permitiram a Jesus fazer singelo curso de alfabetização para adquirir o conhecimento primário sobre as coisas elementares. Deixou de estudar assim que aprendeu a ler e a contar os salmos e os longos recitativos no ambiente severo da Sinagoga de Nazaré, o que era mesmo comum aos meninos mais favorecidos pela oportunidade educativa.

Indubitavelmente, Jesus era uma criança de inteligência incomum para a época, pois os seus conceitos e aforismo de elevada ética espiritual, não só surpreendiam como até escandalizavam muitos adultos, que jamais podiam aquilatar a realidade do padrão de vida angélica aplicado entre os homens cobiçosos. O seu caráter impoluto fazia-o transbordar quando defendia conceitos de justiça, de desprendimento e dignidade, que chegavam a torná-lo estranho e confuso entre o seio do seu próprio povo. Ele despertava censuras aos próprios familiares, ou então sofria severas advertências dos mais velhos ou conselhos temerosos dos mais pudicos.

A sua força de libertação era assombrosa, pois sua alma não resitia muito tempo no trato demorado com as coisas prosaicas do mundo, malgrado ele dar subido valor a tudo o que era manifestação de vida, cujo gosto e interesse lhe delineou o roteiro futuro das maravilhosas parábolas hauridas na Natureza. Mas era incapaz de revelar a índole do relojoeiro, que pode operar horas e horas preso ano maniqueísmo de um relógio, ou então entregar-se à pertinácia do laboratorista, que extingue sua vida escravizada ao mundo invisível dos micróbios. Embora criança de 10 anos, Jesus visualizava todos os acontecimentos, as coisas e os ideais humanos de um modo panorâmico, pois o seu espírito recuava facilmente ao passado e projetava-se rapidamente no futuro. Surpreendia aquela gente pacata, simples e iletrada, que vivia prisioneira num círculo de preconceitos escravizantes e fanatizados à religião tradicional.

O menino Jesus sentia dificuldades para estudar à maneira dos alunos comuns, que aceitam e decoram, sem protestos, tudo o que lhes diz o mestre-escola. Custava-lhe absorver-se na nomenclatura convencional do mundo, quanto ao sistema primitivo de memorização maquinal. Assim, ele mal tomava contato com as lições áridas da escola hebraica, quase desatento aos símbolos das ciências terrenas, nos quais seu espírito ilimitado sentia-se embaraçado, como pequeninas teias que lhe cerceavam o vôo pelo Cosmo. No entanto, à simples observação de uma bolota, ele concebia o carvalho florescente e ante o fiapo de nuvem que passava célere pelo céu, não lhe era difícil antevê o fragor da tempestade.

Com o tempo, o próprio mestre-escola, habituou-se às fugas mentais do filho de José e Maria, cujo temperamento meigo, por vezes inquieto, casava perfeitamente o seu perfil angélico e prodigamente amoroso para com todos. Algumas vezes, ele despertava surpreso, como se fosse arrebatado das nuvens, sob a voz imperiosa do professor pedindo-lhe a lição do dia. No entanto, nenhum homem no mundo assimilou tão rapidamente tantos conceitos de filosofia, lendas, narrativas, parábolas e conhecimento do mundo, através da escola viva das relações humanas como o fez Jesus! Sua alma, de transparente sensibilidade, era um cadinho efervescente, em que de um punhado de vocábulos, sob a “química” do seu espírito, formava a síntese de lições eternas!

PERGUNTA:- Mediante vossas considerações sobre a infância de Jesus, pressupomos que em face do seu temperamento incomum aos demais meninos, ele significava um sério problema para José e Maria?

RAMATÍS:- Realmente, José e Maria eram paupérrimos e responsáveis por uma prole numerosa e estranhavam que Jeová, em vez de lhes enviar um filho de bom senso, prático e semelhante aos demais meninos, onerara-os com um belo garoto, de um fascínio e encanto especial, de uma agudeza e sinceridade chocantes, mas impróprio para a época e vivendo na infância a responsabilidade e os pensamentos de um adulto! Malgrado sua doçura, sentimento amoroso, pensamentos limpos e certa timidez, Jesus era uma “criança-problema”, quando incandescia na sua alma aquele estranho fulgor, que o tornava severo, desembaraçado e irredutível no seu senso de justiça tão incomum!

Os seus arrebatamentos e entusiasmos, que o levavam a beneficiar os outros com sérios prejuízos para si mesmo, a sua falta de utilitarismo e a inesgotável capacidade de trabalhar gratuitamente para qualquer pessoa, deixavam José e Maria confusos, pois só eram habituados à vida rotineira e sem contrastes importantes. Afora isso, o menino Jesus era frugal, simples e sempre esquecido do seu próprio bem.

PERGUNTA:- Afirma alguns escritores que Jesus era doentio desde a infância, e se fosse hoje examinado pela ciência médica seria considerado um nevrótico ou esquizotímico?

RAMATÍS:- Convém saber, antes de tudo, qual é a natureza do padrão científico preferido pela ciência médica do mundo para aferir qualquer enfermidade atribuída ao menino Jesus. A verdade é que nas tabelas da patogenia sideral, as enfermidades mais graves são justamente a vaidade, avareza, ira, crueldade, luxúria, hipocrisia, o orgulho, ciúme e os vícios que aniquilam o corpo carnal como o fumo, o álcool, os entorpecentes ou a glutonice carnívora! Desde que os sábios terrenos passem a considerar a hipersensibilidade, o amor, a renúncia espiritual próprias do menino Jesus, como incurso nas tabelas patológicas do mundo, é evidente que também terão de classificar o seu oposto, isto é, a “consciência satãnizada” como um padrão da verdadeira saúde do homem! A melancolia, a tristeza, o desassossego e aparentes contradições do menino Jesus não eram efeitos próprios de um caráter mórbido ou censurável, mas uma conseqüência natural do desajuste do seu espírito angélico, cuja vida era profundamente mental e o fazia sentir-se exilado no ambiente rude da matéria! As suas esquisitices e excentricidades eram provenientes da sua impossibilidade de acomodar-se ao meio terráqueo, como o faziam os seus contemporâneos adstritos aos problemas simplíssimos de digerir, procriar e cumprir as exigências fisiológicas do organismo humano. Não é demonstração de enfermidade a aflição das pombas debatendo-se no pântano viscoso, só porque ali os crocodilos se mostram eufóricos e tranqüilos!

Jesus não era enfermo psíquico, embora tivesse de refugiar-se amiúde no seio da mata ou das clareiras silenciosas, quando se sentia afogueado pela tensão do seu próprio espírito ou alvejado pelos fluidos perniciosos. Em verdade, havia profundo contraste entre o seu temperamento angélico de avançado entendimento moral, ao pôr-se em choque com os interesses mesquinhos, a vulgaridade, má fé e ignorância dos homens que lhe cumpria esclarecer e salvar!

PERGUNTA:- Conforme vossos dizeres, o menino Jesus também exigia uma vigilância constante dos seus anjos tutelares, em face de sua despreocupação pela vida humana. Quer dizer que ele dava sério trabalho aos seus protetores?

RAMATÍS:- Sem dúvida, a preciosidade de sua vida endereçada à mais importante missão de um anjo sobre a Terra, abrir clareiras de luz no seio das sombras terráqueas para a redenção do homem, movimentava todas as forças benfeitoras a fim de livrá-lo de uma desencarnação prematura ou acidente lesivo. A índole excessivamente contemplativa de Jesus induzia-o a procurar empreendimentos e atividades insólitas, que pudessem ajudá-lo a compensar as angústias e aas emoções de que sofria o seu espírito super ativo, pois, de conformidade com o velho aforismo iniciático, “o anjo não dorme”! Nos seus impulsos de libertação, ele penetrava a fundo nos bosques e nas furnas, surpreendendo até as feras nômades que o fitavam inquietas e sem coragem de agredi-lo, ante a refulgência da luz sideral que os seus guias projetavam no sentido de protegê-lo. Malgrado a advertência prudente do Alto, o menino Jesus expunha demasiadamente o seu corpo aos perigos do meio agressivo do mundo, enquanto se deixava ficar absorto, em sua meditação espiritual, horas dentro da noite.

