sexta-feira, 5 de novembro de 2010

**JESUS E SUA INFÂNCIA**

O SUBLIME PEREGRINO

DÉCIMA SEXTA PARTE

JESUS E SUA INFÂNCIA

PERGUNTA:- Por que motivo as diversas obras sobre a vida de Jesus silenciam quanto à sua existência entre os doze e os trinta anos de idade?

RAMATÍS:- Realmente, os historiadores profanos, até os mais imaginativos não puderam preencher essa lacuna na vida de Jesus; e também as próprias escolas ocultistas e principalmente a rosa-cruz, por vezes, divergem até quanto à data da morte e à idade com que o Mestre desencarnou na cruz. Inúmeras conjeturas têm sido feitas para explicá-la, uma vez que os próprios discípulos, nos seus relatos evangélicos, também parecem ignorar o assunto. E assim, a pena dos escritores mais exaltados e místicos, descreve Jesus com um ser mitológico, cuja vida fantasiosa discrepou completamente dos acontecimentos e das necessidades da vida humana. Noutro extremo, os inimigos figadais da fantasia e apegados fanaticamente aos postulados “positivos” da ciência terrena, biografaram Jesus à conta de um homem comum e sedicioso, espécie de líder de pescadores e campônios, que fracassou na sua tentativa de rebelião contra os poderes públicos da época. Os mais irreverentes chegam mesmo a considerar que na atualidade o caso de Jesus seria apenas um problema de ordem policial!

É muito difícil, para tais escritores extremistas, compreenderem a situação exata de um anjo descido das esferas paradisíacas até situar-se em missão redentora no vale der sombras terrenas. Jesus não foi o homem miraculoso ou santo imaterial, cujos gestos, palavras e atos só obedeciam ao figurino celestial decretado por Deus; mas, também, não era um homem vulgar tomado de ambições políticas e desejoso de falsas glorias do mundo material. Nem criatura diáfana acima das necessidades humanas, nem arruaceiro buscando o triunfo nos bens terrenos! Em verdade, onde terminava o anjo começava o homem, sem romper o equilíbrio psicológico ou discrepar dos seus contemporâneos.

PERGUNTA:- O que nos dizeis sobre a infância de Jesus?

RAMATÍS:- A infância do menino Jesus, aparentemente, transcorreu de modo tão comum quanto a dos demais meninos hebreus, seus conterrâneos. Conforme já dissemos, ele discrepava dos demais meninos devido à sinceridade e franqueza com que julgava as coisas do mundo, sem sofismas ou hipocrisia. Algumas vezes causava aflições aos próprios pais, provocando comentários contraditórios entre aquela gente conservadora, que jamais poderia compreender o temperamento de um anjo exilado na carne e incapaz de se acomodar aos interesses prosaicos do ambiente humano.

A vida de Jesus transcorreu adstrita aos costumes das famílias judaicas pobres e de descendência fértil, o que ainda é muito comum na Judéia atual. Os escritores que biografaram sua vida, quase sempre teceram comentários ao sabor de sua imaginação e absolutamente crentes de que ele foi uma criança submissa aos preconceitos e sofismas da época. Assim, a lenda e o absurdo transformaram a vida do ser incomum que foi Jesus, num Deus vivo imolado na cruz da redenção, depois de ter vivido existência incompatível com a realidade humana!

PERGUNTA:- Qual era o aspecto físico do menino Jesus?

RAMATÍS:- Era um menino encantador, de olhos claros, doces e aveludados, como duas jóias preciosas e de um azul-esverdeado encastoadas na fisionomia adornada pela beleza de Maria e cunhada pela energia de José! Vestia pobremente, como os demais meninos dos subúrbios de Nazaré, onde proliferavam as tendas de trabalho dos homens de ofício e as lavanderias do mulheril assalariado.

O menino Jesus tinha os cabelos de um louro ruivo, quase fogo, que emitiam fulgores e chispas à luz do Sol; eram soltos, com leves cachos nas pontas e flutuavam ao vento. Quando ele corria ladeira abaixo, perseguido pelos cabritos, cães e aves, seus cabelos então pareciam chamas vivas esvoaçando em torno de sua cabeça angélica! A roupa íntima era de pano inferior, que depois ele cobria com uma camisola de algodão, de cor sépia ou salmão. Só nos dias festivos ou de culto religiosos ele envergava a veste domingueira de um branco imaculado, sendo-lhe permitido usar o cordão de neófito da Sinagoga.

