SEGUNDA PARTE
PERGUNTA:- Que dizeis a respeito do dogma católico, que afirma ter sido Jesus o próprio Deus encarnado, feito homem para salvar a humanidade?
RAMATÍS:- Em verdade, Jesus é o Espírito mais excelso e genial da Terra, da qual é o seu Governador Espiritual. Foi também o mais sublime, heróico e inconfundível Instrutor entre todos os mensageiros espirituais da vossa humanidade. A sua encarnação messiânica e a sua paixão sacrificial tiveram como objetivo acelerar, tanto quanto possível, o ritmo da evolução espiritual dos terrícolas, a fim de proporcionar a redenção do maior número possível de almas, durante a “separação do joio e do trigo, dos lobos e das ovelhas”, no profético Juízo Final já em consecução no século atual.
PERGUNTA:- Podereis referir alguns aspectos e detalhes, quanto ao critério dessa separação em duas ordens distintas?
RAMATÍS:- O “trigo” e as “ovelhas” simbolizam os da “direita” do Cristo: são os pacíficos, altruístas, humildes e compassivos, representantes vivos das sublimes bem-aventuranças do Serão da Montanha. O caso é semelhante ao que se processa num jardim, quando o jardineiro decide arrancar as ervas daninhas que asfixiam as flores; e, em seguida, aduba a terra, a fim de obter uma floração sadia e bela.
O outro grupo de espíritos situados à “esquerda” do Cristo, referidos na profecia como sendo o “joio” ou os “lobos”, compõem-se dos maus, dos cruéis, avarentos, irascíveis, orgulhosos, egoístas, hipócritas, luxuriosos ou ciumentos. Semelhantes à erva daninha do jardim, eles serão “arrancados” ou “excluídos” da Terra para um planeta inferior, compatível com suas paixões e vícios. No entanto, como o Pai jamais perde uma só ovelha do seu rebanho, tais “esquerdistas”, depois de “limpos” ou “redimidos” no exílio planetário purgatorial, regressão à sua velha morada terrena para harmonizar-se à sua humanidade.
Conseqüentemente, os exilados da Terra sentir-se-ão “estranhos“ no planeta para onde foram expulsos; e, em certas horas de nostalgia espiritual, criarão também a lenda de um Adão e Eva enxotados do Paraíso, por haverem abusado da “árvore da vida”. (vide Genesis, cap. III, vers. 23 e 24) Então, no astro-exílio surgirá uma versão nova da lenda dos “anjos decaídos”, como já aconteceu há milênios , na Terra, por parte do exilados de outros orbes submetidos a juízo final semelhante. E quanto esses expatriados voltarem a reencarnar na Terra, que é a sua “casa paterna”, então o Pai se rejubilará! (Vide Lucas, cap. XV, vers. 11 a 32, - a parábola do filho pródigo).
No Terceiro Milênio, a Terra será promovida a um grau sideral ou curso espiritual superior, algo semelhante ao ginásio do currículo humano, cujos inquilinos ou moradores serão os espíritos graduados à “direita” do Cristo, conforme João diz no seu Apocalipse (Cap. XXI, vers. 27):- “Não entrará nela (Terra) coisa alguma contaminada, nem quem cometa abominação ou mentira, mas somente aqueles que estão escritos no livro da vida do Cordeiro”. Em verdade, no Terceiro Milênio, só entrarão na Terra, pela “porta” da reencarnação, os espíritos devidamente ajustados ao Evangelho de Jesus, no simbolismo das “ovelhas”, do “trigo” e dos “direitistas”.
PERGUNTA:- Qual uma idéia mais ampla, quanto a Jesus ser o “Salvador” dos homens. Conforme aludistes há pouco?
RAMATÍS:- As profecias do Velho Testamento sempre se referiram a um Messias, eleito de Deus, “Salvador” da humanidade terrena e libertador do povo de Israel, cativo dos romanos. Mas os profetas não explicaram qual seria a natureza dessa “salvação”, nem deixaram quaisquer indicações que pudessem esclarecer os exegetas modernos. No entanto, a humanidade do século XX já está capacitada para entender o sentido exato do vocábulo “Salvador”, e também qual a natureza da tarefa de Jesus junto aos homens.