Por diversas vezes, Maria o encontrou curvado sobre a serpente enrodilhada na moita de capim, ou então afagando o filhote da fera, a qual, em vez de ameaçadora, mostrava-se eufórica sob talo carinho. A serpente,cuja crendice diz que não morde a mulher gestante nem agride a mãe de bons propósitos, ou mesmo a leoa ciumenta dos filhos não se mostravam agressivas ante a presença daquele garoto transbordante de ternura por todos os seres! Assim como o lobo selvagem também se transforma em um cão dócil e inofensivo, quando o tratam com meiguice e desvelo, Jesus envolvia os animais ferozes e os répteis venenosos em sua aura de tanta meiguice e amor, que eles se quedavam tranqüilos.

Evidentemente, isso exigia a atenção constante dos seus amigos siderais e não poucas vezes a “voz oculta” de Gabriel advertiu-o para que não se expusesse tanto no cenário perigoso do mundo físico. Mas, quem poderia modificar a índole de um anjo que jamais temia a morte?

PERGUNTA:- Quais outros detalhes que ainda nos podeis oferecer sobre a vida do menino Jesus, pois tem sido tão contraditória a narrativa de sua infância?

RAMATÍS:- A fim de poderdes avaliar o verdadeiro temperamento, as virtudes e os contrastes do menino Jesus com os demais garotos de sua época, dar-vos-emos um quadro de algumas minúcias de sua vida, e que servirá para o mais claro entendimento de nova pergunta. Em resumo: era um menino que jamais guardava ressentimento de alguém, mostrando-se absolutamente imune às ofensas e aos insultos alheios. Imparcial e sincero em suas amizades, ele não diferenciava nenhum companheiro, por mais deserdado ou subversivo; não traia, não intrigava, não zombava nem humilhava. Ninguém o viu usar qualquer meio para ferir um pássaro, destruir um réptil, inseto ou batráquio! Curvava-se para o solo e colhia o verme repelente na folha do vegetal, pondo-o fora do alcance das pisaduras humanas. Sob o espanto dos próprios adultos, ele deliciava-se com os carreiros de formigas super carregadas de partículas de alimentos ou folhas tenras; com os retalhos de madeira da carpintaria de José, construía túneis para livrá-las de serem esmagadas pelas criaturas que ali cruzassem os caminhos. Muitas vezes, perdia longo tempo tentando repor no lombo das formigas a carga que lhe fora desalojada ou lhes trazia restos de cereais só para vê-las carregarem. Os meninos da vizinhança, rudes e daninhos, então contavam a seus pais as esquisitices do filho de Maria, provocando deles o conceito de que “esse menino não é bem certo da cabeça”.

Certas vezes, Maria e José mortificavam-se dolorosamente, ao encontrar Jesus conversando animadamente com as aves e os animais, que, em verdade, pareciam entendê-lo! Advertia, censurava e aconselhava patos, cães, marrecos, galinhas, cordeiros e cabritos, apontando-lhes as imprudências e os perigos do mundo! Enxotava-os para longe nos dias de matança, pois jamais alguém pôde matar qualquer ave ou animal na sua presença, cujo espetáculo doloroso o deixava febril e o fazia fugir do lugar! Qualquer ave ferida ou cão maltratado recebia dele o máximo carinho e tratamento; e um júbilo intenso, uma alegria sem limite tomava-lhe o roso radioso, quando os seus “doentes” se punham a voar ou a caminhar! Batia palmas satisfeito, de euforia espiritual, enquanto, às vezes, o sarcasmo dos perversos lhe feriam os ouvidos desapiedadamente. Curtiu noites de insônia, depois que viu, estarrecido, os bois tombarem um atrás do outro com a goela vomitando sangue e feridos mortalmente pela lança dos magarefes. Mesmo depois de adulto, ele custava a se dominar diante dos quadros lúgubres do templo de Jerusalém, onde os sacerdotes oficiavam a Jeová respingado pelo sangue dos animais e das aves inocentes!

Jamais podia compreender sua culpa, quando ouvia severas admoestações de José e os apelos insistentes de Maria, para que não arriscasse sua vida preciosa nos arvoredos envelhecidos, onde subia afoito, para proteger os ninhos perigosamente pensos nos galhos rotos! Mas eram inúteis tais censuras ou conselhos; em breve, tornavam a encontrá-lo novamente trepado nos galhos das árvores e entre os pássaros, que em vôos efusivos pareciam aliar-se ao seu riso cristalino, gratos pelo carinho dispensado aos filhotes implumes! Durante os brinquedos e folguedos cotidianos, qualquer perversidade cometida contra os seres inferiores deixava-o silencioso e severo. A censura no olhar era tão veemente, que os meninos mais culpados se afastavam temerosos.

Em conseqüência, Jesus não era um menino mórbido, excêntrico ou propriamente rebelde; porém manifestava uma linha de conduta angélica prematura entre os demais seres, e por isso semeava constrangimentos nos hipócritas, atemorizava os cruéis, que o censuravam, zombando das suas comiserações pelos insetos, vermes ou répteis!

MARIA E ASPECTOS DO SEU LAR

O SUBLIME PEREGRINO

DÉCIMA QUINTA PARTE

MARIA E ASPECTOS DO SEU LAR

PERGUNTA:- Ser-vos-ia possível dar-nos alguns relatos da vida cotidiana de Maria, no seu lar, na época da meninice de Jesus?

RAMATÍS:- Quando o menino Jesus atingiu os dez anos, Maria já era responsável por uma prole numerosa, pois, além dos filhos sobreviventes do primeiro casamento de José com Débora, já haviam nascido Efrain, José Elisabete e Andréia, enquanto Ana e Tiago são posteriores.
A sua vida doméstica entre os filhos assemelhava-se à existência das demais mulheres hebréias da época, pertencentes a famílias de parcos recursos. Era costume as mulheres, secarem o trigo e o centeio em esteiras expostas ao sol e depois os levarem aos moinhos da redondeza, onde os vendiam em quartas e assim aumentava a receita do lar. Algumas famílias pobres dos subúrbios de Nazaré plantavam legumes e hortaliças, ou destilavam sucos de frutas em pequenos alambiques; outras conseguiam mesmo extrair o azeite das oliveiras e com isso obtinham um pecúlio mais sólido para os gastos habituais. Eram mobilizados todos os recursos possíveis para a sobrevivência, porquanto além da pesca, dos serviços modestos da carpintaria, do ofício de tecelão, oleiro, ferraria e seleiro, não existia em Nazaré qualquer indústria de alto calado, capaz de desafogar a despesa dos seus moradores. As mulheres hebréias, laboriosas, decididas e engenhosas, faziam pães de trigo e de centeio misturados ao mel, farinha cheirosa de tubérculos da terra e depois torrada, ou de peixe; preparavam deliciosos frutos em calda e os vendiam em potes de barro glausurado; coziam frutos como o pêssego, a pêra e o damasco, em açúcar cristalizado, que acomodavam em caixas de madeira de cedro fino e forradas com folhas de parreira. Algumas casas eram tradicionalmente procuradas pelos interessados e compradores, a ponto de os seus moradores serem incapazes de atender aos pedidos de doces, farinhas de cereais e de peixes, frutos em calda, sucos, conservas de hortaliças e legumes em potinhos de barro, em que muitas mulheres eram exímias e experientes.

Assim era também a vida de Maria, mãe de Jesus, que se desdobrava com os filhos tanto quanto possível para a sustentação do lar, pois todos cooperavam na fabricação de doces, plantação modesta de legumes e hortaliças, na secagem do trigo, do centeio e do peixe, de modo a viverem existência modesta, porém razoável. Era uma vida árida e laboriosa, de poucas compensações divertidas ou de descanso. Quase que o maior entretenimento era cultivado num desafogo delicioso, junto ao poço comum, que abastecia o lugarejo de água necessária. Depois da tarefa exaustiva do lar, o intercâmbio jovial e ruidoso em torno da fonte de água de Nazaré significava um descanso para o espírito atribulado. A hora de buscar água constituía um encontro festivo entre o mulheril para a troca de notícias em comum, que iam desde as preocupações da criação da prole até aos percalços da vida alheia. Vizinhos, amigos, forasteiros mercadores e rabis reuniam-se em torno do poço tradicional, o qual se tornava o denominador comum de todas as ansiedades e emoções dos nazarenos. As jovens, as anciãs e os meninos formavam filas compridas carregando bilhas, vasilhames de cobre, potes, jarras vidradas e moringas, que brilhavam ao sol, numa cena pitoresca e tentadora ao pincel do mais rude artista. Ao redor dessa fonte floresciam amizade e nasciam amores; acertavam-se noivados e se pensava em casamento; mais de um gesto cortês do jovem ao carregar a bilha d’água da moça encabulada resultou, mais tarde, num esponsalício feliz!