Sobre os ombros, nas manhãs mais frias, Maria punha-lhe o manto azul-marinho, de lã pura, tecida em Jerusalém, que fora delicado presente de Lia, uma de suas mais queridas amigas de infância.

Aos doze anos de idade o porte do menino era ereto e altaneiro, pois as roupas caíam-lhe majestosas sobre o corpo impecável, de anatomia tão admirável, que causava inveja às mães dos meninos trôpegos ou defeituosos. Nele se justificava o provérbio de que o “belo e o bom não são imitados, mas apenas invejados”, pois tanto o invejavam pela fartura do seu encanto, pela prodigalidade de sua doçura e cortesia, como devido à sua dignidade e conduta moral mais própria de um sábio e de um santo! Embora fosse criatura merecedora de todos os mimos do mundo, nem por isso a maldade humana deixava de atingir o menino Jesus, em cuja fisionomia esplêndida e leal, às vezes pairavam algumas sombras provocadas pela maledicência, injustiça e despeito. Aliás, o que é delicado é mais fácil de ser maltratado, pois enquanto o condor esfacela um novilho, o beijo flor sucumbe sob o afago do menino bruto! Assim também acontecia com Jesus. Seu porte atraente, a sua beleza angélica, a sabedoria prematura e a meiguice invulgar, tornavam-no um alvo para a concentração de fluídos de ciúme, de inveja e sarcasmo! Enfrentou desde cedo, a maldade, a má fé, a malícia e a hipocrisia humanas, o que é natural às almas sublimes exiladas no plano retemperador e educativo dos mundos materiais.

PERGUNTA:- Jesus permanecia ente os meninos nazarenos, participando dos seus brinquedos e divertimentos comuns?

RAMATÍS:- Nada ele tinha de vaidade ou orgulho que o distanciasse dos demais companheiros de infância, pois era cordial e afetuoso, amigo e leal. No entrnto inúmeras vezes, no auge do brinquedo divertido, o menino Jesus anuviava o seu semblante, pois seus sentidos espirituais aguçados pressentiam a efervescência da ciladas ou das cargas fluídicas agressivas que se moviam procurando atingi-lo em sua aura defensiva. Era o anjo ameaçado pelos seus adversários sombrios, que não podiam afetgar-lhe a divina contextura espiritual, mas tentavam ferir-lhe o corpo transitório, precioso instrumento do seu trabalho messiânico na Terra. Esses espíritos diabólicos, que a própria Bíblia os sintetizou tão bem na “tentação de Satanás”, recorriam às próprias cargas de inveja e de ciúmes que se formavam em torno de Jesus, por força do despeito dos próprios conterrâneos. Assim manipulavam o material hostil produzido pelas mentes insatisfeitas diante da gloriosa figura daquele ser, com a intenção de turbar-lhe os sentidos nervosos e o comando cerebral.

Então, a sua respiração tornava-se aflitiva e o seu coração se afogueava; o sistema hepato-renal apressava-se a eliminar qualquer tóxico que se materializasse decorrente da condensação de fluidos ferinos. O menino Jesus, num impulso instintivo, corria célere para longe do bulício dos seus companheiros e se deitava, exausto, sobre a relva macia, ou beira do regato, debaixo das figueiras, ou ainda entre os arbustos umedecidos, como se o orvalho e o perfume das florinhas silvestres pudessem lhe refrigerar a mente incandescida.

Mas em tais momentos ele era alvo dos cuidados e atenções do anjo Gabriel e de suas falanges, que então que então o aconselhavam a buscar o refúgio no seio da Natureza amiga durante suas crises emotivas ou opressões astralinas. Ali. Esses sublimes amigos podiam manipular extratos vitalizantes e fluidos protetores apanhados dos duplos etéricos do regato, das flores e dos arvoredos benfeitores, que se transformavam em energias terapêuticas, imunizando-o contra os dardos ofensivos dos espíritos trevosos. (Vide cap. L. “Cidadão de Nosso Lar”, em que o espírito de Narcisa manipula extratos fluídicos do eucalipto e de mangueira em favor de um enfermo. Idem cap. XLI, “Entre as Árvores”, “Mensageiros”, de André Luis). Em breve se fazia o desejado desafogo espiritual e o menino voltava tranqüilo a retornar os brinquedos, sem poder explicar aos companheiros o motivo de suas fugas intempestivas.