O seu Evangelho, como um “Código de Moral” dos costumes e das regras da vida angélica, proporciona a “salvação” do espírito do homem, libertando-o dos grilhões do instinto animal e das ilusões da vida material. Essa “salvação”, no entanto, ainda se amplia noutro sentido, porque os redimidos ou “salvos” dos seus próprios pecados também ficam livres da emigração compulsória para um planeta inferior, cujo acontecimento já se processa na vossa época, simbolizado pelo “Fim dos Tempos” ou “Juízo Final”!
Os evangelizados ou “salvos” das algemas das paixões da animalidade devem corresponder ao simbolismo do “trigo”, da “ovelha” ou da “direita” do Cristo, a fim de ficarem desobrigados de uma emigração retificadora para outro orbe inferior, sendo-lhe permitido reencarnar-se na Terra, participando da humanidade sadia e pacífica predita para o Terceiro Milênio. (Vide obra de Ramatís “Mensagens do Astral”, cap. I, II e XI, respectivamente, “Os tempos são chegados”, “O Juízo Final” e “Os que Emigrarão para um Planeta Inferior”). Em conseqüência, a humanidade futura será composta dos “escolhidos” à “direita” do Cristo e perfeitamente integrados no seu Evangelho redentor.
PERGUNTA:- Qual a outra afirmação da Igreja Católica, de que Jesus era o “Filho de Deus”, como a segunda pessoa da Santíssima Trindade manifesta na carne?
RAMATÍS:- Jesus nunca afirmou que era o próprio Deus manifesto na segunda pessoa da Santíssima Trindade, nem se pronunciou diferente da natureza dos demais homens. Mas deixou bem claro a sua condição de irmão de todos os homens e filhos do mesmo Deus, quando por diversas vezes assim se dirigiu aos seus discípulos: “Eu vou a meu Pai e a vosso Pai, a meu Deus e a vosso Deus”. É evidente, nesse conceito, que ele se referia a Deus como o Pai de todos os homens; e a todos os homens como filhos desse mesmo Deus.
PERGUNTA:- Poderíeis citar-nos algum fato ou versículo do Novo Testamento, comprovando-nos o fato de Jesus não ser o próprio Deus encarnado?
RAMATÍS:- Deus, o Absoluto, o Infinito, jamais poderia ser enclausurado ou “comprimido” nas limitações da forma humana, assim como um pequeno lago não pode suportar e conter o volume das águas do oceano!
A Terra, planeta de educação primária a se mover entre bilhões de outros planetas mais evoluídos, jamais poderia justificar a derrogação das leis do Universo Moral, no sentido de o próprio Deus tomar a forma humana, para “salvar” a humanidade terrícola, ainda dominada pela cupidez, sensualidade, avareza, ciúme e orgulho! Isso seria tão absurdo, como se convocar um sábio da categoria de Einstein para ensinar os rudimentos da aritmética aos alunos primários!
Deus jamais precisaria encarnar-se na Terra para despertar os terrícolas, quanto aos objetivos superiores da vida imortal. A revelação espiritual não se faz de chofre; ela é gradativa e prodigalizada conforme o entendimento e o progresso mental dos homens. Assim em épocas adequadas, baixaram à Terra, instrutores espirituais como Antúlio, Numu, Orfeu, Hermés, Crisna, Fo-Hi, Lau Tse, Confúcio, Buda, Maharshi, Ramacrisna, Kardec e Ghandi, atendendo particularmente às características e aos imperativos morais e sociais do seu povo. Jesus, finalmente sintetizou todos os conhecimentos cultuados pelos seus precursores, e até por aqueles que vieram depois dele. O seu Evangelho, portanto, é uma súmula de regras e de leis do “Código Espiritual”, estatuído pelo Alto, com a finalidade de promover o homem à sua definitiva cidadania angélica.