E o menino Jesus, sempre serviçal e atencioso, principalmente com os velhos e doentes, prestava toda sorte de favorecimentos ali junto ao poço, movendo-se alegre e jubiloso entre bilhas, jarras e vasilhames de todos os tipos e moldes. Ele se regozijava de encher o cântaro dos mais velhos, lavava as jarras, ajudava os cães e mitigar a sede. Às vezes, tudo terminava em inesperados banhos de água, em conseqüência das travessuras de outros meninos seus conterrâneos. Retornava alegre e brincalhão depois de ajudar junto à fonte; e jamais desmentia o seu espírito de justiça e respeito ao próximo, pois jamais carregava a jarra d’água da moça, antes de servir a mulher idosa!

Quando José faleceu, vítima de um insulto cardíaco, Jesus alcançava os vinte e três anos, tendo Maria assumido definitivamente a direção do lar e manteve junto de si, como a ave ciosa da prole, os menores, enquanto José que atingia 20 anos, ajudado por Tiago, com onze anos, se devotavam aos serviços de carpintaria herdada do pai. Efrain com vinte e dois anos, demonstrando desde cedo um espírito especulador, pertinaz e ambicioso, já se fazia intermediário em alguns negócios de fornecimento de víveres e suprimentos para os grandes negociantes hebreus e fornecedores dos romanos. Alguns anos depois, a sua situação financeira era bastante desafogada e respeitada. Enquanto Andréia prestava alguns serviços aos vizinhos e caravaneiros nos entrepostos, Ana e Elisabete ajudavam nos bordados que Maria lhes ensinava como frutos de seu aprendizado entre as jovens de Sião, de Jerusalém. Os enteados, Eleazar, Matias e Cleofas, também conhecido por Simão, filho de José, jamais mostraram qualquer ressentimento ou queixas contra aquela mulher heróica, que os amparara desde a meninice sob o afeto puro de mãe adotiva.Assim transcorreu-lhe a vida até que João, o Evangelista, levou-a para Éfeso, já bastante idosa, onde mais tarde desencarnou, depois de ter atendido a todas aas criaturas, transmitindo-lhes os mais puros sentimentos de ternura e amor em homenagem ao filho querido sucumbido na cruz para redimir o homem! Em torno dela reuniram-se os tristes, os desamparados e doentes ainda esperançosos da presença espiritual do Amado Mestre e da cura dos seus males. Maria, boníssima e leal no seu amor a Jesus, lamentava-se por vezes, pelo fato de não ter compreendido há mais tempo a sublime e heróica missão de seu filho. Entre os discípulos e seguidores do Cristo-Jesus, velhinha e exausta, certo dia descansou, libertando-se da matéria opressiva.

PERGUNTA:- Qual era o aspecto do lar de Jesus, durante a sua infância?

RAMATÍS:- Era uma casa simples n8um subúrbio de Nazaré, semelhante às residências árabes, construída de blocos encorpados de argamassa e liga de cal, parecida ao giz branco, com as suturas feitas de barro amassado. A porta de entrada era baixa e sem segurança, dando acesso a dois aposentos espaçosos, que não possuíam paredes divisórias, mas apenas duas cortinas feitas dos próprios cobertores presos por ganchos numa corda rústica. Ambos se comunicavam com a oficina de carpintaria de José, e esta, por sua vez, permitia ingresso no estábulo por uma portinhola de meia altura. Em lugar de janela, havia uma grande rótula no teto, por onde entrava bastante claridade sobre o chão de terra batida, semicoberto com peles de cabras, de camelos e de carneiros, além de cobertores leves e esteiras de palha trançada. Era uma casa térrea, cujo aposento central e espaçoso servia. Ao mesmo tempo, de cozinha, de sala de estar e até de quarto de dormir para os hóspedes retardatários.

Embora pobre, era confortável para os costumes daquela gente tão protegida pelo clima saudável e a prodigalidade de peixes e de frutas para o sustento fácil. Eram reduzidos os problemas da manutenção da família no tocante ao alimento; e mesmo quanto às vestes, bastavam-lhe pouca roupa e agasalhos. A sua índole inata de hospedeiros fazia-os merecedores de presentes e auxílios dos forasteiros que eram benquistos e preferiam o aconchego de uma família pobre, mas sadia e honrada, do que as hospedarias dos entrepostos de estradas, onde se fazia a mais censurável mistura de homens de todas as raças, condutas, enfermidades e todos os vícios!

Durante os dias secos e ensolarados, quando o céu era límpido, cozinhava-se fora, pois o combustível para o fogão consistia em galhos secos de ciprestes, e cedro, cujo calor era habilmente conservado com estrume de camelo ressequido e misturado com serragem produzida no serviço da carpintaria. O fogão, grande e bojudo, descansava num tripé de ferro, sendo recolhido, nos dias chuvosos, par dentro de casa, cuja fumaça enegrecia as paredes por falta de ventilação apropriada.

Em torno da casa havia uma cerca de tapumes feita de retalhos de tábuas e Ripasa, na qual se entrelaçavam cipós florescidos com florinhas miúdas; aqui e ali, repontavam alguns tufos de margaridas transplantados das margens do Jordão e que exigiam muita umidade. Pequenos canteiros circundados de pedras, obra indefectível do menino Jesus, protegiam algumas roseiras que emergiam do punho vermelho vivo e afogueado das papoulas. José e Maria possuíam alguns cabritos, galinhas e marrecos, que lhe forneciam o leite e ovos, além do tradicional burrico dócil e pacífico, que servia para asa andanças do ofício de carpinteiro e a entrega dos serviços de menor porte.

O observador arguto reconhecia naquele cenário pobre, simples mas emotivo, o toque mágico das mãos do menino Jesus; aqui, as pedras arrumadas com um agradável senso estético, delineavam os contornos do jardim modesto, ali ripinhas de todos os tipos e tamanhos firmavam papoulas chamejantes, Íris e narcisos, e tirinhas de couro guiavam os cipós floridos e asa trepadeiras para o transito na ponta das cercas; acolá, a areia fina e dourada da beira das encostas das pedreiras, cobria os caminhos por onde Maria deveria estender as roupas ou atender as aves. E ali se via ainda o arremate do menino artista pelos pincéis e os vasilhames de cobre sujos de tinta, que haviam servido para a pintura nova dos alicerces da casa, das guarnições da porta, dos cochos de alimento dos animais e das aves. A sua iniciativa benfeitora tornara a casa de Maria e José a mais simpática e admirada do subúrbio pobre, pois se ele era incapaz de ficar aguilhoado ao horário draconiano de obrigações inadiáveis, jamais se cansava quando o seu espírito criador e construtivo se decidia a produzir algo de agradável aos outros. Rebelde à imposição alheia, era um escravo dócil e desinteressado sob a força do seu próprio impulso criador.

DÉCIMA QUARTA PARTE

O SUBLIME PEREGRINO

DÉCIMA QUARTA PARTE

PERGUNTA:- Certos religiosos e até alguns espíritas acham que seria desdouro para um espírito tão elevado, quando Jesus, encarnar-se através do mecanismo sexual da procriação comum no mundo carnal.

RAMATÍS:- Repetimos: O sexo não é mecanismo aviltante, porém, a porta abençoada da vida carnal e de acesso para as almas sofredoras poderem ressarcir-se dos seus pecados e remorsos de vida anteriores. O corpo humano é o vaso ou o alambique onde se filtra todo resíduo menos digno aderido à contextura delicada do perispírito! Em suma: é o “fio-terra” que depois transfere para o solo o magnetismo deletério e os fluídos tóxicos do ser. O ato de procriar é importantíssimo para a felicidade das almas, pois em tal momento as forças angélicas descem do céu e se acasalam às energias vigorosas e agrestes da matéria, para então se geral um corpo carnal. O fenômeno do nascimento, portanto, é um acontecimento divino e de valiosa significação para a vida do espírito e sua ascese angélica!