PERGUNTA:- De acordo com as nossas próprias mensagens, em que o espírito sublime só atrai bons fluidos, como se explica a necessidade de tantos cuidados e proteções ao menino Jesus, quando ele era um anjo exilado na Terra?

RAMATÍS:- Dissestes muito bem: ”Jesus era um anjo exilado na terra”, isto é, um anjo fora dos seus domínios e submerso num escafandro de carne, que o reduzia em seu potencial angélico! Já citamos, alhures, o conceito popular de que “entre espinhos, o traje de seda do príncipe rasga mais facilmente do que a roupa de couro do aldeão”. Isso implica em considerarmos que tanto quanto mais delicado é o ser, mais ele também é afetado pelas hostilidaes próprias do meio onde vive. O beija flor sucumbe asfixiado quando é atirado no charco de lama, enquanto, a seu lado, o sapo canta de júbilo!

A criança lactente ainda nada pensa de mal, no entanto, é sensível aos maus fluidos da inveja ou do ciúme projetados sobre a sua organização tenra, os quais mais tarde são eliminados graças ao socorro dos benzimentos da velhinha experimentada. Aliás, ninguém se basta por si mesmo, nem o próprio Jesus, pois se a Vida é fruto da troca incessante do choque de energias criadoras atuando em seu plano correspondente, quando hostis elas ferem a qualquer espírito mergulhado na carne. A si mesmo só se basta Deus, que é o Pai, o Senhor da Vida! As relações entre todas as criaturas e seres, sejam virtuosos ou pecadores, significam ensejos de experimentação da própria Vida, que tanto educa os ignorantes como redime os pecadores!

Quando a Pedagogia Sideral adverte que o espírito sublime só atrai bons fluidos, e a alma delinqüente é a culpada pela carga nefasta que recepcionar sobre si mesma, nem por isso, os bons deixam de ser alvo dos malefícios da inveja, do ciúme ou da má-fé humana. Que é o anjo de guarda do agiológico católico, senão o símbolo da proteção espiritual superior e necessária a todas as criaturas benfeitoras? O pseudo Diabo da Mitologia, que compreende simbolicamente as falanges dos espíritos malignos, não se contenta em arrebanhar para o seu reino trevoso somente as almas pecaminosas; porém, conforme assegura a própria Bíblia, ele tudo faz para poluir os bons e chegou mesmo a tentar o próprio Jesus. (Vide Mateus, IV, VS. 1 a 11).

Não há dúvida de que os bons só atraem os bons fluidos e acima de tudo ainda merecem a companhia e a proteção dos bons espíritos, mas é conveniente meditarmos em que, nem por isso, estamos livres da agressividade dos espíritos maléficos, que não se conformam em sofrer qualquer derrota espiritual!

PERGUNTA:- Não se poderia deduzir que essa proteção extraordinária e poderosa sobre Jesus também deveria estender-se a todas as criaturas benfeitoras e assim lavrá-las definitivamente das investidas maléficas do mundo oculto?

RAMATÍS:- Sem dúvida; isso é racional e justo; porém, é essencial que tais criaturas façam por merecer essa proteção superior, assim como a merecia Jesus!

PERGUNTA:- Quais foram as emoções ou as reações mais comuns de Jesus, na sua meninice?