Aliás, é Jesus quem nos comprova não ser ele o próprio Deus, porquanto do alto da cruz, num dos seus momentos mais significativos, exclamou:- “Pai! Perdoai, pois eles não sabem o que fazem”! Por conseguinte, é absolutamente lógico e evidente que a sua súplica ao Pai, rogando pelos seus algozes, demonstra a existência na cruz do martírio de um “filho espiritual”, feito homem e não o próprio Deus!
Se Jesus fosse o próprio Deus feito carne, por que então ele se dirigiu a um Pai que, sem dúvida, estava nos Céus? (Nota do Revisor: Vide Epístola aos Galatas, cap. IV, vers. 4: “Mas quando veio o cumprimento do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à lei”. É evidente que Paulo de Tarso, nessa epístola, deixa bem claro que Jesus não é Deus. E se o Mestre foi nascido de mulher e sujeito à lei, é óbvio que nasceu com um corpo carnal e de modo comum e humano, como os demais homens. A citação de Paulo não admite outra conclusão).
PERGUNTA:- Somos de opinião que Jesus, apesar de toda sua capacidade espiritual e graduação angélica, gozava de uma assistência excepcional do Alto. Essa designação de “Filho de Deus” devia referir-se mais propriamente ao fato dele exercer uma atividade incomum na Terra. Não é assim?
RAMATÍS:- Não foi a condição excepcional de “Filho de Deus”, como um ser divino e acima da contextura humana dos terrícolas, nem o efeito de uma assistência privilegiada, o sustento de Jesus na sua obra redentora, mas a sua fé ardente e convicção inabalável em favor da humanidade terrena. Ele já possuía em si mesmo, por força de sua hierarquia espiritual, a ventura e a paz tão desejada pelo homem terreno. O êxito absoluto na sua tarefa salvacionista não dependeu de proteções celestiais privilegiadas, mas do seu amor intenso e puro, de seu afeto desinteressado e incondicional para com o homem! Essas virtudes expandiam-se naturalmente de sua alma e contagiavam quando o cercavam, assim como o cravo e o jasmim não podem evitar o perfume inerente à sua natureza floral também se desprenda sobre as demais flores do jardim!
Jesus não tinha dúvidas quanto à realidade do “Reino de Deus” a ser fundado entre os homens, porque esse ideal era manifestação espontânea de sua própria alma, já liberada da roda viciosa das encarnações planetárias. Nada mais o atraía para os gozos e os entretenimentos da vida carnal! Todo o fascínio e convite capcioso do mundo exterior não conseguiram aliciá-lo para o seu reinado “cesariano”, ou fazê-lo desistir daquele “Reino de Deus”, que ele pregava ao homem, no sentido de “salvá-lo” da ilusão e do cativeiro carnal.
A tarefa messiânica de Jesus desenrolava-se sem quaisquer hesitações de sua parte, sustentada pelo vivência superior do seu próprio espírito
A sua presença amiga e o seu semblante sereno impressionavam a todos os ouvintes, quer fossem os apóstolos, discípulos, simpatizantes, homens do povo ou até inimigos!
Assim como o calor revigora o corpo enregelado, sua presença semeava o ânimo e a esperança, fazendo as criaturas esquecerem os próprios interesses da existência humana. A fonte que mitiga a sede dos viandantes não precisa de “interferências misteriosas” para aliviar os sedentos; ela já possui o atributo refrescante como condição inerente à sua própria natureza. Jesus também era uma fonte sublime e abençoada de “água espiritual”, sempre pronta a mitigar a sede de afeto, de alegria e de esperança dos peregrinos da vida terrena, sem usar de armas agressivas, de moedas, de recursos políticos, de credenciais acadêmicas para divulgar a “Boa Nova”! Em vez de recrutar os seus discípulos entre os doutos e os ricos, escolheu-os entre os pescadores rudes e ignorantes, porém honestos e sinceros. Espírito magnânimo e sábio, embora humilde, ninguém poderia superá-lo ou vencê-lo no ambiente terráqueo, pois sua aura excelsa, radiante de luz, embora imperceptível aos sentidos dos que o cercavam, traçava fronteiras defensivas contra as más intenções e os maus pensamentos dos seus detratores.