Por isso, Deus valoriza tanto as mães, sejam quais forem as suas condições sociais ou morais. Elas são sempre dignas do amor divino e do alto respeito espiritual, desde que não destruam nem abandonem o fruto dos seus amores lícitos ou pecaminosos! Só isto é bastante para redimi-las e elevá-las acima de qualquer outra mulher, embora virtuosíssima, mas que foge ao sagrado compromisso maternal. As infelizes criaturas devotadas à profissão do aborto, ou as mães que preferem a destruição do seu rebento prematuro, jamais podem avaliar, na Terra, o inferno pavoroso à sua espera após a desencarnação. Não existem vocábulos humanos, na linguagem do mundo, que possam dar uma idéia dos tormentos e do desespero dessas mães desnaturadas presos dos charcos repugnantes do astral inferior. (Vide no capítulo “Os Charcos de Fluidos Nocivos do Astral Inferior”, pág. 309 da 1ª. Edição ou 202 da 2ª. Edição, em que o espírito de Atanagildo descreve, com minúcias, o sofrimento das “fazedoras de anjos” no mundo astral, na obra “A vida Além da Sepultura”, em co-participação com Ramatís.

Cada corpo que se gera na Terra e desperta no berço físico, é um valioso instrumento de redenção espiritual para a alma aflita, enferma ou crestada pelo remorso, amenizar sua pavorosa dor e sofrimento espiritual. O espírito de passado delituoso refugia-se no biombo protetor da carne e ali se esconde, expurgando suas mazelas através de lutas, sofrimentos e lágrimas redentoras. Por isso, jamais o sexo avilta o processo criador, embora o homem, na sua febre de prazeres doentios, deponha ou inverta o seu sentido criador.

Eis por que Jesus não iria subestimar o processo gestativo tão comum no mundo terreno, nem aviltar Maria, sua própria genitora, expondo-a a crítica ferina da vizinhança e de sua época! Jamais se felicitaria pelo seu nascimento aberrativo e de um esponsalício duvidoso por parte do Espírito Santo, humilhando a dignidade de seu pai José, criatura enérgica e severa, porém, justa e honesta.

A redenção do homem principiou justamente pelo fato de o Messias não ter fugido ao processo comum da gestação, mas ainda valorizá-lo com a sua presença e acatamento, malgrado a corrupção dos homens. O acontecimento de gerar-se, naascer, crescer e morrer no mundo terreno, Jesus o sintetizou num poema de respeito e consagração, sem recorrer a processos miraculosos que viessem a menosprezar a sinalética sexual! Após o seu advento, o nascimento do homem glorificou-se pela marca angélica recebida de tão alta entidade, e ainda se tornou mais digno de toda devoção, uma vez que não foi desprezado, nem pelo Messias, o Salvador dos homens!

PERGUNTA:- O nascimento de Jesus foi um acontecimento cercado por fenômenos incomuns e surpreendentes para sua cidade, ou só os perceberam Maria, José e os demais familiares?

RAMATÍS:- O nascimento de Jesus aconteceu sem quaisquer anomalias ou milagres de natureza ostensiva, tudo ocorrendo num ambiente de pobreza franciscana, assim como era o lar de Sara, velha tia de Maria, para o qual José levara a esposa a fim de ser assistida e protegida na hora da délivrance. Conforme já dissemos, Maria era uma jovem delicada, envolta por estranhas ansiedades e exaurindo-se facilmente durante o período gestativo; e isto requeria cuidados e atenções por parte do seu esposo.

A casa onde se haviam hospedado era paupérrima e dividida em dois aposentos; num deles amontoavam-se os móveis e os objetos de uso da família; no outro, além de servir de depósito, misturavam-se cabras, aves e carneiros. Das vigas pendiam ganchos com cereais, arreios, peles de animais e o peixe secava à altura do forro, onde a luz do sol penetrava por um retângulo. Sara e Elcana, tios de Maria, durante a noite estendiam um cobertor sobre a esteira e ali dormiam tranquilamente, sob o clima saudável e seco, pois nada lhes pesava na consciência de criaturas simples e honestas.

No momento da délivrance, Maria teve que se acomodada às pressas, num recanto do aposento, sobre o leito improvisado com esteira, cobertores e peles de cabra; e deste acontecimento a fantasia humana pintou a cena da manjedoura. Em verdade, Jesus nasceu num ambiente de pobreza e próximo dos animais que pertenciam aos seus parentes de Belém, cujo lar cederam prontamente para o seu nascimento, indo dormir as primeiras noites na casa vizinha. Porém, jamais José e Maria dirigiram-se a Jerusalém, para atender ao hipotético recenseamento, que não ocorreu naquela época, mas transladavam-se, deliberadamente, para Belém, em busca de auxílio para o acontecimento tão delicado.

O acontecimento, em verdade, foi de suma importância e bastante jubiloso para os familiares de Maria, quando verificaram que o seu primeiro filho era um querubim descido dos céus. Nisso, realmente, o fato fora excepcional, pois em Belém ou Nazaré ninguém se lembrava de ter nascido criança tão formosa, cuja fisionomia se mostrava envolta por estranhos fulgores. Sob o espanto de todos, o menino Jesus não apresentava as rugas características dos recém-nascidos, mas as faces rosadas, o semblante sereno e a quietude dos lábios traçados a buril, compunham a plástica de encantadora boneca viva, na qual, às vezes, transparecia um ar de gravidade ou divino poder!

PERGUNTA:- Por que aas facções religiosas transformaram o nascimento de Jesus num acontecimento incomum e lendário, como no-lo relata a história sagrada?

RAMATÍS:- Embora Jesus tenha nascido sem produzir milagres que deveriam abalar seus familiares e a vizinhança, tal fato revestiu-se de suma importância no Espaço, em torno da Terra, onde os anjos que o acompanhavam em sua descida para a carne vibraram de intenso júbilo pelo êxito do mundo espiritual no advento do Messias! Era o mais esplendoroso acontecimento verificado até aquela época, pois através do sacrifício de alta Entidade Espiritual, as trevas terrenas, dali por diante, receberiam mais forte Luz Crística, em comunhão mais íntima com o seu Cristo Planetário! Jesus, o Messias, instrumento vivo hipersensível e descido dos céus, derramaria através de sua carne a Luz do Espírito do Senhor, ensejando a mais breve libertação do “homem velho”, ainda algemado à força coerciva dos instintos animais!

Embora os homens ignorassem, em sua consciência física, a natureza excepcional do advento do Messias à face da Terra, e mesmo no seu nascimento não se verificassem fenômenos miraculosos, o certo é que todos os moradores na adjacência do lar de Maria e José sentiam um júbilo estranho e deliciosa esperança que lhes tomavam a alma num sentimento indefinível. Pairava no ar algo de excelso e de terno, flutuando numa ansiedade espiritual; e um suave magnetismo penetrava o espírito dos seus moradores! Os seres, nesses dias, passaram a entender-se pacificamente; ninguém reclamava em juízo quaisquer direitos, mostrando-se indiferentes aos litígios. A avareza e a ganância humana se enfraqueciam sob a força dessa influência desconhecida e salutar, que punha todos os interesses humanos em situação secundária!

Eis o motivo por que os religiosos criaram lendas e milagres em torno do nascimento do menino Jesus, na Terra, associando-lhe as mesmas fantasias atribuídas a outros instrutores espirituais da humanidade. Nenhuma estrela se moveu no céu, guiando reis magos até Nazaré, embora Melchior, Baltazar e Gaspar tivessem realmente procurado identificar o local onde encarnara o Avatar prometido para aquela época. Eram velhos magos e experimentados astrólogos, que pela disposição extraordinária dos astros no signo de Pisces e além de sua profunda sensibilidade mediúnica, certificaram-se de que uma Entidade de alta estirpe espiritual teria nascido na Terra, naqueles dias proféticos para os conhecedores da Astrologia. Em conseqüência, devido aos seus cálculos astrológicos e à sua habilidade esotérica, puderam identificar que a posição conjuncional de Saturno, Marte e Júpiter marcava uma data sideral de suma importância para asa atividades espirituais. Era um indício perfeito do clima vibratório favorável aos acontecimentos espirituais mais excelsos, pois o magnetismo suave e inspirativo do signo de Pisces, balsamizando o campo astrológico sobre a Judéia, e a presença simbólica da estrela assinalada há milênios, como o sinal incomum do Messias, compreendido na conjunção de Saturno, Júpiter e Marte, deram aos tradicionais magos a certeza do nascimento de Alta Entidade na superfície da Terra!

A natureza sublime de Jesus e suas hostes amigas irradiando a luz angélica sobre a atmosfera terrena bafejavam os corações dos homens e das mulheres mais sensíveis, despertando-lhes um sentimento de confraternização e convergência mental para os ideais superiores. Na verdade, consumado o nascimento de excelso menino no plano físico, os anjos, os mestres e os auxiliares espirituais do Senhor então se prosternaram, felizes, embora exaustos da inconcebível tarefa de ajustar o poderoso Espírito de Jesus no corpo vibrátil do “beija-flor” humano, que surpreendia as criaturas mais pacatas e comovia as mais endurecidas! Em seguida, todos ergueram seus cânticos ao Magnânimo Autor da Vida e Lhe renderam graças pelo sucesso feliz do Messias despertar na carne humana, livre de defeitos ou lesões orgânicas, superando os objetivos malignos do comando das Trevas!