RAMATÍS:- Até aos sete anos, como acontece a quase todos os meninos na vida material, predominavam em Jesus os ascendentes biológicos herdados dos seus genitores. Em tal época, ele ainda agia impelido pelo instinto hereditário da ancestralidade carnal, enquanto o seu espírito despertava pouco a pouco, na carne, para então comandar o corpo emocional ou astralino, revelador oculto das emoções humanas. Fisicamente, Jesus era um menino corado, ágil e flexível, tal qual o junco verde que se agita sob a mais terna brisa; ele corria pelos campos, rolava pelas colinas misturando-se às cabriolas dos cordeiros e dos cabritos, que pareciam entendê-lo e gostar do seu riso farto e da sua índole meiga. Havia um halo de pureza e lealdade em tudo o que ele fazia; e muitas vezes, as criaturas envelhecidas no mundo, observando-lhe a agudeza mental, o sentimento superior e a simplicidade fraterna no brincar e viver, maneavam a cabeça agourando a má sorte para sua mãe apreensiva, quando diziam: “Menino assim não se cria; este nasceu antes da época!”

Jesus era divertido e espontâneo em suas travessuras; porém, sem humilhar sem maltratar os companheiros ou animais. Jamais urdia qualquer brincadeira maliciosa que pusesse alguém em confusão ou prejudicasse outros meninos; sincero, franco e justo, revelava-se inteiriço na sua estatura de alma benfeitora e amiga da humanidade! Educado com severidade por José, era tímido e temeroso diante dos pais, cuja obediência o tornava um bom menino. No entanto, desde muito cedo lavrava em sua alma a chama do mais puro amor e devoção ao Senhor! Inúmeras vezes era apanhado em atitudes extáticas numa adoração invisível, que deixava seus íntimos algo surpresos e até preocupados, pois era muito cedo para haver tamanha demonstração de fé e de ardor religioso por Jeová! Essas atitudes que seriam louváveis nos adultos, então se tornavam, motivos de censuras e até de ironias por parte dos seus familiares e amigos.

Ao completar sete anos os seus familiares ficaram apreensivos com ele, em face da estranha melancolia que o acometera, pois algo se revelara dentro de si e lhe roubava a plenitude comum de alegria. No entanto, era o período quem que o corpo astralino se ajustava ao organismo físico e se consolidava junto ao duplo etérico constituído pelo éter físico da Terra. Dali por diante, como acontece com todas as crianças depois dos sete anos, Jesus passava a contar com o seu veículo emocional”, e que o faria vibrar com mais intensidade no cenário do mundo e na responsabilidade na carne. Aliás, é de senso comum que as crianças são “inocentes” até os sete anos, porque a voz popular pressente que o espírito encarnado ainda não conta com o veículo emocional para expressar suas emoções sob o controle espiritual. Até essa idade domina apenas o instinto puro e os ancestrais hereditários, sem obedecer ao comando do Espírito.

Assim, conforme a própria lei do cientificismo cósmico, daquela idade em diante Jesus começava a consolidar mais fortemente a sua consciência humana, enquanto o seu Ego Sideral se punha em maiores relações com os fenômenos da matéria. O seu raciocínio desenvolvia-se rápido, mas as preocupações prematuras substituíam-lhe, pouco a pouco, a alegria espontânea por um halo de melancolia e tristeza. Embora menino, na se achava imbuído das inquietações e dos problemas próprios dos adultos, algo preocupado em solucionar as vicissitudes da humanidade tão confusa. A idéia mais prosaica sofria dele vigorosa análise de lhe provocava reflexões sérias, se nisso estava envolvida a ventura alheia. E os velhos rabis da Sinagoga então se punham a dizer, meneando a cabeça com ar censurável: “São idéias impróprias para um menino de sua idade!”

PERGUNTA:- Jesus cursou alguma escola comum ou fez estudos particulares?

RAMATÍS:- As possibilidades da família só permitiram a Jesus fazer singelo curso de alfabetização para adquirir o conhecimento primário sobre as coisas elementares. Deixou de estudar assim que aprendeu a ler e a contar os salmos e os longos recitativos no ambiente severo da Sinagoga de Nazaré, o que era mesmo comum aos meninos mais favorecidos pela oportunidade educativa.

Indubitavelmente, Jesus era uma criança de inteligência incomum para a época, pois os seus conceitos e aforismo de elevada ética espiritual, não só surpreendiam como até escandalizavam muitos adultos, que jamais podiam aquilatar a realidade do padrão de vida angélica aplicado entre os homens cobiçosos. O seu caráter impoluto fazia-o transbordar quando defendia conceitos de justiça, de desprendimento e dignidade, que chegavam a torná-lo estranho e confuso entre o seio do seu próprio povo. Ele despertava censuras aos próprios familiares, ou então sofria severas advertências dos mais velhos ou conselhos temerosos dos mais pudicos.

