sexta-feira, 5 de novembro de 2010

DÉCIMA QUARTA PARTE

O SUBLIME PEREGRINO

DÉCIMA QUARTA PARTE

PERGUNTA:- Certos religiosos e até alguns espíritas acham que seria desdouro para um espírito tão elevado, quando Jesus, encarnar-se através do mecanismo sexual da procriação comum no mundo carnal.

RAMATÍS:- Repetimos: O sexo não é mecanismo aviltante, porém, a porta abençoada da vida carnal e de acesso para as almas sofredoras poderem ressarcir-se dos seus pecados e remorsos de vida anteriores. O corpo humano é o vaso ou o alambique onde se filtra todo resíduo menos digno aderido à contextura delicada do perispírito! Em suma: é o “fio-terra” que depois transfere para o solo o magnetismo deletério e os fluídos tóxicos do ser. O ato de procriar é importantíssimo para a felicidade das almas, pois em tal momento as forças angélicas descem do céu e se acasalam às energias vigorosas e agrestes da matéria, para então se geral um corpo carnal. O fenômeno do nascimento, portanto, é um acontecimento divino e de valiosa significação para a vida do espírito e sua ascese angélica!

Por isso, Deus valoriza tanto as mães, sejam quais forem as suas condições sociais ou morais. Elas são sempre dignas do amor divino e do alto respeito espiritual, desde que não destruam nem abandonem o fruto dos seus amores lícitos ou pecaminosos! Só isto é bastante para redimi-las e elevá-las acima de qualquer outra mulher, embora virtuosíssima, mas que foge ao sagrado compromisso maternal. As infelizes criaturas devotadas à profissão do aborto, ou as mães que preferem a destruição do seu rebento prematuro, jamais podem avaliar, na Terra, o inferno pavoroso à sua espera após a desencarnação. Não existem vocábulos humanos, na linguagem do mundo, que possam dar uma idéia dos tormentos e do desespero dessas mães desnaturadas presos dos charcos repugnantes do astral inferior. (Vide no capítulo “Os Charcos de Fluidos Nocivos do Astral Inferior”, pág. 309 da 1ª. Edição ou 202 da 2ª. Edição, em que o espírito de Atanagildo descreve, com minúcias, o sofrimento das “fazedoras de anjos” no mundo astral, na obra “A vida Além da Sepultura”, em co-participação com Ramatís.

Cada corpo que se gera na Terra e desperta no berço físico, é um valioso instrumento de redenção espiritual para a alma aflita, enferma ou crestada pelo remorso, amenizar sua pavorosa dor e sofrimento espiritual. O espírito de passado delituoso refugia-se no biombo protetor da carne e ali se esconde, expurgando suas mazelas através de lutas, sofrimentos e lágrimas redentoras. Por isso, jamais o sexo avilta o processo criador, embora o homem, na sua febre de prazeres doentios, deponha ou inverta o seu sentido criador.

Eis por que Jesus não iria subestimar o processo gestativo tão comum no mundo terreno, nem aviltar Maria, sua própria genitora, expondo-a a crítica ferina da vizinhança e de sua época! Jamais se felicitaria pelo seu nascimento aberrativo e de um esponsalício duvidoso por parte do Espírito Santo, humilhando a dignidade de seu pai José, criatura enérgica e severa, porém, justa e honesta.

A redenção do homem principiou justamente pelo fato de o Messias não ter fugido ao processo comum da gestação, mas ainda valorizá-lo com a sua presença e acatamento, malgrado a corrupção dos homens. O acontecimento de gerar-se, naascer, crescer e morrer no mundo terreno, Jesus o sintetizou num poema de respeito e consagração, sem recorrer a processos miraculosos que viessem a menosprezar a sinalética sexual! Após o seu advento, o nascimento do homem glorificou-se pela marca angélica recebida de tão alta entidade, e ainda se tornou mais digno de toda devoção, uma vez que não foi desprezado, nem pelo Messias, o Salvador dos homens!

PERGUNTA:- O nascimento de Jesus foi um acontecimento cercado por fenômenos incomuns e surpreendentes para sua cidade, ou só os perceberam Maria, José e os demais familiares?

RAMATÍS:- O nascimento de Jesus aconteceu sem quaisquer anomalias ou milagres de natureza ostensiva, tudo ocorrendo num ambiente de pobreza franciscana, assim como era o lar de Sara, velha tia de Maria, para o qual José levara a esposa a fim de ser assistida e protegida na hora da délivrance. Conforme já dissemos, Maria era uma jovem delicada, envolta por estranhas ansiedades e exaurindo-se facilmente durante o período gestativo; e isto requeria cuidados e atenções por parte do seu esposo.