PERGUNTA:- Porventura Jesus também evoluiu de modo idêntico aos demais homens, conforme vos referistes às suas encarnações noutros mundos?
RAMATÍS:- Jesus também foi imaturo de espírito e fez o mesmo curso espiritual evolutivo através de mundos planetários, já desintegrados no Cosmo. Isso foi há muito tempo, mas decorreu sob o mesmo processo semelhante ao aperfeiçoamento dos demais homens. Em caso contrário, o Criador também não passaria de um Ente injusto e faccioso, capaz de conceder privilégios a alguns de seus filhos preferidos e deserdar outros menos simpáticos, assemelhando-se aos políticos terrenos, que premiam os seus eleitores e hostilizam os votantes de outros partidos. Em verdade todas as almas equacionam sob igual processo evolutivo na aquisição de sua consciência espiritual e gozam dos mesmos bens e direitos siderais!
Jesus alcançou a angelitude sob a mesma Lei que também orienta o selvagem embrutecido para a sua futura emancipação espiritual, tornando-o um centro criador de novas consciências no seio do Cosmo. Ele forjou a sua consciência espiritual sob as mesmas condições educativas do bem e do mal, do puro e do impuro, da sombra e da luz, tal qual acontece hoje com a vossa humanidade! Os orbes que lhe serviram de aprendizado planetário já se extinguiram e se tornaram em pó sideral, mas as suas humanidades ainda vivem despertas pelo Universo, sendo ele um dos seus venturosos cidadãos.
PERGUNTA:- Alguns espíritas afirmam que a evolução de Jesus processou-se em linha reta. Podeis esclarecer-nos a esse respeito?
RAMATÍS:- Essa afirmação não tem fundamento coerente, pois a simples presunção de Jesus ter sido criado espiritualmente com um impulso de inteligência, virtude ou sabedoria inata, constituiria um privilégio de Deus a uma alma de sua preferência! Isso desmentiria o atributo divino de bondade e justiça infinitas do próprio Criador. Aliás, não há desdouro algum para o Mestre ter evoluído sob o regime da mesma lei e a que estão sujeitos os demais espíritos, pois isso ainda confirma a grandeza do seu espírito aperfeiçoado pelo próprio esforço. Nenhum espírito nasce perfeito, nem possui qualquer sentido especial para a sua ascese espiritual à parte; todos são criados simples e ignorantes, cuja consciência ou “livre arbítrio” se manifesta através do “tempo-eternidade”, mas sem anular o esforço pessoal na escalonada da angelitude.
E Jesus não fugiu a essa regra comum, pois forjou a sua consciência de Amor e Sabedoria Cósmica ao nível dos homens, lutando, sofrendo e aprendendo os valores espirituais no intercâmbio dos mundos materiais. Ele tornou-se um entre sublime porque libertou-se completamente das paixões e dos vícios humanos; mas não se eximiu do contato com as impurezas do mundo carnal! A sublimidade da flor não reside apenas na sua conformação formosa, mas acima de tudo, na sua capacidade de transformar detritos dos monturos em cálices floridos e odoríferos!
Assim como é impossível a um professor analfabeto ensinar os alunos ignorantes do ABC. Jesus também não poderia prescrever aos homens a cura dos seus pecados, caso ele não os tivesse vivido em si mesmo! Justamente por ele ter sofrido do mesmo mal, então conhecia o medicamento capaz de curar a enfermidade moral da humanidade terrena!... Jesus, alhures, já foi um pecador como qualquer homem do mundo; porém, ele venceu as ilusões da vida carnal, superou a coação implacável do instinto animal e seu coração transbordante de Amor envolve todos os cidadãos da Terra!
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