A sua força de libertação era assombrosa, pois sua alma não resitia muito tempo no trato demorado com as coisas prosaicas do mundo, malgrado ele dar subido valor a tudo o que era manifestação de vida, cujo gosto e interesse lhe delineou o roteiro futuro das maravilhosas parábolas hauridas na Natureza. Mas era incapaz de revelar a índole do relojoeiro, que pode operar horas e horas preso ano maniqueísmo de um relógio, ou então entregar-se à pertinácia do laboratorista, que extingue sua vida escravizada ao mundo invisível dos micróbios. Embora criança de 10 anos, Jesus visualizava todos os acontecimentos, as coisas e os ideais humanos de um modo panorâmico, pois o seu espírito recuava facilmente ao passado e projetava-se rapidamente no futuro. Surpreendia aquela gente pacata, simples e iletrada, que vivia prisioneira num círculo de preconceitos escravizantes e fanatizados à religião tradicional.

O menino Jesus sentia dificuldades para estudar à maneira dos alunos comuns, que aceitam e decoram, sem protestos, tudo o que lhes diz o mestre-escola. Custava-lhe absorver-se na nomenclatura convencional do mundo, quanto ao sistema primitivo de memorização maquinal. Assim, ele mal tomava contato com as lições áridas da escola hebraica, quase desatento aos símbolos das ciências terrenas, nos quais seu espírito ilimitado sentia-se embaraçado, como pequeninas teias que lhe cerceavam o vôo pelo Cosmo. No entanto, à simples observação de uma bolota, ele concebia o carvalho florescente e ante o fiapo de nuvem que passava célere pelo céu, não lhe era difícil antevê o fragor da tempestade.

Com o tempo, o próprio mestre-escola, habituou-se às fugas mentais do filho de José e Maria, cujo temperamento meigo, por vezes inquieto, casava perfeitamente o seu perfil angélico e prodigamente amoroso para com todos. Algumas vezes, ele despertava surpreso, como se fosse arrebatado das nuvens, sob a voz imperiosa do professor pedindo-lhe a lição do dia. No entanto, nenhum homem no mundo assimilou tão rapidamente tantos conceitos de filosofia, lendas, narrativas, parábolas e conhecimento do mundo, através da escola viva das relações humanas como o fez Jesus! Sua alma, de transparente sensibilidade, era um cadinho efervescente, em que de um punhado de vocábulos, sob a “química” do seu espírito, formava a síntese de lições eternas!

PERGUNTA:- Mediante vossas considerações sobre a infância de Jesus, pressupomos que em face do seu temperamento incomum aos demais meninos, ele significava um sério problema para José e Maria?

RAMATÍS:- Realmente, José e Maria eram paupérrimos e responsáveis por uma prole numerosa e estranhavam que Jeová, em vez de lhes enviar um filho de bom senso, prático e semelhante aos demais meninos, onerara-os com um belo garoto, de um fascínio e encanto especial, de uma agudeza e sinceridade chocantes, mas impróprio para a época e vivendo na infância a responsabilidade e os pensamentos de um adulto! Malgrado sua doçura, sentimento amoroso, pensamentos limpos e certa timidez, Jesus era uma “criança-problema”, quando incandescia na sua alma aquele estranho fulgor, que o tornava severo, desembaraçado e irredutível no seu senso de justiça tão incomum!

Os seus arrebatamentos e entusiasmos, que o levavam a beneficiar os outros com sérios prejuízos para si mesmo, a sua falta de utilitarismo e a inesgotável capacidade de trabalhar gratuitamente para qualquer pessoa, deixavam José e Maria confusos, pois só eram habituados à vida rotineira e sem contrastes importantes. Afora isso, o menino Jesus era frugal, simples e sempre esquecido do seu próprio bem.

PERGUNTA:- Afirma alguns escritores que Jesus era doentio desde a infância, e se fosse hoje examinado pela ciência médica seria considerado um nevrótico ou esquizotímico?