A casa onde se haviam hospedado era paupérrima e dividida em dois aposentos; num deles amontoavam-se os móveis e os objetos de uso da família; no outro, além de servir de depósito, misturavam-se cabras, aves e carneiros. Das vigas pendiam ganchos com cereais, arreios, peles de animais e o peixe secava à altura do forro, onde a luz do sol penetrava por um retângulo. Sara e Elcana, tios de Maria, durante a noite estendiam um cobertor sobre a esteira e ali dormiam tranquilamente, sob o clima saudável e seco, pois nada lhes pesava na consciência de criaturas simples e honestas.

No momento da délivrance, Maria teve que se acomodada às pressas, num recanto do aposento, sobre o leito improvisado com esteira, cobertores e peles de cabra; e deste acontecimento a fantasia humana pintou a cena da manjedoura. Em verdade, Jesus nasceu num ambiente de pobreza e próximo dos animais que pertenciam aos seus parentes de Belém, cujo lar cederam prontamente para o seu nascimento, indo dormir as primeiras noites na casa vizinha. Porém, jamais José e Maria dirigiram-se a Jerusalém, para atender ao hipotético recenseamento, que não ocorreu naquela época, mas transladavam-se, deliberadamente, para Belém, em busca de auxílio para o acontecimento tão delicado.

O acontecimento, em verdade, foi de suma importância e bastante jubiloso para os familiares de Maria, quando verificaram que o seu primeiro filho era um querubim descido dos céus. Nisso, realmente, o fato fora excepcional, pois em Belém ou Nazaré ninguém se lembrava de ter nascido criança tão formosa, cuja fisionomia se mostrava envolta por estranhos fulgores. Sob o espanto de todos, o menino Jesus não apresentava as rugas características dos recém-nascidos, mas as faces rosadas, o semblante sereno e a quietude dos lábios traçados a buril, compunham a plástica de encantadora boneca viva, na qual, às vezes, transparecia um ar de gravidade ou divino poder!

PERGUNTA:- Por que aas facções religiosas transformaram o nascimento de Jesus num acontecimento incomum e lendário, como no-lo relata a história sagrada?

RAMATÍS:- Embora Jesus tenha nascido sem produzir milagres que deveriam abalar seus familiares e a vizinhança, tal fato revestiu-se de suma importância no Espaço, em torno da Terra, onde os anjos que o acompanhavam em sua descida para a carne vibraram de intenso júbilo pelo êxito do mundo espiritual no advento do Messias! Era o mais esplendoroso acontecimento verificado até aquela época, pois através do sacrifício de alta Entidade Espiritual, as trevas terrenas, dali por diante, receberiam mais forte Luz Crística, em comunhão mais íntima com o seu Cristo Planetário! Jesus, o Messias, instrumento vivo hipersensível e descido dos céus, derramaria através de sua carne a Luz do Espírito do Senhor, ensejando a mais breve libertação do “homem velho”, ainda algemado à força coerciva dos instintos animais!

Embora os homens ignorassem, em sua consciência física, a natureza excepcional do advento do Messias à face da Terra, e mesmo no seu nascimento não se verificassem fenômenos miraculosos, o certo é que todos os moradores na adjacência do lar de Maria e José sentiam um júbilo estranho e deliciosa esperança que lhes tomavam a alma num sentimento indefinível. Pairava no ar algo de excelso e de terno, flutuando numa ansiedade espiritual; e um suave magnetismo penetrava o espírito dos seus moradores! Os seres, nesses dias, passaram a entender-se pacificamente; ninguém reclamava em juízo quaisquer direitos, mostrando-se indiferentes aos litígios. A avareza e a ganância humana se enfraqueciam sob a força dessa influência desconhecida e salutar, que punha todos os interesses humanos em situação secundária!