Mas a delicadeza orgânica do menino Jesus, dali por diante ainda passou a exigir rigorosa vigilância e proteção do Alto, pois os espíritos trevosos continuavam a investir tenaz e obstinadamente no sentido de abalar o seu corpo carnal. Eles haviam mobilizado os recurso mais astuciosos e ofensivos para impedir o advento de Jesus na Terra, uma vez que a mensagem crística do Evangelho terminaria roubando-lhes inúmeras criaturas ainda escravas do vícios e das paixões terrenas, e vítimas para saciar-lhes os desejos mórbidos e atender-lhe os eventos pecaminosos do astral inferior! Com sua sanha diabólica, os inimigos da luz tentaram perturbar os próprios ascendentes biológicos de José e Maria, decididos a enfraquecer o organismo carnal planejado pelos Biólogos Siderais, e que deveria servir como instrumento messiânico na jornada redentora de Jesus!

PERGUNTA:- Gostaríamos de conhecer outros detalhes do júbilo dos anjos e de sua influência sobre a Terra, quando do nascimento de Jesus. É possível?

RAMATÍS:- É obvio que essa influência sublime sobre os homens de bons sentimentos atuou pela via espiritual e não se fez ostensiva aos sentidos físicos. No entanto, alguns iniciados de Alexandria, Índia, Arábia e dos santuários essênicos situados nos montes Moab, no Carmelo e Monte Hermon, na Judéia, também conseguiram identificar que um acontecimento de alta significação espiritual se dera na face do orbe, marcando, talvez, a descida de um Avatar. Isaías e Miquéias, os profetas que previram a vinda do Messias, no Velho Testamento, foram então lembrados, enquanto os astrólogos, iniciados e magos, consultando as cartas astrológicas e as posições raras dos astros, confirmaram, realmente, que se iniciava nova era de transformação moral e espiritual na humanidade, graças à presença de um Espírito poderoso no seio da carne humana.

Já dissemos, alhures, que uma estranha alegria e emoção paradisíaca envolveram as criaturas de bons sentimentos ante a presença de Jesus e dos seus anjos junto à Terra, tal qual na primavera as macieiras, as cerejeiras e os pessegueiros floridos, iluminados à luz do Sol e sob o azul sidério do céu, também despertam em nossas almas emoções mais ternas e aas sentidas saudades e um mundo desconhecido, mas vivo no imo de nossa alma.

A Terra ficou impregnada de fluídos sedativos e esperançosos, que amainavam as tempestades e as aflições humanas, enquanto se purificava o cenário triste do mundo material. Sob essa influência amorosa e pacífica, consolidaram-se fórmulas de paz e de construtividade entre os governantes e floresceram as artes; concretizaram-se projetos benfeitores e se multiplicaram iniciativas de amparo aos deserdados. Reis e chefes de tribos belicosas, movidos por um sentimento de magnanimidade, indultavam seus prisioneiros, alforriavam escravos e cessavam empreendimentos belicosos. Enfraqueciam-se as demandas violentas, multiplicavam-se a tolerância e a ternura nos corações dos homens, superando facilmente os impulsos destrutivos e violentos do instinto inferior.

Embora Jesus sempre tivesse permanecido em Espírito, junto dos homens, durante a sua encarnação terrena, ele manifestou-se pessoalmente no seio da comunidade humana e envolveu-a diretamente com sua excelsa vibração sideral e vivência mais íntima com o Cristo Planetário! Em verdade potências angélicas haviam derrotado fragorosamente as legiões satânicas e Jesus atingira a carne terrícola, protegido e recebendo um organismo físico de genética sadia e de ótima contextura cerebral. Malgrado as investidas diabólicas do Comando das Trevas, ele pudera configurar-se num menino formoso e lúcido, que iniciaria a sua peregrinação física, para entregar à humanidade terrena a mensagem de sua libertação espiritual.

Em torno do seu berço as potestades angélicas haviam colocado poderosas barreiras de luz, a fim de dissociarem qualquer carga de magnetismo nefasto ali projetado, com intenção de impedir-lhe a sublime missão crística. Jesus realmente vencera Satanás; e a Luz sublime do Anjo triunfara sobre o reino das Trevas!

PERGUNTA:- José, pai de Jesus, nunca percebeu algo de extraordinário em seu filho Jesus, que o convencesse de tratar-se de uma entidade messiânica?

RAMATÍS:- Conforme já dissemos, José era um homem prudente e sisudo, e até incrédulo às visões mediúnicas freqüentes de Maria, pois sua vida decorria num ritmo prosaico, de intenso trabalho e abnegação incessantes para com a família. No entanto, ele mesmo não pôde furtar-se aos fenômenos que lhe atingiram o espírito durante o nascimento de Jesus, quando, apesar de sua severidade e prudência espiritual, lhe pareceu distinguiu sons e melodias indefiníveis, enquanto sua alma pressentia uma luz safirina e prateada. Temeroso da zombaria dos demais e não podendo identificar tais fenômenos pela sensibilidade física, então preferiu silenciar quanto a essa sensação estranha e aceitando-a mesmo à guisa de alucinação. No entanto, Maria, sua esposa, adormecida num transe feliz, viveu a plenitude dessas ocorrências venturosas, pois só teve conhecimento do despertar do seu filho excelso no mundo, quando ele já se achava tranqüilo, deitado a seu lado, no singelo berço de palha.

Alguns rabis puros de coração, mais tarde, confirmaram que haviam pressentido ondas de luz e de perfumes durante o ofício na sinagoga, no momento presumível do nascimento do menino Jesus. Enquanto isso, pastores e camponeses, simples e bons, juraram ter visto sobre a casa de Sara, onde Jesus nascera, súbitas refulgências que pareciam cintilações à luz do Sol surgindo detrás das nuvens. Em verdade, as hostes angélicas projetavam suas luzes profiláticas e desintegradoras no ambiente onde Jesus deveria nascer, a fim de eliminarem as substâncias pestilentas, os detritos e petardos magnéticos, que eram projetados pelos espíritos das Trevas desejosos de impedirem o sucesso do advento do Messias!

PERGUNTA:- As pessoas que visitavam o menino Jesus chegaram a notar-lhe alguma coisa de extraordinário, além de sua beleza propriamente humana?

RAMATÍS:- Além da excelsa beleza e do encanto do menino Jesus, os que o visitavam também sentiam uma doce sensação de paz e de júbilo irradiada daquele berço pobre, comovendo-os até às lágrimas! Sem dúvida, não eram emoções facilmente identificadas pelos sentidos físicos, mas percepções que tocavam a alma e ali deixavam sua marca espiritual. As criaturas simples, ingênuas e bondosas, corações faminto de amor e repletos de fé, sentiram mais nitidamente a presença real do Messias. No entanto, como o cérebro físico não possui capacidade para atender duas vidas simultâneas, a física e a espiritual, o certo é que mais tarde os participantes de tais fenômenos insólitos terminaram por esquecê-los no prosaísmo da vida humana.

Algumas mulheres muito sensíveis e com faculdade de vidência, descreviam a aura fulgente que se irradiava do berço do menino Jesus e iluminava os aposentos, móveis, objetos, aves e pessoas, tingindo-os de um rosa formoso e com reflexos dourados cintilando um fundo de lilás claríssimo. Elas, então se ajoelhavam enternecidas, beijando as mãos do excelso querubim e o olhavam encantadas, como se ele fosse um príncipe recém chegado de um país de sonhos. Algumas pessoas asseguravam sentir perfumes sutilíssimos, de terna suavidade; outras auscultavam o Sr à procura de melodias, cânticos e preces comoventes, que as emocionavam até às lágrimas e não sabiam explicar. Sob tais circunstâncias, não tardou a se divulgar na cidade a notícia de que Maria, esposa de José, o carpinteiro, tinha sido visitada pelos deuses e dado a luz um filho formoso, tudo indicando tratar-se de um enviado de Israel!