RAMATÍS:- Convém saber, antes de tudo, qual é a natureza do padrão científico preferido pela ciência médica do mundo para aferir qualquer enfermidade atribuída ao menino Jesus. A verdade é que nas tabelas da patogenia sideral, as enfermidades mais graves são justamente a vaidade, avareza, ira, crueldade, luxúria, hipocrisia, o orgulho, ciúme e os vícios que aniquilam o corpo carnal como o fumo, o álcool, os entorpecentes ou a glutonice carnívora! Desde que os sábios terrenos passem a considerar a hipersensibilidade, o amor, a renúncia espiritual próprias do menino Jesus, como incurso nas tabelas patológicas do mundo, é evidente que também terão de classificar o seu oposto, isto é, a “consciência satãnizada” como um padrão da verdadeira saúde do homem! A melancolia, a tristeza, o desassossego e aparentes contradições do menino Jesus não eram efeitos próprios de um caráter mórbido ou censurável, mas uma conseqüência natural do desajuste do seu espírito angélico, cuja vida era profundamente mental e o fazia sentir-se exilado no ambiente rude da matéria! As suas esquisitices e excentricidades eram provenientes da sua impossibilidade de acomodar-se ao meio terráqueo, como o faziam os seus contemporâneos adstritos aos problemas simplíssimos de digerir, procriar e cumprir as exigências fisiológicas do organismo humano. Não é demonstração de enfermidade a aflição das pombas debatendo-se no pântano viscoso, só porque ali os crocodilos se mostram eufóricos e tranqüilos!

Jesus não era enfermo psíquico, embora tivesse de refugiar-se amiúde no seio da mata ou das clareiras silenciosas, quando se sentia afogueado pela tensão do seu próprio espírito ou alvejado pelos fluidos perniciosos. Em verdade, havia profundo contraste entre o seu temperamento angélico de avançado entendimento moral, ao pôr-se em choque com os interesses mesquinhos, a vulgaridade, má fé e ignorância dos homens que lhe cumpria esclarecer e salvar!

PERGUNTA:- Conforme vossos dizeres, o menino Jesus também exigia uma vigilância constante dos seus anjos tutelares, em face de sua despreocupação pela vida humana. Quer dizer que ele dava sério trabalho aos seus protetores?

RAMATÍS:- Sem dúvida, a preciosidade de sua vida endereçada à mais importante missão de um anjo sobre a Terra, abrir clareiras de luz no seio das sombras terráqueas para a redenção do homem, movimentava todas as forças benfeitoras a fim de livrá-lo de uma desencarnação prematura ou acidente lesivo. A índole excessivamente contemplativa de Jesus induzia-o a procurar empreendimentos e atividades insólitas, que pudessem ajudá-lo a compensar as angústias e aas emoções de que sofria o seu espírito super ativo, pois, de conformidade com o velho aforismo iniciático, “o anjo não dorme”! Nos seus impulsos de libertação, ele penetrava a fundo nos bosques e nas furnas, surpreendendo até as feras nômades que o fitavam inquietas e sem coragem de agredi-lo, ante a refulgência da luz sideral que os seus guias projetavam no sentido de protegê-lo. Malgrado a advertência prudente do Alto, o menino Jesus expunha demasiadamente o seu corpo aos perigos do meio agressivo do mundo, enquanto se deixava ficar absorto, em sua meditação espiritual, horas dentro da noite.

Por diversas vezes, Maria o encontrou curvado sobre a serpente enrodilhada na moita de capim, ou então afagando o filhote da fera, a qual, em vez de ameaçadora, mostrava-se eufórica sob talo carinho. A serpente,cuja crendice diz que não morde a mulher gestante nem agride a mãe de bons propósitos, ou mesmo a leoa ciumenta dos filhos não se mostravam agressivas ante a presença daquele garoto transbordante de ternura por todos os seres! Assim como o lobo selvagem também se transforma em um cão dócil e inofensivo, quando o tratam com meiguice e desvelo, Jesus envolvia os animais ferozes e os répteis venenosos em sua aura de tanta meiguice e amor, que eles se quedavam tranqüilos.

Evidentemente, isso exigia a atenção constante dos seus amigos siderais e não poucas vezes a “voz oculta” de Gabriel advertiu-o para que não se expusesse tanto no cenário perigoso do mundo físico. Mas, quem poderia modificar a índole de um anjo que jamais temia a morte?