Eis o motivo por que os religiosos criaram lendas e milagres em torno do nascimento do menino Jesus, na Terra, associando-lhe as mesmas fantasias atribuídas a outros instrutores espirituais da humanidade. Nenhuma estrela se moveu no céu, guiando reis magos até Nazaré, embora Melchior, Baltazar e Gaspar tivessem realmente procurado identificar o local onde encarnara o Avatar prometido para aquela época. Eram velhos magos e experimentados astrólogos, que pela disposição extraordinária dos astros no signo de Pisces e além de sua profunda sensibilidade mediúnica, certificaram-se de que uma Entidade de alta estirpe espiritual teria nascido na Terra, naqueles dias proféticos para os conhecedores da Astrologia. Em conseqüência, devido aos seus cálculos astrológicos e à sua habilidade esotérica, puderam identificar que a posição conjuncional de Saturno, Marte e Júpiter marcava uma data sideral de suma importância para asa atividades espirituais. Era um indício perfeito do clima vibratório favorável aos acontecimentos espirituais mais excelsos, pois o magnetismo suave e inspirativo do signo de Pisces, balsamizando o campo astrológico sobre a Judéia, e a presença simbólica da estrela assinalada há milênios, como o sinal incomum do Messias, compreendido na conjunção de Saturno, Júpiter e Marte, deram aos tradicionais magos a certeza do nascimento de Alta Entidade na superfície da Terra!

A natureza sublime de Jesus e suas hostes amigas irradiando a luz angélica sobre a atmosfera terrena bafejavam os corações dos homens e das mulheres mais sensíveis, despertando-lhes um sentimento de confraternização e convergência mental para os ideais superiores. Na verdade, consumado o nascimento de excelso menino no plano físico, os anjos, os mestres e os auxiliares espirituais do Senhor então se prosternaram, felizes, embora exaustos da inconcebível tarefa de ajustar o poderoso Espírito de Jesus no corpo vibrátil do “beija-flor” humano, que surpreendia as criaturas mais pacatas e comovia as mais endurecidas! Em seguida, todos ergueram seus cânticos ao Magnânimo Autor da Vida e Lhe renderam graças pelo sucesso feliz do Messias despertar na carne humana, livre de defeitos ou lesões orgânicas, superando os objetivos malignos do comando das Trevas!

Mas a delicadeza orgânica do menino Jesus, dali por diante ainda passou a exigir rigorosa vigilância e proteção do Alto, pois os espíritos trevosos continuavam a investir tenaz e obstinadamente no sentido de abalar o seu corpo carnal. Eles haviam mobilizado os recurso mais astuciosos e ofensivos para impedir o advento de Jesus na Terra, uma vez que a mensagem crística do Evangelho terminaria roubando-lhes inúmeras criaturas ainda escravas do vícios e das paixões terrenas, e vítimas para saciar-lhes os desejos mórbidos e atender-lhe os eventos pecaminosos do astral inferior! Com sua sanha diabólica, os inimigos da luz tentaram perturbar os próprios ascendentes biológicos de José e Maria, decididos a enfraquecer o organismo carnal planejado pelos Biólogos Siderais, e que deveria servir como instrumento messiânico na jornada redentora de Jesus!

PERGUNTA:- Gostaríamos de conhecer outros detalhes do júbilo dos anjos e de sua influência sobre a Terra, quando do nascimento de Jesus. É possível?

RAMATÍS:- É obvio que essa influência sublime sobre os homens de bons sentimentos atuou pela via espiritual e não se fez ostensiva aos sentidos físicos. No entanto, alguns iniciados de Alexandria, Índia, Arábia e dos santuários essênicos situados nos montes Moab, no Carmelo e Monte Hermon, na Judéia, também conseguiram identificar que um acontecimento de alta significação espiritual se dera na face do orbe, marcando, talvez, a descida de um Avatar. Isaías e Miquéias, os profetas que previram a vinda do Messias, no Velho Testamento, foram então lembrados, enquanto os astrólogos, iniciados e magos, consultando as cartas astrológicas e as posições raras dos astros, confirmaram, realmente, que se iniciava nova era de transformação moral e espiritual na humanidade, graças à presença de um Espírito poderoso no seio da carne humana.

Já dissemos, alhures, que uma estranha alegria e emoção paradisíaca envolveram as criaturas de bons sentimentos ante a presença de Jesus e dos seus anjos junto à Terra, tal qual na primavera as macieiras, as cerejeiras e os pessegueiros floridos, iluminados à luz do Sol e sob o azul sidério do céu, também despertam em nossas almas emoções mais ternas e aas sentidas saudades e um mundo desconhecido, mas vivo no imo de nossa alma.

A Terra ficou impregnada de fluídos sedativos e esperançosos, que amainavam as tempestades e as aflições humanas, enquanto se purificava o cenário triste do mundo material. Sob essa influência amorosa e pacífica, consolidaram-se fórmulas de paz e de construtividade entre os governantes e floresceram as artes; concretizaram-se projetos benfeitores e se multiplicaram iniciativas de amparo aos deserdados. Reis e chefes de tribos belicosas, movidos por um sentimento de magnanimidade, indultavam seus prisioneiros, alforriavam escravos e cessavam empreendimentos belicosos. Enfraqueciam-se as demandas violentas, multiplicavam-se a tolerância e a ternura nos corações dos homens, superando facilmente os impulsos destrutivos e violentos do instinto inferior.