Mas, com o decorrer do tempo, a própria Maria esqueceu as suas divinas emoções vividas durante o nascimento de Jesus, ante as responsabilidades de uma vida ativa e onerada junto à família, cuja descendência numerosa provinha de dois casamentos. Assim, enquanto tudo voltou ao normal, na Terra, foram sendo esquecidas as lembranças daqueles dias, encaixando-se a sua existência na moldura dos acontecimentos comuns da vida humana. No entanto, as entidades protegiam Jesus jamais de descuraram em torno dele, mantendo-se e neutralizando todas as investidas e tramas que eram mobilizadas pelos espíritos diabólicos!

A família se mostrava feliz e tranqüila, e José se envaidecia ante a figura tão encantadora de Jesus, seu primeiro filho com Maria. O menino se acomodava num humilde berço de palha e algodão, mas parecia surpreender até os animais que o espiavam pelos recortes e buracos da parede divisória do aposento. Ante a notícia de que o filho de Maria e José era de uma beleza incomum, sem os traços comuns nos recém nascidos, fez-se grande romaria ao lar de Sara. Aliás, seguindo a tradição vigente entre os hebreus, tanto a vizinhança de Belém, a parentela de Nazaré, como asa amigas de Maria, em Jerusalém, enviavam presentes ao menino Jesus e felicitavam a mãe venturosa. Algumas criaturas apenas desejavam conhecer o menino angélico, outras traziam seus préstimos e solidariedade ao feliz casal agraciado com o advento de um novo ser em seu lar. Eram pastores, camponeses, rabis, vendeiros, escribas, amigos de José as jovens do templo de Jerusalém, enternecendo-se diante do menino-luz, que lhes atraía as emoções mais ternas numa convergência adorativa. Alguns o presenteavam com cordeirinhos, cabras, aves; outros traziam sacos de trigo e cereais, bilhas com xaropes de frutas, pães de centeio ou bolos de aveia, mel de figo ou de abelha, para os pais. Os vendedores ambulantes, velhos fornecedores da casa e da carpintaria de José, deixavam fraldas, lençóis, cobertores e diminutas sandálias para o formoso menino.

Malgrado a tradição bíblica fantasiosa, não se registraram junto ao berço de Jesus quaisquer fenômenos insólitos que pudessem derrogar as leis da física humana, pois o seu nascimento processou-se conforme o de ouros meninos israelitas ou árabes, de sua época. Na hora delicada da délivrance, Maria ficou também a cargo da “mulher competente”, ou da parteira tradicional entre os hebreus, em cujo momento as apreensões dos familiares foram amenizadas por meio de preces e rogativas ao Senhor. Embora em humilde berço de palha estivesse repousando o corpo tenro do glorioso Messias, Salvador dos homens, a família já se mostrava felicíssima, só pelo êxito tão comum de nascer um filho em seu lar!

Mas era no Espaço que se manifestavam os júbilos venturosos e as emoções arrebatadoras, onde os mensageiros espirituais se sentiam aliviados do pesado encargo de amparar o Espírito de Jesus até à carne e ajudá-lo a nascer na face do planeta sombrio da Terra! O certo é que o coração de Maria transbordava de um intenso amor por tudo que a cercava, pois o seu carinho se estendia incondicionalmente a todos os seres e aos próprios insetos venenosos, batráquios repulsivos ou víboras perigosas! Às vezes ela se quedava, comovida, diante das flores que pediam das hastes e formavam verdadeiros bordados coloridos; doutra feita, umedeciam-lhe as face, pelas lágrimas saudosas que derramava ante a figura da ave que sulcava o céu azul e límpido, e que lhe parecia, num vôo feliz, em busca de um mundo feliz! Em certos momentos ela se erguia, embaraçada e surpresa, convicta de ouvir vozes angélicas, melodias estranhas e cânticos festivos parecidos com os salmos de Davi!

MARIA E O NASCIMENTO DE JESUS

O SUBLIME PEREGRINO

DÉCIMA TERCEIRA PARTE

MARIA E O NASCIMENTO DE JESUS

PERGUNTA:- Reza a tradição bíblica que um anjo visitou Maria e anunciou-lhe que ela casaria com um homem da linhagem de Davi; e conceberia um filho varão destinado a salvar o mundo. Que dizeis sobre essa tradição religiosa?

RAMATÍS:- Maria contava 15 anos de idade quando seus pais, Joaquim e Ana, faleceram, com alguns meses de diferença entre os óbitos. Foi então acolhida por Simão e Eleazar, parentes de seus pais, que a encaminharam para o grupo de Virgens de Sião, no templo de Jerusalém. Ali permaneceu cerca de dois anos, onde se dedicava a trabalhos tais como a confecção de túnicas de seda para aas moças, mantos para os sacerdotes, ornamentos, enxovais e pequenos tapetes de veludo e de lã para as cerimônias religiosas. Além disso, tocava cítara e cantava os salmos de Davi, em coro com as demais jovens.

Era uma jovem de raríssima beleza e avançada sensibilidade psíquica na época. Espírito dócil, todo ternura e benevolência, fortaleceu a sua juventude no ambiente monástico do templo, sem rebeldia ou problemas emotivos, no qual ainda mais aprimorou o seu alto dom mediúnico. Desde menina tinha visões espirituais, reconhecendo velhos parentes desencarnados e depois os seus próprios pais, que lhe apareciam de modo surpreendente. Em sonhos eles diziam-lhe que ela ainda seria rainha do mundo, como a mediadora consagrada pra um elevado anjo em missão junto aos homens.

Em sua consciência física, Maria desconhecia que também era entidade de condição angélica; e quando identificava pela sua vidência, uma belíssima criatura, ela supunha tratar-se do “anjo de guarda”, porque ele se assemelhava fisionomicamente, às velhas oleografias dos anjos da tradição hebraica. Não conseguia explicar satisfatoriamente aos seus familiares e amigos os fenômenos incomuns que se davam consigo, mas afirmava sempre o seu anjo de guarda não só a visitava em sonhos, mais também em estado de vigília, ministrando-lhe conselhos e orientações para o futuro. Quando José, viúvo, embora mais velho e pais de cinco filhos, a pediu para esposa, ela aceitou-o imediatamente, sem mesmo refletir, explicando que há muito tempo o seu anjo tutelar lhe havia aconselhado tal esponsalício com um homem de bem mais idoso e viúvo. É óbvio que se tratava de visões reais, conforme a fenomenologia espírita hoje as explica satisfatoriamente mediante as faculdades mediúnicas. (Dom Bosco, Antonio de Pádua, Teresinha de Jesus, Francisco de Assis e outros luminares da Igreja Católica, inclusive alguns papas, também tiveram visões mediúnicas inconfundíveis.

Embora Maria ignorasse a que estranhos caminhos o destino o levaria, as entidades que lhe assistiam aconselhavam-na a aceitar o viúvo José, como esposo e companheiro, pois havia sido escolhido no Espaço para a elevada missão de pai do Messias, na Terra. A tarefa desses espíritos não era isenta de decepções e obstáculos, porquanto enfrentavam a mais acirrada e furiosa investida das Sombras, na tentativa de impedir o advento de Jesus na face do orbe terráqueo. José e Maria, além de suas próprias virtudes espirituais defensiva, gozavam do prestígio e apoio de algumas falanges de menor graduação espiritual, porém, vigorosas e decididas, que também se propuseram a cooperar na proteção ao Salvador dos homens! E então, saneavam as imediações de Belém, desintegrando fluidos mórbidos e eliminando cargas maléficas, a fim de proteger o nascimento de Jesus sob circunstâncias satisfatórias.

Depois de casada, certa vez, achando-se em profundo recolhimento, sob o doce enlevo de uma prece, Maria, dominada por estranha força espiritual, sentiu-se fora do organismo carnal e situada num ambiente de luzes azuis e róseas, rendilhadas por uma encantadora refulgência de rádios safirinos e reflexos opalinos; e então com grande júbilo, ela reconhece, de súbito, o seu devotado anjo de guarda, que a felicitou, dizendo que o Senhor a escolhera para ser mãe de iluminado Espírito, o qual aceitara o sacrifício da vida humana para redimir os pecados dos homens! Envolvida por um halo de perfumes, misto da doçura do lírio e da fragrância do jasmim, sentindo-se balsamizada por suave magnetismo, viu seu guia apontar-lhe alguém, a seu lado, dizendo-lhe que se tratava do Espírito do seu futuro filho. Maria vibrou de júbilo e quis postar-se de joelhos, quando percebeu a sublime entidade recortada num halo de luz esmeraldina, claríssima, cuja aura se franjava de tons róseos e safirinos, respingados de prata, a sorrir-lhe docemente. Então a entidade que seria Jesus, o Enviado do Cristo à Terra, chamou-a sob inconfundível ternura e pelo seu “nome sideral”, recordando a Maria o compromisso de fidelidade espiritual assumido antes de ela encarnar-se. No recesso de sua alma, ela evocou o passado, sentindo-se ligada ao magnífico Espírito ali presente, e clareou-se-lhe a mente ante a promessa que também fizera de recebê-lo no seu seio como filho carnal.