PERGUNTA:- Quais outros detalhes que ainda nos podeis oferecer sobre a vida do menino Jesus, pois tem sido tão contraditória a narrativa de sua infância?

RAMATÍS:- A fim de poderdes avaliar o verdadeiro temperamento, as virtudes e os contrastes do menino Jesus com os demais garotos de sua época, dar-vos-emos um quadro de algumas minúcias de sua vida, e que servirá para o mais claro entendimento de nova pergunta. Em resumo: era um menino que jamais guardava ressentimento de alguém, mostrando-se absolutamente imune às ofensas e aos insultos alheios. Imparcial e sincero em suas amizades, ele não diferenciava nenhum companheiro, por mais deserdado ou subversivo; não traia, não intrigava, não zombava nem humilhava. Ninguém o viu usar qualquer meio para ferir um pássaro, destruir um réptil, inseto ou batráquio! Curvava-se para o solo e colhia o verme repelente na folha do vegetal, pondo-o fora do alcance das pisaduras humanas. Sob o espanto dos próprios adultos, ele deliciava-se com os carreiros de formigas super carregadas de partículas de alimentos ou folhas tenras; com os retalhos de madeira da carpintaria de José, construía túneis para livrá-las de serem esmagadas pelas criaturas que ali cruzassem os caminhos. Muitas vezes, perdia longo tempo tentando repor no lombo das formigas a carga que lhe fora desalojada ou lhes trazia restos de cereais só para vê-las carregarem. Os meninos da vizinhança, rudes e daninhos, então contavam a seus pais as esquisitices do filho de Maria, provocando deles o conceito de que “esse menino não é bem certo da cabeça”.

Certas vezes, Maria e José mortificavam-se dolorosamente, ao encontrar Jesus conversando animadamente com as aves e os animais, que, em verdade, pareciam entendê-lo! Advertia, censurava e aconselhava patos, cães, marrecos, galinhas, cordeiros e cabritos, apontando-lhes as imprudências e os perigos do mundo! Enxotava-os para longe nos dias de matança, pois jamais alguém pôde matar qualquer ave ou animal na sua presença, cujo espetáculo doloroso o deixava febril e o fazia fugir do lugar! Qualquer ave ferida ou cão maltratado recebia dele o máximo carinho e tratamento; e um júbilo intenso, uma alegria sem limite tomava-lhe o roso radioso, quando os seus “doentes” se punham a voar ou a caminhar! Batia palmas satisfeito, de euforia espiritual, enquanto, às vezes, o sarcasmo dos perversos lhe feriam os ouvidos desapiedadamente. Curtiu noites de insônia, depois que viu, estarrecido, os bois tombarem um atrás do outro com a goela vomitando sangue e feridos mortalmente pela lança dos magarefes. Mesmo depois de adulto, ele custava a se dominar diante dos quadros lúgubres do templo de Jerusalém, onde os sacerdotes oficiavam a Jeová respingado pelo sangue dos animais e das aves inocentes!

Jamais podia compreender sua culpa, quando ouvia severas admoestações de José e os apelos insistentes de Maria, para que não arriscasse sua vida preciosa nos arvoredos envelhecidos, onde subia afoito, para proteger os ninhos perigosamente pensos nos galhos rotos! Mas eram inúteis tais censuras ou conselhos; em breve, tornavam a encontrá-lo novamente trepado nos galhos das árvores e entre os pássaros, que em vôos efusivos pareciam aliar-se ao seu riso cristalino, gratos pelo carinho dispensado aos filhotes implumes! Durante os brinquedos e folguedos cotidianos, qualquer perversidade cometida contra os seres inferiores deixava-o silencioso e severo. A censura no olhar era tão veemente, que os meninos mais culpados se afastavam temerosos.

Em conseqüência, Jesus não era um menino mórbido, excêntrico ou propriamente rebelde; porém manifestava uma linha de conduta angélica prematura entre os demais seres, e por isso semeava constrangimentos nos hipócritas, atemorizava os cruéis, que o censuravam, zombando das suas comiserações pelos insetos, vermes ou répteis!

Nenhum comentário:

Postar um comentário