Embora Jesus sempre tivesse permanecido em Espírito, junto dos homens, durante a sua encarnação terrena, ele manifestou-se pessoalmente no seio da comunidade humana e envolveu-a diretamente com sua excelsa vibração sideral e vivência mais íntima com o Cristo Planetário! Em verdade potências angélicas haviam derrotado fragorosamente as legiões satânicas e Jesus atingira a carne terrícola, protegido e recebendo um organismo físico de genética sadia e de ótima contextura cerebral. Malgrado as investidas diabólicas do Comando das Trevas, ele pudera configurar-se num menino formoso e lúcido, que iniciaria a sua peregrinação física, para entregar à humanidade terrena a mensagem de sua libertação espiritual.

Em torno do seu berço as potestades angélicas haviam colocado poderosas barreiras de luz, a fim de dissociarem qualquer carga de magnetismo nefasto ali projetado, com intenção de impedir-lhe a sublime missão crística. Jesus realmente vencera Satanás; e a Luz sublime do Anjo triunfara sobre o reino das Trevas!

PERGUNTA:- José, pai de Jesus, nunca percebeu algo de extraordinário em seu filho Jesus, que o convencesse de tratar-se de uma entidade messiânica?

RAMATÍS:- Conforme já dissemos, José era um homem prudente e sisudo, e até incrédulo às visões mediúnicas freqüentes de Maria, pois sua vida decorria num ritmo prosaico, de intenso trabalho e abnegação incessantes para com a família. No entanto, ele mesmo não pôde furtar-se aos fenômenos que lhe atingiram o espírito durante o nascimento de Jesus, quando, apesar de sua severidade e prudência espiritual, lhe pareceu distinguiu sons e melodias indefiníveis, enquanto sua alma pressentia uma luz safirina e prateada. Temeroso da zombaria dos demais e não podendo identificar tais fenômenos pela sensibilidade física, então preferiu silenciar quanto a essa sensação estranha e aceitando-a mesmo à guisa de alucinação. No entanto, Maria, sua esposa, adormecida num transe feliz, viveu a plenitude dessas ocorrências venturosas, pois só teve conhecimento do despertar do seu filho excelso no mundo, quando ele já se achava tranqüilo, deitado a seu lado, no singelo berço de palha.

Alguns rabis puros de coração, mais tarde, confirmaram que haviam pressentido ondas de luz e de perfumes durante o ofício na sinagoga, no momento presumível do nascimento do menino Jesus. Enquanto isso, pastores e camponeses, simples e bons, juraram ter visto sobre a casa de Sara, onde Jesus nascera, súbitas refulgências que pareciam cintilações à luz do Sol surgindo detrás das nuvens. Em verdade, as hostes angélicas projetavam suas luzes profiláticas e desintegradoras no ambiente onde Jesus deveria nascer, a fim de eliminarem as substâncias pestilentas, os detritos e petardos magnéticos, que eram projetados pelos espíritos das Trevas desejosos de impedirem o sucesso do advento do Messias!

PERGUNTA:- As pessoas que visitavam o menino Jesus chegaram a notar-lhe alguma coisa de extraordinário, além de sua beleza propriamente humana?

RAMATÍS:- Além da excelsa beleza e do encanto do menino Jesus, os que o visitavam também sentiam uma doce sensação de paz e de júbilo irradiada daquele berço pobre, comovendo-os até às lágrimas! Sem dúvida, não eram emoções facilmente identificadas pelos sentidos físicos, mas percepções que tocavam a alma e ali deixavam sua marca espiritual. As criaturas simples, ingênuas e bondosas, corações faminto de amor e repletos de fé, sentiram mais nitidamente a presença real do Messias. No entanto, como o cérebro físico não possui capacidade para atender duas vidas simultâneas, a física e a espiritual, o certo é que mais tarde os participantes de tais fenômenos insólitos terminaram por esquecê-los no prosaísmo da vida humana.