O maravilhoso contato espiritual com Jesus fez Maria reavivar todas as recordações do pretérito e recrudescer-lhe a saudade do seu mundo paradisíaco. Enquanto uma sombra de angústia lhe invadia a alma, ao assumir novamente o comendo do corpo carnal, ela sentiu prolongar-se na sua consciência física aquele êxtase de Paz e Amor, que a envolvera ante a presença do ente sublime e amoroso a encarnar-se como seu primeiro filho! Embora sem poder definir claramente o acontecimento tão singular, Maria narrou a José o impressionante quadro que lhe despertara a mais sublime emoção espiritual, e a certeza de vir a ser mãe de um formoso anjo descido dos céus! José, homem de senso prático e prudente, avesso a sonhos e a fantasias improváveis em sua vida tão pobre, fitou a jovem esposa e apenas sorriu certo de que todas as mães só esperam príncipes, como filhos e não homens comuns.

PERGUNTA:- Maria, quando em vigília, não guardava certeza de que seria realmente a mãe do Messias?

RAMATÍS:- A elevada estirpe espiritual de Maria era suficiente para convencê-la intimamente da possibilidade de vir a ser mãe de algum elevado espírito, pois isso seria o corolário de sua própria graduação angélica. Na Terra, os pais talentosos ou bem apessoados jamais admitem a possibilidade de gerarem descendentes feios, imbecis ou atormentados. E Maria não era criatura rude, presunçosa ou vaidosa, mas sim mulher terna, humilde, carinhosa e jovial, apensar de sua falta de cultura e dificuldade de raciocínios incomuns. Avessa à crítica, à maldade e à ironia, era modesta no seu viver; a sua meiguice e o seu sorriso angélico tornavam-na capaz de atrair as mais puras amizades. Quando solteira fora o centro de convergência da confabulação e dos segredos das jovens companheiras; casada com José, todos os seus vizinhos, amigos e parentes a conheciam pela suave denominação de “Doce Maria”!

Jamais alguém a viu altercar com os seus filhos ou com os de José, pois estes também lhe chamavam mãe e lhe tributavam todo o carinho filial. Espírito angélico pertencia à mesma hierarquia dos Amadores, embora sem poder igualar Jesus em sabedoria sideral. Assim, quis o destino, portanto, que ela habitasse a Judéia e do seu esponsalício com José, viúvo de Débora, devesse gerar o corpo físico do sublime Espírito de Jesus e atender à vontade do Senhor, em benefício da humanidade terrena!

PERGUNTA:- Porventura o fato bíblico de Jesus ter nascido da “linhagem” de Davi não teria sido arranjo dos evangelistas, para justificarem a profecia de Isaías? (Cap. IX, VS. 6 e 7).

RAMATÍS:- Em face do avançado metabolismo espiritual de Jesus e pelo fato de ser um missionário, em vez de alma sob retificação cármica de existências passadas, ele merecia o comando de um organismo da melhor linhagem biológica carnal, proveniente de ancestrais zelosos de sua espécie. Esse organismo carnal, além de tudo, deveria possuir um cérebro físico capaz de resistir sem se desintegrar, quando atuado pelo fabuloso potencial do Espírito de Jesus até ao prazo messiânico cronometrado pelo Alto. A sua incomum sensibilidade e a capacidade de visão panorâmica sobre a via cósmica faziam-no merecedor de um equipo carnal da mais apurada genealogia entre as melhores estirpes humanas da Terra.

Há muitos séculos os psicólogos siderais já investigavam as linhagens e as gerações judaicas, quanto à sua resistência biológica ancestral, a fim de garantir o êxito do Messias na Terra e proporcionar-lhe um instrumento carnal à altura do seu merecimento e natureza de sua missão! Em conseqüência foram selecionadas diversas famílias hebréias e feita a apuração do seu coeficiente de higidez no exame de suas gerações. Disso resultou que, tanto a descendência de Hilel, quando a de Davi, apresentavam os gens mais saudáveis e de melhor vitalidade. Em seguida, os Mestres Siderais optaram pela estirpe hereditária de Davi como0 fundamento ancestral do organismo de Jesus, embora ele tenha sido um famigerado devastador de povos e desencarnado seriamente comprometido em espírito. O certo é que os seus descendentes, por orgulho de raça ou por inspiração superior, há muitos séculos vinham preservando a sua linhagem carnal, mantendo-a sadia e com um equipo nervoso de alta sensibilidade, adequado para as atividades do Messias, na Terra. Os últimos remanescentes de Davi não só eram vegetarianos, como avessos às especiarias, tóxicos, condimentos, alcoólicos e vícios que afetam o perfeito equilíbrio da saúde.

PERGUNTA:- A natureza espiritual angélica de Jesus não era suficiente para dispensar tais preocupações seletivas da genética para a composição do seu corpo? É o espírito que se impõe à matéria ou esta é que algema o espírito?

RAMATÍS:- Quando é enxertada a muda frutífera de qualidade superior no chamado “cavalo selvagem”, ou troco da planta agreste, ela termina sucumbindo sob as vergônteas nutridas pela seiva demasiadamente vigorosa e primitiva. O mais exímio motorista não consegue sobrepujar a insuficiência mecânica e a má qualidade do veículo inferior que dirige, embora ele seja um ás do volante.

Sem dúvida, o espírito de Jesus poderia influir e desenvolver seu corpo carnal sadio e equilibrado por força de sua graduação superior, sem necessidade de seleções genéticas. Mas o fato é que ele mesmo teria dito: “Eu não vim destruir a Lei, mas cumpri-lá!” Em conseqüência, não viera à Terra produzir milagres e praticar distorções ou exercer privilégios, mas apenas cumprir a vontade do Pai que está nos céus! O principal fundamento de sua missão junto à humanidade terrena era o de servir-se das mesmas oportunidades e submeter-se às mesmas leis a que se cingiam os demais homens, a fim de não semear desconfianças capazes de o tornarem um ídolo e não um guia!

Seria algo cruel que Jesus, depois da sua descida tão sacrificial, como o príncipe que abandona o seu palácio feérico e sua paz venturosa para servir os homens pecadores, ainda tivesse de mobilizar todos os seus recursos angélicos, para superar os gens inferiores de um organismo proveniente de alcoólatras, epiléticos ou sifilíticos.

Jesus não era um malfeitor, ou um estigmatizado por crimes pretéritos; mas sim, um espírito em missão sacrificial, que abdicava de sua mansão celestial para orientar a criatura humana, ainda escrava dos grilhões da animalidade. Por conseqüência, ele merecia o “melhor”, no sentido de ser-lhe facultado um corpo biologicamente equilibrado.

PERGUNTA:- Qual o fundamento da tradição religiosa, que serviu para o Catolicismo assegurar o dogma de que Jesus foi concebido por “obra e graça do Espírito Santo e nascido de uma virgem”?

RAMATÍS:- Essa concepção deve-se à própria Bíblia, no Velho Testamento, quando os profetas prediziam que o Messias deveria nascer de uma virgem, e conforme o evangelista Mateus também o confirma, no Novo testamento, dizendo: “Maria, sua mãe, desposada com José, antes de coabitarem, achou ter ele concebido por obra do Espírito Santo” (Mateus, cap. I, VS. 18).

Os antigos profetas procuraram deixar aos pósteros algumas indicações que, no futuro, os fizessem reconhecer o Messias; mas a insuficiência humana não pôde entender os sinais exatos e prematuros da realidade do seu nascimento. As sucessivas e deficientes traduções dos livros sagrados também contribuíram para obscurecer o sentido concreto dessas alegorias proféticas, e mais tarde interpretadas de um modo fantasioso. A Bíblia predisse que o Messias teria de “nascer de uma virgem e se concebido por obra e graça do Espírito Santo, mas com isso não desmentiu o processo natural da gestação humana; apenas indicou o sinal mais importante do advento e da identificação do Messias, ao vir a Terra.

Jesus, portanto, como o primeiro filho gerado por Maria, nasceu realmente de uma virgem, pois virgem era sua jovem genitora quando deixou o templo de Jerusalém para se casar com José. Assim cumprira-se a profecia e fora identificado o primeiro indício da presença do Messias na Terra, para que a humanidade então o conhecesse no futuro e aceitasse os seus ensinamentos libertadores do espírito humano. O primeiro filho nascido da primeira concepção conjugal, como no caso de Maria, era realmente uma origem imaculada.

Maria, por sua estirpe elevada, era um anjo descido dos céus, e, portanto, um “espírito santo”, corroborando mais uma vez a predição da Bíblia. No seu corpo virginal e por obra do seu “espírito santo”, gerou-se nela o corpo do Messias em cumprimento á profecia do Velho Testamento. A velha lenda dos nascimentos sagrados e miraculosos, das mães virgens e dos espíritos santos, como Hermés, Orfeu, Zoroastro, Crisna e Buda, também foi atribuída literalmente ao nascimento de Jesus, na ingênua suposição do sacerdócio organizado, em valorizá-lo acima do mecanismo da concepção carnal humana.

A vida monástica das criaturas que fugiram dos pecados do mundo profano e se retiraram para os conventos, quase sempre lhes produz na mente uma exagerada desconfiança e prevenção contra o sexo humano, ao qual então atribuem a culpa de quase todas as mazelas do mundo. Assim, as organizações religiosas terrenas tudo tem feito para situar os seus Messias, Avatares ou Instrutores espirituais acima do processo das relações sexuais, pois o consideram um ato pecaminoso ou impuro. Obviamente eles então devem nascer de virgens em divino esponsalício com espíritos santos, ou então de rádios fulgurantes ou gênios fabulosos, que os cercam de esplendores e glórias, independente da genética sexual do mundo físico.

PEERGUNTA:- Mas a natureza excepcional do Espírito de Jesus, porventura não exigiria, realmente, um processo genético mais elevado para a sua manifestação na Terra, independente do mecanismo sexual?

RAMATÍS:- Se o mecanismo sexual da concepção da vida humana é considerado um processo inferior, isso não é culpa de Deus, que o criou para a manifestação do ser na matéria; a responsabilidade é do homem que o transforma num processo para satisfação de suas paixões aviltantes! Embora se considere a supremacia espiritual incomum de Jesus, nem por isso, ele precisaria derrogar as leis imutáveis da Vida e alterar o processo da genética humana, para encarnar-se no seio da humanidade. Tanto o anjo quanto o espírito inferior, só podem ingressar na carne terrícola através da porta do ato sexual, que não é nada aviltante, mas apenas um processo estabelecido por Deus para o advento do homem! Qualquer outra explicação ou escusa não passa de fantasia ou arranjo subjetivo, incapaz de encobrir a verdade. Conforme já dissemos anteriormente, enquanto o espírito primitivo se encarna instintivamente arrastado para o ventre materno, Jesus, devido à sua natureza excepcional, despendeu um milênio do calendário humano, na sua descida espiritual, a fim de acasalar-se à carne. Obviamente, não seria o modo de ele nascer na carne, o que, realmente, não lhe comprovaria a supremacia espiritual, mas, acima de tudo, o imenso sacrifício para ele atingir a matéria e a sua morte heróica e serena, em holocausto à humanidade pecadora!

Ainda hoje existem, no vosso mundo, famílias de zonas rurais cuja higidez de raça e de metabolismo orgânico é isenta de enfermidades luéticas, vícios ou paixões aviltantes da vossa civilização, que também poderiam fornecer um corpo sadio a Jesus sem desmerecê-lo na sua elevada natureza espiritual. Se, através de maravilhoso quimismo, Deus transforma monturos de estrume em rosa e cravos perfumados, por que Jesus, tão Sábio e Excelso, não poderia manifestar por um corpo de carne, gerado pelo processo comum, a mensagem do Amor e da Paz entre os homens?

Quando os evangelistas se referem a JESUS, NOS SEUS Evangelhos, eles deixam patenteada a sua condição de filho de Maria e de José, como um fato concreto e indiscutível na época, e sem qualquer alusão ao Espírito Santo. O evangelista Marcos é muito claro, quando diz: “Olha que tua mãe e teus irmãos te buscam aí fora” (III-32). O evangelista João também confirma no seguinte: “Depois disto, vieram para Cafarnaum; ele e sua mãe e seus irmãos e seus discípulos” (II-12). Mateus, apesar de responsável pela idéia de Jesus descender do Espírito Santo, também alude à exata filiação de Jesus no seu evangelho, explicando: Porventura não é este o filho do oficial (carpinteiro), não se chama sua mãe Maria e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? (XII-55). E acrescenta, no versículo 56: “E tuas irmãs, não vivem entre nós?”

Em suma, todos os evangelistas são acordes em confirmar que Jesus era irmão de Tiago, José, Simão e Judas, Ana e Elisabete, mas filho de José, o carpinteiro; de onde se deduz que não era conhecido como gerado pelo Espírito Santo.

PERGUNTA:- Por que motivo então se forjou o dogma da Imaculada Conceição e de um Jesus concebido por obra e graça do Espírito Santo?

RAMATÍS: É o sentimentalismo exagerado e o temor religioso, os motivos das criaturas suporem que os seus guias ou líderes são fruto de nascimentos miraculosos. À medida que se distancia a época em que atuaram tais homens excepcionais, a posteridade esquece, pouco a pouco, a vida natural ocorrida sob a disciplina das leis que regem o mundo, passando a cercá-los de uma aureola fantasiosa, de um mistério e divinismo que satisfazem a exaltação do fanatismo religioso.

O sacerdócio organizado, cuja vida e sustento depende da especulação religiosa, explora a faceta humana negativa dos seus fiéis e crentes, em vez de esclarecê-los à luz da ciência e razão. Assim, em breve, os líderes e instrutores espirituais perdem suas características humanas sensatas e atribuem-lhes poderes, milagres e lendas, que passam a alimentar o “combustível” dá fé, da idolatria dos templos e o comércio de suas organizações. Com o decorrer do tempo a proverbial fragilidade da memória humana, até os tiranos, criminosos, bárbaros e bandoleiros sanguinários, cujas vidas foram indignas ou perversas, chegam a ser redimidos pela literatura sentimentalista a pelos melodramas compungidos e lacrimosos do rádio, teatro e cinema. (Nota do médium:- No Brasil, isso acontece com o culto censurável a Lampião e seu bando de cangaceiros cruéis, cada vez mais “redimidos” pela cinematografia brasileira, que o transforma num herói cuja vida sangrenta e pródiga de vinganças bárbaras é romanceada sob o objetivo de obter maior êxito de bilheteria! Em Portugal, o facínora José do Telhado tornou-se figura simpática e injustiçada; nos Estados Unidos, os bandidos Jesse James e Dick Turpin são aplaudidos pela juventude moderna, graças à propaganda do cinema interesseiro. Gengis-Khan, Átila, Cortez e Tamerlão, em vez de serem apontados como flagelos sanguinários que trucidava mulheres, velhos e crianças como se tritura trigo nos moinhos, são vividos atualmente pelos galãs cinematográficos como heróis fabulosos!

Em conseqüência dessa candidez de espírito, o que não farão os discípulos, os historiadores, quando resolverem biografar os seus ídolos religiosos? De acordo com a história sagrada do vosso orbe, a maioria dos legisladores religiosos sempre nasceu de virgens e por obra de forças extraterrenas, ou de misteriosos esponsalícios independeste do mecanismo natural do sexo e da gestação. Os livros dos assírios, dos hindus, dos caldeus, dos chineses e dos árabes são unânimes em assinalar nascimentos provindos de virgens e sob condições miraculosas. A tradição mazdeana conta que um raio da glória divina penetrou na mãe de Zoroastro, o notável legislador persa. Crisna nasceu de uma virgem e também Lao-Tse; a mãe de Buda teve um sonho em que o elefante branco (símbolo do espírito puro) entrou em seu seio e ela concebeu o Salvador da Ásia; Salivahana, da escolástica hindu, também foi concebido por uma virgem, que o recebeu em seu seio como a encarnação divina. O próprio Gengis-Khan, turbulento invasor da China, também era tido por filho de um radio solar descido sobre uma virgem eleita pelo Senhor dos Mundos! Dentro de alguns anos é possível que Mahatma Ghandi, assassinado a tiros, na Índia, também termine glorificado por um nascimento misterioso, em que um raio do céu o tenha gerado no ventre imaculado de uma virgem!