Algumas mulheres muito sensíveis e com faculdade de vidência, descreviam a aura fulgente que se irradiava do berço do menino Jesus e iluminava os aposentos, móveis, objetos, aves e pessoas, tingindo-os de um rosa formoso e com reflexos dourados cintilando um fundo de lilás claríssimo. Elas, então se ajoelhavam enternecidas, beijando as mãos do excelso querubim e o olhavam encantadas, como se ele fosse um príncipe recém chegado de um país de sonhos. Algumas pessoas asseguravam sentir perfumes sutilíssimos, de terna suavidade; outras auscultavam o Sr à procura de melodias, cânticos e preces comoventes, que as emocionavam até às lágrimas e não sabiam explicar. Sob tais circunstâncias, não tardou a se divulgar na cidade a notícia de que Maria, esposa de José, o carpinteiro, tinha sido visitada pelos deuses e dado a luz um filho formoso, tudo indicando tratar-se de um enviado de Israel!

Mas, com o decorrer do tempo, a própria Maria esqueceu as suas divinas emoções vividas durante o nascimento de Jesus, ante as responsabilidades de uma vida ativa e onerada junto à família, cuja descendência numerosa provinha de dois casamentos. Assim, enquanto tudo voltou ao normal, na Terra, foram sendo esquecidas as lembranças daqueles dias, encaixando-se a sua existência na moldura dos acontecimentos comuns da vida humana. No entanto, as entidades protegiam Jesus jamais de descuraram em torno dele, mantendo-se e neutralizando todas as investidas e tramas que eram mobilizadas pelos espíritos diabólicos!

A família se mostrava feliz e tranqüila, e José se envaidecia ante a figura tão encantadora de Jesus, seu primeiro filho com Maria. O menino se acomodava num humilde berço de palha e algodão, mas parecia surpreender até os animais que o espiavam pelos recortes e buracos da parede divisória do aposento. Ante a notícia de que o filho de Maria e José era de uma beleza incomum, sem os traços comuns nos recém nascidos, fez-se grande romaria ao lar de Sara. Aliás, seguindo a tradição vigente entre os hebreus, tanto a vizinhança de Belém, a parentela de Nazaré, como asa amigas de Maria, em Jerusalém, enviavam presentes ao menino Jesus e felicitavam a mãe venturosa. Algumas criaturas apenas desejavam conhecer o menino angélico, outras traziam seus préstimos e solidariedade ao feliz casal agraciado com o advento de um novo ser em seu lar. Eram pastores, camponeses, rabis, vendeiros, escribas, amigos de José as jovens do templo de Jerusalém, enternecendo-se diante do menino-luz, que lhes atraía as emoções mais ternas numa convergência adorativa. Alguns o presenteavam com cordeirinhos, cabras, aves; outros traziam sacos de trigo e cereais, bilhas com xaropes de frutas, pães de centeio ou bolos de aveia, mel de figo ou de abelha, para os pais. Os vendedores ambulantes, velhos fornecedores da casa e da carpintaria de José, deixavam fraldas, lençóis, cobertores e diminutas sandálias para o formoso menino.

Malgrado a tradição bíblica fantasiosa, não se registraram junto ao berço de Jesus quaisquer fenômenos insólitos que pudessem derrogar as leis da física humana, pois o seu nascimento processou-se conforme o de ouros meninos israelitas ou árabes, de sua época. Na hora delicada da délivrance, Maria ficou também a cargo da “mulher competente”, ou da parteira tradicional entre os hebreus, em cujo momento as apreensões dos familiares foram amenizadas por meio de preces e rogativas ao Senhor. Embora em humilde berço de palha estivesse repousando o corpo tenro do glorioso Messias, Salvador dos homens, a família já se mostrava felicíssima, só pelo êxito tão comum de nascer um filho em seu lar!

Mas era no Espaço que se manifestavam os júbilos venturosos e as emoções arrebatadoras, onde os mensageiros espirituais se sentiam aliviados do pesado encargo de amparar o Espírito de Jesus até à carne e ajudá-lo a nascer na face do planeta sombrio da Terra! O certo é que o coração de Maria transbordava de um intenso amor por tudo que a cercava, pois o seu carinho se estendia incondicionalmente a todos os seres e aos próprios insetos venenosos, batráquios repulsivos ou víboras perigosas! Às vezes ela se quedava, comovida, diante das flores que pediam das hastes e formavam verdadeiros bordados coloridos; doutra feita, umedeciam-lhe as face, pelas lágrimas saudosas que derramava ante a figura da ave que sulcava o céu azul e límpido, e que lhe parecia, num vôo feliz, em busca de um mundo feliz! Em certos momentos ela se erguia, embaraçada e surpresa, convicta de ouvir vozes angélicas, melodias estranhas e cânticos festivos parecidos com os salmos de Davi!

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